Corporate venture capital: quem é quem na Europa

Entre as diversas formas de financiamento para as start-ups, o capital de risco é possivelmente o que provoca mais dúvidas juntos dos empreendedores. Porém, além dos fundos de capital de risco “tradicionais”, existe uma outra vertente menos conhecida: os fundos corporativos de capital de risco.

O conceito capital de risco corporativo (CVC – Corporate Venture Capital) é pouco conhecido e compreendido dentro da própria família do capital de risco, mas pode ser vantajoso para as start-ups face a outras opções de financiamento. Através dele as start-ups podem obter apoio para começar ou expandir o negócio e ainda têm a vantagem de ter um parceiro importante de referência no mercado, com experiência e know-how valiosos.

Porém entre a teoria e a prática há uma longa distância. Algumas das principais empresas europeias desenvolveram os seus próprios departamentos de investimento de risco para se manterem a par das inovações e procurar oportunidades de negócio. Como exemplo, algumas dessas empresas têm no seu portefólio start-ups que alteraram profundamente o setor onde atuam com a N26, a Bolt (anteriormente Taxify), a Lyft ou Monzo.

Para conhecer melhor esta área, o site Sifted.eu elaborou uma lista com os principais corporate venture capital na Europa, com base nos dados da Dealroom. Para preparar a listagem foram analisados os dados dos principais investidores corporativos europeus pelo número de rondas de investimento nas quais participaram e o valor global do fundo.

Allianz X: Lançado em 2016, é o braço de investimento de risco da seguradora Allianz. Foca-se essencialmente em empresas digitais dentro do vasto ecossistema dos seguros, trabalhando em mercados verticais como fintech, saúde, mobilidade, dados e segurança digital. Com 15 investimentos diretos em cinco continentes, o Allianz X concentra seu fundo total de mil milhões de euros em mobilidade, saúde digital, gestão patrimonial e de reformas, data intelligence e cibersegurança. Entre os seus principais investimentos estão diversas start-ups como a empresa de microsseguros BIMA, o unicórnio asiático Go-Jek, o marketplace de capitais americano C2FO e o neobank alemão N26.

AXA Venture Partners: Integrada na multinacional francesa de seguros, a AXA Venture Partners investe num portefólio diversificado desde o financiamento semente em start-ups inovadoras nos setores de software empresarial, fintech, tecnologia para o consumidor, saúde digital e outras áreas relevantes para o mercado dos seguros. A AXA Venture Partners dispõe de um fundo de 600 milhões de dólares (536 milhões de euros) e atua globalmente. Para uma start-up, a relação com este fundo de investimento permite o acesso a um mercado potencial de 107 milhões de clientes, em 64 países, dada a ligação à seguradora AXA, além de aconselhamento de gestores de risco e conselheiros financeiros.

Barclays UK Ventures: Este fundo corporativo de capital de risco tem entre os seus financiamentos mais revelantes a Uber, a start-up de serviços financeiros Square, a Zayo ou a empresa de realidade virtual Blippar. Criado em 2018, o Barclays UK Ventures pretende impulsionar o desenvolvimento do setor bancário, através de um mix funcional que inclua tecnologias disruptivas, como inteligência artificial ou blockchain e design intuitivo, para tornar a interação com o cliente mais pessoal e relevante. O foco do financiamento centra-se em duas áreas principais: ligar comunidades e preparar novos segmentos de negócio em propostas financeiras e não financeiras.

Daimler Technology & Venture: Este fundo corporativo de capital de risco de origem alemã, em parceria com centros de investigação em Silicon Valley, Pequim ou Tóquio, investe não só no setor automóvel como também em soluções e serviços de mobilidade. Um dos seus investimentos mais notórios foi a Bolt (ex-Taxify). A sua estratégia é diversificada já que tanto apoia start-ups, como empresas mais estabelecidas que investiguem soluções nas áreas de transportes, veículos autónomos, serviços partilhados (como por exemplo carsharing ou ridehailing), mobilidade elétrica, fintech e insuretech.

M Ventures: Este é o “braço” de financiamento de capital de risco da Merck e apoia, essencialmente, empresas ligadas à saúde, ciências da vida, materiais avançados, entre outros. Este fundo, que foi criado há uma década  com apenas 14 milhões de euros para investir em start-ups de saúde, tem agora uma abrangência mundial e um capital de 300 milhões de euros para financiar empresas de qualquer área de negócio. O fundo tem uma abordagem holística do financiamento pois considera que a ciência está a convergir para uma ligação entre várias disciplinas e a transcender as fronteiras tradicionais entre medicina, biologia, química, desenvolvimento de materiais e tecnologias. Por isso, o seu portefólio de investimentos é diversificado e inclui start-ups de transportes como a Bolt e a Grin Scooters, mas também empresas de saúde como a Prexton Therapeutics e a Padlock Therapeutics.

Next 47: Esta firma de capital de risco faz parte do universo Siemens e foi criada em 2016 para investir em empresas que “mudem a forma como as pessoas vivem e trabalham”, descreve o próprio fundo. Com escritórios na Europa e atividade mundial, a Next47 permite, através da ligação ao conglomerado Siemens, o acesso a mercados internacionais, a uma base global de clientes e uma vasta experiência técnica. A sua forma de financiamento é distinta pois em vez de uma entrada formal no capital a empresa apoiada, a Next47 investe gradualmente.

Novartis Ventures: O fundo de capital de risco da Novartis, parte da multinacional farmacêutica suíça, investe em start-ups de todas as fases e dispõe de um capital de 800 milhões de dólares (715 milhões de euros). O foco são investimentos em empresas de biotecnologia e biofarmacêutica. Com mais de 40 empresas no seu portefólio, a Novartis Ventures procura apoiar empresas que desenvolvam soluções com impacto clínico e novas ciências proprietárias, em todo o mundo, e inclui unicórnios como a Proteus Digital Health e a Galera Therapeutics.

Novo Ventures: Criado em 1999, o Novo Ventures investe em empresas privadas e públicas que desenvolvem medicamentos, dispositivos médicos e diagnósticos inovadores. O Novo Nordisk Foundation é o único investidor deste fundo, mundialmente reconhecido como o parceiro de capital de risco para as start-ups na área das ciências da vida. Desde a sua criação, o fundo já investiu 1,6 mil milhões de euros em 146 empresas, com saídas positivas em 52 dos casos, através da alienação para grandes farmacêuticas e empresas de dispositivos médicos ou de IPO. O leque de empresas apoiadas inclui a CoLucid Pharmaceuticals, a Gloucester Pharmaceuticals, a Galera Therapeutics e a ObsEva.

Robert Bosch Venture Capital: O fundo de capital de risco corporativo do Grupo Bosch foi criado em 2007, atua a nível mundial, com escritórios em diversos pontos do globo. Tem como objetivo investir e fazer crescer empresas que pretendem criar o futuro espaço de vivência humana, seja em casa, no trabalho ou na mobilidade. Já este ano o fundo aumentou o seu capital para 200 milhões euros. Investe, essencialmente, em start-ups com relevância estratégica para a Bosch. O apoio mais notável foi no unicórnio britânico Graphcore, mas o portefólio inclui nomes como a Movidius, a AutoAI e a Actility.

Sabadell Venture Capital: Esta é a divisão de capital de risco do banco espanhol Sabadell. Este fundo corporativo tem como finalidade apoiar start-ups nas fases iniciais de criação, apostando em financiamentos semente e série A. Sem um setor de atuação específico, o fundo do Sabadell pretende posicionar-se como parceiro financeiro de start-ups e integrar projetos inovadores e transformadores. As start-ups Red Points, CornerJob, Bud e Curve são algumas das que foram financiadas.

Santander Innoventures: Outro banco espanhol, o Santander, lançou o fundo com um plafond de 100 milhões de dólares (89 milhões de euros) em 2014. O foco de atuação centra-se nas regiões onde a “casa-mãe”, o banco Santander, tem maior expressão: a Península Ibérica, Reino Unido, EUA e América Latina. O fundo Santander Innoventures apoia essencialmente a inovação no ramo fintech, incidindo em mercados verticais como pagamentos, empréstimos, aconselhamento em e-Investment, análise de riscos e oferta digital de serviços financeiros. Atento à movimentações e inovações no mercado fintech, o Santander Innoventures investiu nos principais players como IZettle, Kabbage, Tradeshift, Creditas e Curve.

Swisscom Ventures: O departamento de capital de risco da maior empresa de telecomunicações da Suíça, foi criado em 2007 e está centrado em empresas de tecnologias. Por ano, apoia entre seis a oito empresas com investimentos entre 30 a 50 milhões de dólares (26 a 44 milhões de euros).
A sua mais recente capitalização atingiu 176 milhões de euros, será usada para investir em empresas na Suíça e internacionalmente, em especial noutros países europeus, Israel e Estados Unidos. O fundo tem como estratégia de investimento usar 40% em infraestruturas de telecomunicações e tecnologias de informação, outros 40% em inteligência artificial e os restantes 20% em cibersegurança. O fundo entra principalmente em investimentos série A e entre as empresas apoiadas conta-se a Quantenna Communications, uma start-up que desenvolve soluções Wi-Fi e a empresa suíça de healthtech Symetis, entre outros.

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