Opinião

Criar trabalho: o ambicioso make in India

Eugénio Viassa Monteiro, professor da AESE-Business School

Admiro decisões difíceis que podem levar um país a uma situação muito melhor, após trilhar um caminho exigente.

As estruturas económicas indianas ficaram marcadas pelo ‘socialismo’ de tipo soviético, nada amigo do empreendedor. Assim se entende por que os empresários indianos saíram e vingaram nos EUA, UK, Ásia, Médio Oriente, com sucesso e reconhecimento, criando lá trabalho e riqueza.

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make in India

Está a progredir o make in India, programa para criar muitos postos de trabalho para os jovens que vão chegando ao mercado, à razão de 12-15 milhões por ano, para trabalhar na indústria e serviços. É a indústria que pode criar mais jobs pouco qualificados por unidade de investimento, ao contrário das TI -Tecnologias de Informação e a I&D -Investigação e Desenvolvimento, que só criam postos qualificados e poucos.

A presença impactante do Primeiro Ministro (PM) Modi em países ricos levou à projeção de uma imagem moderna e dinâmica da Índia. Ajudou a diáspora indiana, em geral muito prestigiada, ocupando altas posições nas empresas, no ensino, finanças, função pública, hospitais, etc., dos EUA a sentir-se orgulhosa do seu país.

Mais importante, com resultados não imediatos, mas que prevejo profundos, é a sua ação de PM para desenvolver o país, criando fontes de trabalho para todos, não se limitando a discursos de boas intenções, mas empenhando-se com ideias práticas para resolver as dificuldades emergentes, reformando a legislação e o complicado sistema impositivo, para serem mais uniformes ao longo do país e mais amigos do empreendedor.

Ajustar a legislação

Modi tem a maioria no Lok Sabha (Câmara Baixa), o que facilita aprovar leis, para corrigir as incongruências passadas. Contudo, elas devem ser homologadas pelo Rajya Sabha (Câmara Alta) controlada pelo partido do Congresso, o que não tem sido fácil, pois a agenda e interesses dos partidos são divergentes.

Muita coisa que repelia investimentos internos ou externos na indústria, está a ser mudada: a formação técnico-profissional está a ser muito ampliada; a uniformização da taxa sobre produtos e serviços a transacionar, designada por GST- Goods and Services Tax, já está aprovada e falta ser levada à prática. A participação estrangeira no capital das empresas sofreu bons avanços. Agora só falta a economia entrar na linha da retoma, tanto aumentando o consumo interno, como as exportações.

skill India

O make in India vem acompanhado do skill India, para as capacitações que o país precisa, em todos os trabalhos de construção civil, de eletrónica, de mecânica automóvel, de têxtil, etc. Haverá que treinar 300 milhões de jovens até ao ano de 2025, para todo o conjunto de ocupações imagináveis. É um bom desafio suscitar instituições que deem boa preparação e treino; e oxalá que todos os Estados da Índia vão pela linha de suscitar iniciativa privada para responder às necessidades, porque é sempre bem mais eficaz.

startup India

Para se incentivar a criação de novas empresas, está o startup India. O entusiasmo inicial levou ao lançamento de grande quantidade de start-ups; como é habitual, quando certo tipo de empresas singra velozmente, umas ganham a vanguarda e afirmam-se. As demais tendem a ser absorvidas ou a desaparecer, é a ordem lógica… As que ficam valorizam-se, fazem sonhar a juventude. Depois do ‘banho frio’ pós-euforia, os empreendedores ganham mais maturidade e prudência, ao entrar numa nova aventura.

No ano de 2015, os EUA tinham mais de 47 000 start-ups tecnológicas e a Índia estava em 3º lugar com 4 200, com Bangalore a destacar-se. Considerando as tecnológicas e não-tecnológicas, a Índia estava em 5º lugar mundial, com 10 000 start-ups.

As start-ups gozam na Índia de certas facilidades, como: isenções fiscais nos 3 primeiros anos, rapidez na sua criação (está-se a tentar que o encerramento seja rápido); e o registo de patentes de invenção terá custos suavizados. Aparecem start-ups em todos os domínios de atividade: na agricultura, na indústria e também nos serviços.

O turismo é uma atividade que cria muito trabalho: dispõe de boa infraestrutura – hotéis, transportes aéreos, caminhos de ferro, autocarros, autoestradas, internet, telefone, hospitais, monumentos antigos que os britânicos não puderam levar, pessoas conhecedoras da história dos monumentos e disponíveis para a partilhar; boa restauração e espetáculos, museus, souvenirs, roupas étnicas, táxis, etc. É uma grande oportunidade para se conhecer a Índia!

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Eugénio Viassa Monteiro

Eugénio Viassa Monteiro

Eugénio Viassa Monteiro, cofundador e professor da AESE, é Visiting Professor da IESE-Universidad de Navarra, Espanha, do Instituto Internacional San Telmo, Seville, Espanha, e do Instituto Internacional Bravo Murillo, Ilhas Canárias, Espanha. É autor do livro “O Despertar da India”, publicado em português, espanhol e inglês. Foi diretor-geral e vice-presidente da AESE (1980 – 1997), onde teve diversas responsabilidades. Foi presidente da AAPI-Associação de Amizade Portugal-India e faz parte da atual administração. É editor do ‘Newsletter’ sobre temas da Índia,... Ler Mais..

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