Opinião

Educação e competências do futuro: estamos alinhados com o mercado de trabalho?

Cláudia Domingues, regional manager da Axians Portugal*

Há uma geração atrás, a competência escolar mais valorizada era o domínio das habilidades básicas de leitura, escrita e matemática.

Estas habilidades eram consideradas fundamentais para a formação de uma base sólida de conhecimento e para a capacidade de entender conceitos básicos em outras áreas do conhecimento. Nesta fase, considerávamos importante a memorização de fatos e informações. O sucesso escolar era frequentemente medido através do resultado de testes e provas, e os alunos, cujos resultados eram superiores, eram considerados os mais bem-sucedidos.

A sociedade moderna e o mercado de trabalho requerem hoje competências mais amplas e diversificadas, capazes de dar respostas aos desafios atuais e onde se privilegia a capacidade de entender e relacionar conceitos e ideias, desvalorizando a memorização de fatos e informações. O mercado de trabalho valoriza cada vez mais as chamadas soft skills, ou habilidades comportamentais, onde se incluem habilidades de comunicação, trabalho em equipa, inteligência emocional, pensamento critico, empatia e liderança, entre outras.

Os currículos escolares não conseguem por vezes acompanhar a natureza e a velocidade das mudanças, o que se materializa no fato de não conseguirem acompanhar as necessidades da sociedade e do mercado de trabalho. E se esses currículos não conseguiram dar a resposta necessária à capacitação ao nível das habilidades comportamentais, deparamo-nos agora perante o desafio de adaptação a uma nova Era, assente nos novos desafios da sociedade da informação.

Alinhada com a tendência dos últimos tempos e a título de exemplo, solicitei ao ChatGPT, uma ferramenta de processamento de linguagem natural, que assenta em modelos de inteligência artificial, que criasse um texto sobre a temática da sustentabilidade e a responsabilidade individual. O resultado é francamente bom e ao nível de um trabalho académico. Pelo que, a utilização deste tipo de ferramentas, minimiza ou coloca em causa algumas das habilidades acima referidas.

Nesta fase de mudança, somos tentados a olhar para estas ferramentas com o receio de quem sente que algumas das nossas competências estão a ser ameaçadas, que podemos ter aprimorado e desenvolvido habilidades agora postas em causa. Somos levados a questionar se as habilidades cujo desenvolvimento promovemos junto das nossas crianças e jovens estão efetivamente ajustadas à atual realidade.

Tal como aconteceu ao longo dos tempos, perante desafios disruptivos, surge o receio e a resistência a alterações de base. Se o nosso sistema educativo tinha já necessidade de dar um grande passo para acompanhar as competências requeridas pelo mercado de trabalho, depara-se agora com um salto gigante para acompanhar esta mudança de paradigma.

A nova forma de interagir com a informação, transporta-nos para uma nova dimensão de colaboração entre humanos e Inteligência Artificial e assume-se como uma oportunidade única de transformação. Um cenário propício, não só para o ajuste das competências prioritárias e a forma como as incutimos e as trabalhamos junto das gerações mais novas, mas também para que sejam automatizadas tarefas, quer seja ao nível da escrita, da resolução de problemas ou da análise de dados, fomentando processos mais eficazes e com reflexo no trabalho do futuro.

*Membro da Direção da Associação Portugal Agora

 


Cláudia Domingues é responsável pelo setor público e regional na empresa Axians, uma empresa tecnológica do Grupo Vinci, à qual se juntou em outubro de 2021. É licenciada e mestre em Engenharia Mecânica e dedicou os primeiros anos da sua carreira ao Ensino enquanto docente do Instituto Politécnico de Castelo Branco.

Liderou várias iniciativas no âmbito do associativismo, com forte ligação ao setor agroindustrial e ao empreendedorismo, tendo arrancado com a Associação Inovcluster na qualidade de diretora e, posteriormente, de presidente da Direção. Foi coordenadora dos projetos CATAA – Centro Tecnológico Agroalimentar, e CEi – Centro de Empresas Inovadoras, tendo integrado a Direção no mandato 2017-2021. Durante mais de uma década, coordenou vários projetos financiados no âmbito dos Fundos Comunitários, quer de âmbito nacional, transfronteiriço ou europeu.

Acompanhou e apoiou o desenvolvimento de vários projetos de empreendedorismo, incluindo a criação da Fábrica do Jovem Empreendedor e da Incubadora Industrial, em Castelo Branco, tendo liderado o processo de reconhecimento de Castelo Branco, pelo Comité Europeu das Regiões, enquanto Região Europeia de Empreendedorismo em 2021 e 2022. Acompanhou o desenvolvimento de vários produtos inovadores ligados ao setor agroalimentar e liderou inúmeras iniciativas de participação em eventos de promoção externa do setor agroalimentar português.

Desempenhou funções autárquicas na qualidade de vereadora do Município de Castelo Branco, entre 2017 e 2021, com os pelouros do Empreendedorismo, Inovação, Turismo e Desenvolvimento Económico. Durante o mandato coordenou vários eventos de dinamização económica, bem como várias infraestruturas de apoio ao tecido empresarial, tendo liderado a criação do espaço empresa, do GAPI – Gabinete de Apoio ao Investidor e do Gabinete Municipal de Inovação. Integra atualmente a Direção da Associação Portugal Agora.

Apaixonada por “fazer acontecer”, move-se por causas e desafios. É casada e mãe de dois filhos. É muito focada na definição de estratégias e na sua concretização e lidera naturalmente com empatia.

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