Opinião
Educação, competências e o futuro do trabalho: a importância do Ensino Profissional

Acaba de ser publicado o mais recente relatório da Fundação José Neves, que nos oferece uma leitura profunda sobre o estado da Educação, do Emprego e das Competências em Portugal em 2024. Os dados são inequívocos: estamos a assistir a uma transformação estrutural na forma como os portugueses acedem ao conhecimento e, com isso, ao mercado de trabalho.
O que antes era um percurso linear, é hoje um conjunto de oportunidades e alternativas — mais diversificado, mais acessível, e, acima de tudo, mais alinhado com os desafios de um mundo cada vez mais digital, tecnológico e imprevisível.
O ensino profissional, tantas vezes injustamente secundarizado, assume hoje um papel central na dinamização do mercado laboral. A preferência crescente por este modelo formativo, revelou-se um elemento estrutural para o nosso país e para a forma como a sociedade está organizada. Reflete a confiança dos jovens e das suas famílias numa via que garante competências práticas, relevância imediata e rápida inserção no mercado de trabalho. O mais recente Policy Paper intitulado: “A Expansão dos Cursos Profissionais em Portugal: Que impacto na educação, no emprego e no empreendedorismo?”, da Fundação José Neves reforça esta tendência: 72% dos diplomados do ensino profissional encontram emprego em dois anos, contra 56% no ensino científico-humanístico.O relatório diz-nos que “os cursos profissionais contribuíram para um sistema educativo mais inclusivo e para o desenvolvimento regional”1.
As empresas reconhecem este valor. No setor privado, temos vindo a integrar cada vez mais jovens oriundos do ensino profissional. Esta capacidade de adaptação e de resposta imediata às necessidades do mercado é, para mim, um dos grandes ativos da economia portuguesa atual que contribui para a respectiva transição digital e inovação nos mais diversos setores de atividade. Ou seja, o ensino profissional contribui para reforçar e mostrar a grande premissa do nosso grupo educacional: contribuir para a dinamização da economia onde as escolas e Universidades estão presentes.
Paralelamente, os Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP) têm-se afirmado como uma alternativa de excelência no ensino superior. Entre 2014/2015 e 2022/2023, o número de alunos inscritos passou de 395 para mais de 21 mil. É um crescimento notável, que reflete a necessidade – e a procura – por percursos curtos, eficazes e tecnologicamente orientados.
Mas não é só no ensino que a mudança é evidenciada, também as empresas estão a mudar como resultado de entrada de mão de obra mais qualificada e exigente. O relatório evidencia que as empresas mais digitalizadas são mais produtivas, pagam melhores salários e têm maior capacidade de inovação. A digitalização é, portanto, uma condição sine qua non para o sucesso no mercado e uma distinção da concorrência. No entanto, não podemos ignorar as disparidades existentes: as PME, que representam uma fatia significativa do tecido empresarial português, enfrentam desafios estruturais para acompanhar esta transição. Se queremos crescer enquanto país, temos de apoiar estas empresas, capacitando-as tecnologicamente e dotando-as dos recursos certos. E, uma vez mais, é através da educação que o podemos fazer. Neste sentido, também o Governo deve ter várias medidas de incentivo à respectiva modernização dos setores, como acontece com o PRR que devem ser executados com sucesso para cumprir o seu real objetivo. Mas é preciso mais.
Outra das realidades que o relatório nos mostra é o crescimento da exposição dos trabalhadores à Inteligência Artificial — especialmente entre os mais qualificados e entre as mulheres. Este dado deve merecer reflexão: a transição digital não pode deixar ninguém para trás. É imperativo garantir que os benefícios da tecnologia são distribuídos de forma equitativa e que a formação contínua é acessível a todos os departamentos e hierarquias. Estaremos nós a entrar numa estratificação da sociedade e a contribuir para acentuar mais desigualdades? Deixemos esta questão para outro artigo.
Enquanto CEO de várias instituições de ensino, olho para estes indicadores com entusiasmo, responsabilidade e estratégia. A principal missão de um Projeto Educativo deve ser contribuir para o desenvolvimento do país e diminuir as desigualdades existentes na sociedade. E penso que estamos no caminho certo, os dados revelam-nos isso mesmo. Vêm reforçar que o ensino profissional tem contribuído para dinamizar a economia portuguesa, para criar mais emprego e para inovar. Isto é o papel das escolas. Isto é o nosso papel.
O futuro do trabalho será, inevitavelmente, moldado por mais e melhor educação. E Portugal, felizmente, está a posicionar-se nesse caminho com recursos e percursos cada vez mais distintos e que podem chegar a todas e a todos. O ensino profissional não pode ser uma resposta para o futuro, ele já é o futuro do país. E não só. Ele é o futuro de muitos jovens e empresas cujo grande parte dos seus Recursos Humanos são formados nas nossas escolas. O ensino profissional não é uma segunda oportunidade. Ele é uma oportunidade.
Aos jovens que procuram o seu rumo, às escolas que ousam inovar, aos professores que inspiram, e às empresas que apostam no talento: este é o momento de agir com visão, coragem e compromisso. E aproveito para evocar a tão célebre frase num mês em que celebrou o Dia Internacional de Nelson Mandela, cito: “A Educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo”.
1 Cursos Profissionais: um motor para o emprego e empreendedorismo
Bibliografia:
Martins, P., Nunes, L., Thomas T. & Reis, P. (junho de 2025). A Expansão Dos Cursos Profissionais em Portugal. Fundação Francisco Manuel dos Santos. Disponível aqui.
Ambrósio, S., Aráujo, M., Cerejeira, J., Figueiredo, H., Sá, C. (2024). Estado da Nação_Educação, Emprego e Competências em Portugal, 2024. Fundação José Neves. Disponível aqui.