Opinião

Empreender em incubadoras … Que tipo?

Patrícia Jardim da Palma, Escola de Liderança e Inovação do ISCSP*

Várias revistas nacionais e internacionais (como a prestigiada revista Forbes) têm apontado Portugal como um bom destino para investir e empreender. De facto, um olhar pelas estatísticas revela-nos que são muitas as start-ups que têm nascido no nosso país, contribuindo para a geração de inovação, postos de trabalho e riqueza.

A questão que se coloca, no entanto, prende-se com o local de incubação. De acordo com a Rede Nacional de Incubadoras, existiam em Portugal (em 2017) cerca de 130 incubadoras, número que tem crescido exponencialmente desde a criação da primeira incubadora, em 1987. Perante este cenário, que tipo de incubadora escolher para alojar o meu negócio?

São sobejamente conhecidos os benefícios das incubadoras, não apenas em termos do espaço para o alojamento dos novos negócios, dos serviços prestados (ex. financeiros, jurídicos, entre outros) ou da própria capacitação dos empreendedores. No entanto, a meu ver, as grandes mais-valias situam-se ao nível do ambiente empreendedor, que potenciam oportunidades para o desenvolvimento do próprio negócio. Uma das grandes vantagens assenta no conjunto de negócios e de empreendedores que estão alojados na incubadora, especialmente na interação e na comunicação que se estabelece entre eles.

Enquanto espaços de inovação e desenvolvimento é fundamental a partilha de conhecimentos, experiências e a entre-ajuda entre empreendedores. É deste clima informal e promotor de sinergias que nascem as alianças entre os negócios e as próprias parcerias. Silicon Valley é, aliás, uma excelente evidência disto mesmo, deitando por terra a máxima popular “o segredo é a alma do negócio!”.

Mas, mais importante ainda: é precisamente neste clima aberto, transparente e de confiança que ocorrem as mudanças e reajustamentos dos próprios negócios. Em conversa com vários empreendedores, tenho constatado que é fundamentalmente no primeiro ano de atividade – quando já alojados e entrosados no grupo de empreendedores que faz parte da incubadora – que os empreendedores “põem em prática” os grandes reajustamentos ao seu negócio. E são várias as razões – “chegar melhor” às reais necessidades dos clientes, cortar custos, rentabilizar os recursos ou diferenciar melhor em relação aos concorrentes – sempre com o objetivo de aumentar as vendas e ter êxito no negócio. É por estas mais-valias que as incubadoras têm ajudado tantas start-ups a superar o “vale da morte” (valley of death) e a prosperar.

É neste enquadramento que a escolha da incubadora ganha importância! Não apenas pelas vantagens que estão inerentes ao próprio conceito de “incubadora”, mas principalmente pelos negócios e pelos empreendedores que nela estão. É neste cenário que as incubadoras regionais, também denominadas de base-local ou municipais, ganham relevo. As regiões, enquanto espaços territoriais com identidade própria, detêm um conjunto de caraterísticas únicas e diferenciadoras. Na lógica do marketing territorial tão apregoado por Michael Porter, em Portugal as regiões tendem a diferenciar-se no plano nacional pelos seus recursos endógenos e mais-valias próprias – ex. azeite, cortiça, queijo da serra, património histórico, festividades, entre outros. Naturalmente que a incubadora localizada numa dada região tende a alojar negócios que reforçam os clusters diferenciadores dessa região, densificando ainda mais o tecido empresarial da região. Claro que a partilha de conhecimentos e experiências, o networking ou as alianças e parcerias dentro de um mesmo cluster é exponenciado!

Retomando a questão norteadora deste artigo, escolher a incubadora em função do cluster, i.e. do tipo de negócios e empreendedores instalados, é uma mais-valia pelo potencial de densificação e crescimento da própria start up!

* Coordenadora da Escola de Liderança e Inovação do ISCSP – Universidade de Lisboa

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Patrícia Jardim da Palma

Patrícia Jardim da Palma

Patrícia Jardim da Palma é doutorada em Psicologia das Organizações e Empreendedorismo e Professora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP- ULisboa). É coordenadora das Pós-graduações “Gestão de Recursos Humanos” e “Empreendedorismo e Inovação” deste mesmo Instituto. Como investigadora, é autora de vários artigos científicos, capítulos de livros e livros, entre os quais se destacam Paixão e Talento no Trabalho, Psicologia para Não Psicólogos: A Gestão à luz da Psicologia ou Gestão ou Liderança... Ler Mais..

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