Opinião
Das hard skills às power skills
Recentemente tive a oportunidade de participar num webinar sobre Competências para a Empregabilidade no Presente e no Futuro. Um tema muito atual e que, do meu ponto de vista, urge conscientizar para agir.
Competência, segundo o Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa, é a qualidade de quem é capaz de resolver determinados problemas ou de exercer determinadas funções, ou simplesmente, aptidão. O conceito pode ser entendido como o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, a conjugação entre o que somos, os conhecimentos que adquirimos e a forma como somos capazes de o comunicar.
Todos concordamos que, para se ser um bom gestor, não basta ter muitos conhecimentos em gestão ou finanças. É necessário ter a habilidade e a atitude certas para saber conduzir uma equipa em direção aos objetivos.
Na era pré-digital privilegiavam-se as competências técnicas, as Hard Skills, o conhecimento e o saber-fazer estavam no topo da lista das empresas quando procuravam profissionais para os seus quadros, nomeadamente a formação académica, a escola frequentada e a nota final de curso. Recentemente, as empresas perceberam que estes requisitos não eram suficientes e começaram a valorizar algumas competências comportamentais, as Soft Skills. Nos anúncios de emprego surgiram outros requisitos, tais como: capacidade de relacionamento interpessoal, capacidade de comunicação, capacidade de organização e gosto pelo trabalho em equipa.
Face às atuais exigências do mercado de trabalho, à velocidade das mudanças a que estamos sujeitos, outras competências começam a ganhar forma e a ser procuradas pelos empregadores. São as chamadas competências de empoderamento ou Power Skills. Saber aliar as competências técnicas e as comportamentais torna as pessoas poderosas, diferenciando-as e fazendo-as capazes de lidar com situações diversas, de promover mudanças e de implementar estratégias. As Power Skills acabam, então, por ser a junção das Hard Skills com as Soft Skills.
Estas Power Skills começam a ganhar relevância para os empregadores, nomeadamente: criatividade, autogestão, capacidade para resolução de problemas, pensamento crítico, adaptabilidade, liderança, proatividade, empatia, colaboração, comunicação.
Um profissional tem de saber interpretar cenários críticos e usar a criatividade para encontrar soluções para os desafios. Com a pandemia, e a obrigatoriedade de passarmos a desenvolver a nossa atividade em teletrabalho, esta necessidade ainda se tornou mais evidente. Diria que, no passado recente, estas competências foram fundamentais para a continuidade da atividade das empresas.
As transformações digitais têm tido, e continuarão a ter, uma evolução muito rápida que obriga a uma enorme adaptabilidade das competências de todos os profissionais. O que hoje é verdade, amanhã poderá já não ser. Daí a exigência de todos termos uma formação base sólida e apostarmos numa aprendizagem contínua.
Precisamente, três destas competências profissionais são referidas pelo World Economic Forum como sendo a que todos os jovens precisam de ter em 2023: capacidade para resolução de problemas, colaboração e adaptabilidade. Para além desta constatação, e de acordo com a OCDE, as competências críticas em 2030, tendo em conta os empregos emergentes no início da próxima década, serão: pensamento crítico, capacidade para resolução de problemas, capacidade para falar em público, comunicação eficaz e persuasão e programação e análise de dados.
Como atualmente podemos ter apenas uma ideia de quais serão os empregos do futuro e o que tecnicamente estes irão necessitar, e também face à escassez de talentos, temos de facilitar e capacitar que todos os profissionais tenham acesso às ferramentas para se adaptarem às novas formas de trabalho. É imprescindível que todos sejam capacitados e que tenham as competências adequadas para as profissões emergentes, e isto, claro, independentemente da idade ou de qualquer outra característica pessoal.
Porque não são apenas as empresas que procuram novas competências nas suas contratações; são também os jovens que estão a entrar no mercado de trabalho que têm uma visão diferente. Estes são mais exigentes com a empresa com a qual pretendem trabalhar – quanto mais qualificados, mais exigentes se tornam -, não só no aspeto remuneratório, mas, sobretudo, em termos de flexibilidade, conciliação da vida pessoal com a profissional, desafios e projetos que os entusiasmem. Para além de questionarem também se a empresa tem a preocupação com a sustentabilidade. É, portanto, essencial que as empresas sejam recetivas aos novos colaboradores que trazem inputs diferentes.
Concluindo, diria que esta evolução não é só tecnológica; também é ao nível das pessoas. E citando Brian Herbert: “A capacidade para aprender é um dom; a habilidade para aprender é uma competência; a vontade de aprender é uma escolha”.
*Diretora de Desenvolvimento e Organização da RHmais
Nota: Texto escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 em vigor desde 2009.