Entrevista/ “Empreender sem experiência exige muita coragem, dedicação e aprendizagem”

Teresa Silva, fundadora da Clínica Magna

Teresa Silva trocou o conforto da estabilidade pelo apelo do coração. Aos 50 anos, depois de quase três décadas na Administração Local e oito anos a lecionar no ensino superior, deixou o Funchal e rumou a Lisboa, onde encontrou na mudança o impulso para se reinventar. Foi dessa travessia pessoal, entre o desafio e o autoconhecimento, que nasceu a Clínica Magna, em Lisboa, um espaço holístico onde corpo, mente e espírito se reencontram.

Mestre em Gestão Financeira e com um percurso profissional sólido na Administração Pública, Teresa Silva nunca imaginou que o amor – e o impacto emocional de uma mudança de vida – a levasse a descobrir uma nova vocação. Entre formações em coaching, PNL, eneagrama e retiros de desenvolvimento pessoal, foi dando forma ao sonho de criar um espaço onde outros pudessem encontrar equilíbrio, cura e transformação.

Assim nasceu, em 2020, a Clínica Magna – Saúde e Terapias, no coração de Belém, em Lisboa. Um projeto que reflete a sua visão holística do ser humano e que acolhe quem procura um alívio físico, mas também um reencontro consigo mesmo. Nesta entrevista, Teresa Silva fala-nos da sua jornada de transformação, dos desafios de abrir um negócio, dos pilares da Clínica Magna e da importância de ouvir o corpo, o coração e a alma.

O que levou a abrir a Clínica Magna?

Abrir a Clínica Magna é uma decisão que surge de uma experiência pessoal significativa e desafiadora, onde a medicina convencional não conseguiu oferecer uma solução eficaz para um problema de saúde. Ao longo dessa jornada de superação e procura por alternativas, surgiu a perceção de que a saúde não deve ser tratada apenas de forma isolada, mas de maneira holística: corpo, mente e espírito.

A decisão de abrir uma clínica integrativa é, portanto, uma forma de partilhar com os outros as possibilidades de cura e bem-estar que foram descobertos ao logo dessa trajetória. A clínica nasceu de um desejo genuíno de acolher, ouvir e cuidar.

“O que nos distingue é a fácil acessibilidade para pessoas com deficiência, a especialização e experiência dos médicos e terapeutas, a multidisciplinaridade é o que nos distingue”.

O que distingue a Clínica Magna de outras existentes no mercado?

O que nos distingue é a a fácil acessibilidade para pessoas com deficiência, a especialização e experiência dos médicos e terapeutas e a multidisciplinaridade. A ótima localização dá acesso quer aos moradores do centro de Lisboa quer aos das áreas mais periféricas, podendo atrair pacientes que valorizam um ambiente excelente e menos urbano. O estacionamento gratuito e isto é um ponto a favor.

Que tipo de serviços oferecem?

Oferecemos a medicina convencional, consultas de antienvelhecimento, modulação hormonal e estética avançada. Disponibilizamos consultas de Psicologia, Psicoterapia, MTC, Medicina e massagens de Ayurveda, Osteopatia, Homeopatia, Nutrição Funcional, Reiki, Yoga e Yoga Restaurativo, Constelações familiares, testes de termografia, testes de epigenética.

Quem mais procura a clínica?

O público que procura a clínica é diverso, abrangendo diversas idades e classes sociais, mas, em geral, são pessoas que acreditam nas medicinas integrativas e têm resultados.

“A falta de cobertura pelos sistemas de saúde pode tornar as terapias integrativas menos acessíveis para algumas pessoas (…)”.

Quais tem sido os maiores desafios neste projeto?

Os desafios começaram pelas obras de adaptação do espaço para a clínica. Depois temos também a regulamentação e a legalização. Reunir profissionais qualificados de diferentes especialidades que partilhem a visão da clínica nem sempre é fácil.  Outro desafio tem sido o direcionamento do Marketing, focado na “educação” do público sobre os benefícios destas terapias.

A falta de cobertura pelos sistemas de saúde pode tornar as terapias integrativas menos acessíveis para algumas pessoas, sendo o desafio a fidelização de clientes com a prestação de serviços à altura das expetativas dos clientes.

Acredita que a saúde vai muito além do alívio de sintomas?

Absolutamente! Na medicina convencional (felizmente já não tanto), muitas vezes o foco é o tratamento dos sintomas, sem considerar as causas do problema, nomeadamente problemas, mentais, emocionais e até espirituais, que podem estar relacionadas com o sintoma físico (doença). Saúde não é apenas ausência de sintomas ou doença, mas um estado completo de bem-estar físico, mental, emocional e espiritual.

Considera que os portugueses estão cada vez mais sensibilizados para os problemas mentais e emocionais?

Sim. Esse aumento de consciência deve-se a vários fatores, como o maior acesso à informação, o crescimento das redes sociais. Além disso, a pandemia da Covid-19 teve um impacto significativo, trazendo à tona a importância da saúde mental e incentivando as pessoas a falarem sobre a ansiedade, a depressão, o burnout.

A desmistificação do acompanhamento psicológico e psiquiátrico também tem ajudado a tornar o tema menos tabu.

“(…) o impacto da vida moderna, com níveis elevados de stress, excesso de estímulos digitais, pressão e instabilidade social, também torna mais difícil a recuperação e o bem-estar emocional a longo prazo”.

Qual é hoje em dia o maior desafio no tratamento das perturbações mentais e emoções?

Um dos maiores desafios no tratamento dessas perturbações é o acesso a cuidados atempados. Além disso, o estigma ainda é um obstáculo significativo. Apesar dos avanços,  muitas pessoas ainda continuam a ter receio ou vergonha de procurar ajuda, seja por medo do julgamento social ou por falta de compreensão sobre a importância da saúde mental e emocional.

Outro desafio é a abordagem integrada do tratamento. Perturbações mentais e emocionais não podem ou devem ser tratadas apenas com medicação ou terapia isoladamente é necessário um plano que envolva hábitos saudáveis, exercício físico, meditação.

Por fim, o impacto da vida moderna, com níveis elevados de stress, excesso de estímulos digitais, pressão e instabilidade social, também torna mais difícil a recuperação e o bem-estar emocional a longo prazo.

Como é que aos 50 anos de vida e com uma jornada de quase 30 anos na Administração Local e oito anos a lecionar no ISAL se escolhe mudar de rumo de vida?

Foi um processo com grandes desafios, principalmente de saúde. Enfrentei medos, insegurança. Inclusivamente a opinião das pessoas que me rodeavam não era de incentivo, antes pelo contrário achavam que eu estava com uma vida consolidada (profissional, financeira), que era um ato de imprudência.

Deixar para trás todo o meu percurso exigiu coragem e muita resiliência. Cada passo nesta jornada foi marcado por amor, dúvidas e resistências, mas também por descobertas muito transformadoras.

De que forma a sua experiência anterior a ajudou a criar um negócio próprio?

Sabia que o caminho não seria fácil. Empreender sem experiência exige muita coragem, dedicação e aprendizagem. Cada desafio encontrado tornou-se numa oportunidade de crescimento.

“A burocracia pode ser um entrave e quando experiência não é muita há uma curva de aprendizagem significativa sobre gestão, marketing, finanças”.

É fácil ser-se empreendedora hoje em dia?

Ser empreendedor é muito desafiador, mas não é impossível. A burocracia pode ser um entrave e quando a experiência não é muita há uma curva de aprendizagem significativa sobre gestão, marketing, finanças. No entanto, existem mais recursos online que ajudam, bem como mentorias e o estabelecimento de contatos. Em Portugal está tudo muito caro.

Como vê a sua clínica dentro de 5 anos?

Daqui a cinco anos vejo a minha clínica como um espaço de referência, reconhecido pela qualidade de serviços prestados, pela credibilidade e pela confiança conquistada junto aos nossos pacientes. E sempre com o compromisso de continuar com uma equipa capacitada e um ambiente acolhedor, fortalecendo nossa posição como clínica idónea e qualificada.

Planos para o futuro da clínica?

Sobretudo, fortalecer a nossa presença no mercado, consolidando ainda mais a nossa credibilidade e confiança junto dos pacientes. Sendo sempre o objetivo fulcral priorizar a qualidade e o bem-estar dos nossos pacientes. A adoção de novas tecnologias fazem parte de planos futuros para otimizar o atendimento e inovação de tratamentos.

Tem planos para expandir o projeto a outras cidades portuguesas?

Expandir o projeto para outro território é um passo significativo que exige planeamento e estratégia. No entanto, pode eventualmente passar por estabelecer parcerias estratégicas na Ilha da Madeira, unindo forças com profissionais e instituições alinhadas com a visão da medicina integrativa.

Respostas rápidas:
Maior risco:
Não ter um planeamento sólido.
Maior erro: Subestimar a importância do Marketing e Divulgação da clínica.
Maior lição: Equilíbrio, entre terapeutas, serviço prestado, gestão e empatia.
Maior conquista: Criar um espaço seguro e confortável, onde as pessoas se sintam acolhidas e encontrem bem-estar e transformação.

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