Entrevista/ “Corporate Startup”: como definir uma estratégia de inovação

Para podermos aproveitar nas empresas a capacidade empreendedora dos seus colaboradores, as novas metodologias baseadas no “lean startup” e o relacionamento com o ecossistema empreendedor que as rodeia, de forma a fortalecer e acelerar o processo de inovação, é essencial ter uma estratégia de inovação. Neste artigo irei apresentar, passo-a-passo, como definir essa estratégia.
O primeiro passo consiste em desenhar o modelo de negócio da empresa, seguindo a abordagem proposta pelo Alex Osterwalder no seu livro “Geração de Modelos de Negócio”. Para quem ainda não conhece esta abordagem recomendo a leitura deste livro, começando pelas primeiras 78 páginas, disponíveis .
O segundo passo implica analisar o macro contexto em que o modelo de negócio, desenhado no passo anterior, se insere. Esta análise consiste em fazer um levantamento das Forças e Fraquezas do modelo, bem como o levantamento das Ameaças e Oportunidades que o mesmo enfrenta. Em relação a estas últimas, é importante estudar as tendências do mercado e da indústria em que a empresa se posiciona, procurando descobrir quais os novos negócios, mercados e tecnologias que mais impacto poderão ter no futuro do negócio, visitando, por exemplo, sítios na Internet como o www.trendhunter.com ou www.springwise.com. O principal objetivo deste passo é identificar temas estratégicos que possam vir a ser desenvolvidos nos passos seguintes.
O terceiro passo inicia-se com o levantamento e caracterização de todos os projetos de inovação a decorrer na empresa. É frequente existirem projetos que já estão a decorrer há vários anos, sem resultados concretos e que, entretanto, perderam valor estratégico, dados os desenvolvimentos dos mercados e tecnologias. São os chamados projetos “zombie” que consomem recursos, mas que perderam o seu valor e por isso devem ser cancelados.
É também importante classificar cada um dos projetos em termos do seu impacto estimado no negócio da empresa, determinando quais os que correspondem a inovações incrementais, inovações transformacionais e inovação disruptivas.
Neste artigo entende-se inovações incrementais como aquelas que envolvem evoluções em termos de novas funcionalidades dos produtos ou serviços já existentes na empresa e destinados aos segmentos de mercado que a empresa conhece bem e já está a servir. Inovações transformacionais são aquelas que implicam a criação de novos produtos para os segmentos de mercado em que a empresa já atua, enquanto que as inovações disruptivas abordam novos segmentos de mercado.
O quarto passo é aproveitar os resultados do passo anterior para determinar qual o peso dos projetos de inovação em cada uma das tipologias de inovação, procurando descobrir quais os desvios existentes em relação a uma carteira de projetos de inovação equilibrada, seguindo por exemplo uma distribuição de 70% de projetos incrementais, 20% de projetos transformacionais e 10% de projetos disruptivos.
O quinto passo dedica-se a definir as prioridades estratégicas de inovação, de forma a assegurar a distribuição adequada dos projetos de inovação pelas diferentes tipologias de inovação e identificar quais os temas estratégicos a serem submetidos aos processos de inovação, de forma a aproveitar novas oportunidades e proteger o negócio de ameaças futuras. É também neste passo que se definem quais os resultados pretendidos dos processos de inovação que a empresa deverá implementar, incluindo alterações ao modelo de negócio existente, lançamento de novos produtos ou serviços, identificação de projetos disruptivos, etc.
O sexto passo contempla a elaboração da Tese de Inovação da empresa. Este documento descreve quais as tendências, ameaças e oportunidades que maior impacto poderão ter no sucesso da empresa, nos prazos de 3, 5 e 10 anos. Explica como a empresa poderá aproveitar as tendências mais importantes e define quais os temas estratégicos a serem desenvolvidos através dos processos de inovação e os objetivos a atingir nos prazos acima referidos.
O sétimo passo consiste na elaboração do plano de inovação, identificando para cada um dos temas estratégicos, e respetivos objetivos, a melhor tática de os alcançar, a responsabilidades e os indicadores de desempenho a utilizar.
Como veremos num próximo artigo, existem diferentes táticas ou tipos de programas de inovação que uma empresa pode implementar, dependendo do seu grau de maturidade em termos de inovação, da ambição dos seus objetivos e dos recursos que pretenda alocar aos programas de inovação.