Opinião

Na quarta revolução industrial, qual o futuro do “trabalhador”?

Patrícia Jardim da Palma, Escola de Liderança e Inovação do ISCSP*

Estamos a viver a Quarta Revolução Industrial, uma revolução marcada pelos avanços convergentes da digitalização massiva, da internet das coisas[1], da aprendizagem autómata[2], da robótica, da nanotecnologia ou da biotecnologia, que produz uma realidade em que as tecnologias fundem os mundos físico, digital e biológico.

No seu livro “A Quarta Revolução Industrial”[3], Klaus Schwab, fundador do World Economic Forum, refere que “estamos a viver uma revolução tecnológica que vai transformar a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos, numa escala de tal forma complexa, que esta transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes”. Perante este cenário, na esfera profissional uma questão fundamental se levanta: qual é o futuro do “trabalhador”?

São muitos os que adotam uma posição negativa e até catastrofista, considerando que a Indústria 4.0 vai extinguir postos de trabalho em massa. A título de exemplo, um relatório da PWC (Berriman, 2017)[4], prevê que cerca de 30% dos empregos serão substituídos por robots até 2030, só no Reino Unido! Ora, dado que a crescente automação é uma realidade (que veio para ficar), mais importante do que partilhar uma visão negativa, é promover uma abordagem construtiva e procurar agir no sentido de conseguir que esta revolução ajude e reforce o papel do “trabalhador”.

Uma análise atenta ao papel da digitalização e da crescente automação em diversas profissões[5], permite-nos perceber que as tecnologias convergentes da Indústria 4.0 têm contribuído para um aumento da rapidez de execução das tarefes, para a diminuição de erros ou para uma melhoria nos resultados. A título de exemplo, basta pensar na importância de ter informatizados e combinados todos os dados de cada utente/ paciente em tempo real, sempre que vamos a uma repartição de finanças ou a uma consulta médica. Por outras palavras, a Quarta Revolução tem estado a contribuir para um desempenho técnico mais rigoroso, rápido e conforme o “descritivo de funções”. Mas, os trabalhadores que fazem a diferença no seu posto de trabalho, vulgo Talentos, não se limitam a fazer estritamente o que está no seu “descritivo de funções” … Os Talentos agem por forma a tomar decisões mais rapidamente, falam diretamente com os interlocutores – sejam eles clientes, colegas de trabalho ou chefias – resolvem os problemas que surgem e pensam criativamente em formas novas de melhorar o seu trabalho … Em síntese, os Talentos aplicam as suas competências soft no seu trabalho: o relacionamento interpessoal, a inteligência emocional, a gestão de conflitos, a criatividade … E se a estas competências acrescentarmos a motivação e a auto-confiança para arrancar com um projeto novo, a proatividade para trabalhar e resolver os problemas ou a resiliência, estamos perante Talentos Empreendedores nas empresas!

São os Talentos Empreendedores que criativamente planeiam um novo projeto, decidem implementá-lo e resolvem os imprevistos e dificuldades. As novas tecnologias convergentes revelam-se muito úteis no apoio à pesquisa da concorrência, no apoio à enumeração das caraterísticas diferenciadoras, no apoio à pesquisa de soluções alternativas, … por outras palavras, as tecnologias desta Quarta Revolução revelam-se excelentes veículos de apoio ao Trabalhador, quando devidamente programadas.

Concluindo: na Quarta Revolução Industrial em que vivemos, os Trabalhadores assumem-se ainda mais como o fator diferenciador no seu trabalho, desde que atuem como Talentos e especialmente como Talentos Empreendedores!

* Coordenadora da Escola de Liderança e Inovação do ISCSP – Universidade de Lisboa

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[1] Internet of Things
[2] Machine Learning
[3] Livro traduzido para a língua Portuguesa em 2016
[4] Berriman, R. (2017). Will robots steal our jobs? The impact of automation on the UK and other major economies. PWC Report.
[5] Ex.: United States Department of Labour 

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Patrícia Jardim da Palma

Patrícia Jardim da Palma

Patrícia Jardim da Palma é doutorada em Psicologia das Organizações e Empreendedorismo e Professora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP- ULisboa). É coordenadora das Pós-graduações “Gestão de Recursos Humanos” e “Empreendedorismo e Inovação” deste mesmo Instituto. Como investigadora, é autora de vários artigos científicos, capítulos de livros e livros, entre os quais se destacam Paixão e Talento no Trabalho, Psicologia para Não Psicólogos: A Gestão à luz da Psicologia ou Gestão ou Liderança... Ler Mais..

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