Opinião

A importância da perceção da felicidade dos colaboradores nas organizações no século XXI

Maria de Lurdes Neves, investigadora e docente no ISG*

“As espécies que sobrevivem não são as mais fortes, nem as mais rápidas, nem as mais inteligentes; são aquelas que se adaptam melhor à mudança” – Charles Darwin.

A tendência evolutiva do trabalho remete cada vez mais para a perspetiva de que o trabalho deixou de ser apenas uma obrigação e passou a ser inequivocamente mais um instrumento para atingir a satisfação e a realização pessoal. Consequentemente, as necessidades apresentadas pelos colaboradores, sobretudo após a geração millennial, vêm revolucionar todo o conceito do capitalismo e do significado atribuído ao trabalho.

A globalização, a maximização e a inovação tecnológica e, simultaneamente, o acesso cada vez mais globalizante e generalizado à informação e ao conhecimento mundial, tem originado uma mudança individual e coletiva na forma de estar e de pensar. Trata-se de uma mudança ao nível das relações e dos comportamentos sociais, mas também de uma autêntica reinvenção dos ambientes profissionais, da afirmação das necessidades individuais, da flexibilidade dos métodos de trabalho, da otimização da comunicação interpessoal que se estabelece e da supremacia dos estilos de liderança situacional, emocional e transformacional.

O estilo de liderança mais autoritário mais comum e potenciador do trabalho e das relações entre chefias e colaboradores, começa a ser extinto nas empresas e a dar lugar a estilos de liderança de carácter transformacional e em que a gestão da inteligência emocional das relações se torna cada vez mais importante. A perceção do bem-estar dos colaboradores como fator chave de sucesso para a sua motivação e produtividade, torna-se cada vez estruturante nas relações laborais e determinante para a motivação dos trabalhadores para o compromisso com as organizações.

Os novos estilos de liderança e comunicação organizacional alteraram definitivamente a forma como as organizações se relacionam com os seus colaboradores, como os colaboradores se relacionam entre si e como os colaboradores se relacionam com o exterior. Os conceitos como o capital humano, a cultura organizacional positiva, a perceção da felicidade nas organizações, o comprometimento ou a responsabilidade social corporativa, tornaram-se nos pilares básicos de funcionamento da organização e no posicionamento da mesma.

As organizações passaram a reconhecer e a assumir a necessidade de criar laços com os seus colaboradores e de criarem relações de cooperação, baseadas na confiança interpessoal e no empenho mútuos para um objetivo comum. O confinamento e a pandemia Covid-19 aceleraram este processo. As novas gerações X, Y e Z, procuram muito mais que do que um salário, e o conceito do salário emocional assume outra dimensão. Distingue-se a procura do sentimento de fazer parte de um todo da organização, enquanto elementos que se identificam com os valores e a missão da organização onde trabalham, para a qual contribuem e em que confiam. Cada vez mais se valoriza o equilíbrio entre vida profissional e a pessoal, numa harmonia que só assim faz sentido e que contribuam igualmente para a felicidade individual.

O trabalho deixou de ser apenas instrumental e, como tal uma obrigação e passou a ser indubitavelmente uma ferramenta para se construir o processo de bem-estar individual e satisfação pessoal. O colaborador do século XXI tornou-se mais exigente e são necessários vários atributos a uma boa organização para além da sua estabilidade económica, como a equipa que a integra, o perfil das pessoas que as representa, os valores, a comunicação e as estratégias de motivação e de incentivos à progressão.

A experiência positiva do colaborador tem início na escuta ativa, envolvimento, participação e na capacidade de cocriação colaborativa como incentivo à evolução. A vivência da partilha de normas, hábitos e valores de confiança que têm origem na direção e na gestão e se estendem a toda a organização contribuirá para a perceção de evolução por parte do colaborador e da organização e, consequentemente, poderá transformar-se num ganho estratégico.

Espera-se, pois, da cultura organizacional um papel agregador e consequentemente gerador de um maior empenho e produtividade. A perceção positiva do cliente de uma organização tem sempre início na perceção positiva da comunicação que estabelece com o colaborador porque é este o rosto e a essência da diferenciação dos valores da organização.

Ao nível externo, ganha cada vez mais relevância o desenvolvimento sustentável da sociedade não só económico, mas também ao nível humano, social, moral, ideológico e ecológico. Todos contribuem para o todo.

O poder individual está no momento presente e é determinante para o desenvolvimento individual, mas também coletivo do amanhã, da próxima semana, do próximo mês, do próximo ano, ou seja, do futuro da nossa vida e da nossa sociedade.

 

*Coordenadora Científica da Pós-graduação em Gestão e Administração Escolar ISG. Presidente do Conselho Geral do ISG – Instituto Superior de Gestão.

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