“Faturámos menos, porque o sistema não emitiu bem a fatura!”, “Não terminámos o projeto ainda, porque o sistema esteve em baixo!”, “Queria fazer a compra, mas a aplicação estava indisponível!”, “Vai ter de esperar, que o sistema hoje está lento”…
Quantas vezes já ouvimos nas nossas empresas, nos jornais ou nas redes sociais estas afirmações?
Por um lado, é o comprovativo de que o mundo digital e de sistemas de informação estão plenamente enraizados no nosso quotidiano pessoal e empresarial. Por outro, não são mais do que sinónimos de que há uma desculpabilização fácil de muitas ineficiências das organizações, pois se “faturámos menos, foi porque vendemos menos” ou “se não terminámos o projeto, foi porque não planeámos bem” ou “se não fizemos a compra online, foi porque não quisemos ir à loja física, telefonar ou enviar um simples mail, etc.” ou ainda “se não atendemos o cliente que tínhamos à nossa frente, foi porque não estávamos com paciência para o ouvir”.
Em termos práticos, é claro que a tecnologia é apenas uma peça que potencia o negócio (venda, produção, compra ou atendimento a clientes), mas não faz o negócio pelas pessoas.
A tecnologia é um aliado para qualquer estratégia ou tática empresarial, mas não é o decisor máximo da empresa. A tecnologia é uma peça que acelera processos e potencia as capacidades humanas, não é quem faz acontecer. Pessoas e processos são a base essencial, onde a tecnologia pode trabalhar.
Quando uma equipa está desmotivada, não é a tecnologia que resolve. Quando há um erro no cálculo de uma fatura, não é a tecnologia que resolve. Quando há um ataque informático à empresa e não há um sistema de defesa implementado, não é a tecnologia que decidiu não adquirir o sistema de defesa. Portanto, tem de ser claro que quando vemos e ouvimos falar que houve um problema informático, temos também de entender que a raíz do problema não é informático, mas um problema de gestão e de negócio.
Importa que a gestão e o negócio entendam esta base. São eles quem mandam na empresa e as áreas tecnológicas são aliados estratégicos para alavancar as suas opções estratégicas.
Não há dúvida que a transformação digital numa organização traz claros benefícios de eficácia e eficiência internos e externos, pelo que quanto mais dependente da tecnologia estão os processos de negócio de uma organização, mais criterioso tem de ser o processo de avaliação de continuidade do negócio, incluindo a avaliação de impacto de negócio e de alternativas para prestar o serviço ou entregar o produto ao cliente final.
E continuidade de negócio não quer dizer que a alternativa ao processo tecnológico, seja outro processo tecnológico. E é aqui que as organizações se esquecem de “como era antes da tecnologia”. Muitas ficam sideradas de que perante um problema num sistema informático de vendas da loja, a loja tem de parar, perdendo receita, baixando os índices de satisfação de clientes, entre outros impactos ao negócio.
Importa, por isso, assumir que a culpa não é do informático. Uma cultura, uma visão, uma decisão ou um investimento são definidos e criados pela gestão da empresa. A tecnologia (ou o informático) é um aliado do negócio e da sua continuidade, mas que requer condições e investimentos para poder ajudar adequadamente no negócio da empresa e minimizando alguns dos erros humanos.