Opinião
Dinamizar o mercado de capitais

O Governo português prepara-se para implementar medidas que promovam o acesso ao mercado de capitais, consciente da sua importância para a alavancagem de investimentos e negócios das empresas.
Dispersar o capital na Bolsa é, de facto, uma alternativa válida às soluções de financiamento mais clássicas, como o crédito bancário. Entre as medidas previstas, estão, aliás, a simplificação de processos e a criação de incentivos fiscais para os investidores que apostem em ações e dívida de empresas portuguesas.
Mas atenção: o mercado de capitais é por natureza volátil, sobretudo em praças de menor dimensão, como a portuguesa. A instabilidade geopolítica e a incerteza provocada por fatores disruptivos como a transformação digital, as alterações climáticas ou os fluxos migratórios podem gerar receios entre os investidores e fazer disparar as vendas no mercado de capitais, levando a perdas de valor das empresas.
A este cenário de volatilidade soma-se a histórica falta de atratividade do mercado de capitais para as empresas portuguesas, que estão ainda muito dependentes do crédito bancário. Este ceticismo em relação à Bolsa é motivado, em boa medida, pelo desconhecimento que muitos empresários e gestores têm sobre o modo de funcionamento do mercado de capitais.
Claro que a conjuntura nacional e internacional dos últimos anos não foi de molde a gerar confiança quer entre as empresas, quer entre os investidores. Mas é sobretudo a falta de familiaridade com o mercado de capitais a justificar a contenção das empresas portuguesas, quando se trata de dispersar capital na Bolsa. Isto apesar de não faltarem, como sabemos, exemplos de empresas portuguesas que alavancaram o seu crescimento através do mercado de capitais.
De resto, não há capital público nem capital nacional suficientes para alavancarem o tecido empresarial, em especial as empresas intensivas em conhecimento, inovação e tecnologia. Este tipo de empresas exige investimentos muito elevados, em particular para financiar as atividades de I&D, e tem prazos de retorno mais longos. Por conseguinte, é necessário atrair investidores estrangeiros para o nosso ecossistema empreendedor, designadamente eliminando burocracia e oferecendo incentivos fiscais no acesso ao mercado de capitais.
Um dos principais problemas do nosso ecossistema empreendedor é, justamente, a falta de investidores com interesse nas start-ups e que compreendam a sua dinâmica própria. Por esse facto, as fontes de financiamento alternativas ao crédito bancário tradicional, como o mercado de capitais, não estão ainda suficientemente desenvolvidas em Portugal. Temos, portanto, de encontrar formas alternativas e inovadoras de financiamento, que sejam capazes de ir ao encontro das caraterísticas, necessidades e expetativas das start-ups.
Por outro lado, as empresas deviam estar abertas às várias possibilidades de financiamento, não excluindo liminarmente, como parece acontecer, o mercado de capitais. Até porque pode haver complementaridade entre a capitalização em Bolsa e os restantes meios de financiamento, designadamente o crédito bancário. Além disso, o mercado de capitais (ações e obrigações) tem soluções à medida de cada empresa, independentemente da sua dimensão. Importa, pois, que as empresas conheçam as caraterísticas, custos e exigências das várias plataformas da Euronext e confiem nas suas potencialidades.
* Associação Nacional de Jovens Empresários