Opinião
“Economia portuguesa – o que se perspetiva para 2023!”

A evolução da economia portuguesa para 2023, ainda que tendo consciência de que a incerteza não deixa de se reforçar e condicionar qualquer projeção para horizontes temporais mais longos, parece apontar para uma forte e generalizada desaceleração da atividade económica, variando o grau em que é considerada pelas diferentes projeções.
Não obstante o enorme salto registado na inflação, a economia portuguesa registou uma performance razoável em 2022, influenciada pelos efeitos de base dos dois anos anteriores, ganhando margem de manobra, designadamente em termos orçamentais, que lhe poderá ser útil no imediato e nos tempos mais próximos. Mas não foge à regra na evolução projetada para este ano 2023, embora se mantenha entre as economias da zona euro que menos desaceleram, continuando a convergência com a média, ainda que num contexto de crescimento medíocre de conjunto, tendo em conta os constrangimentos estruturais que persistem em condicionar as potencialidades do nosso tecido empresarial – a inovação, a eficiência da administração pública, a progressão de rendimentos, a própria ausência de definição de orientações estratégicas – que comprometem o desenvolvimento sustentado do país.
PIB e crescimento económico
Apesar da atual tendência inflacionista, Portugal fechou 2022 com uma taxa de variação do PIB positiva.
O crescimento entre 6,8% e 6,5%, superior aos 4,9% estimados no OE22, com o efeito da pandemia a sobrepor-se ao efeito da inflação e às disrupções nas cadeias de valor. Em 2023, antecipa-se um abrandamento da economia, com as mais recentes previsões a antever um crescimento positivo, mas de apenas 0,7% a 1,3%. Entre 1996 e 2021 Portugal cresceu em média 1,2% ao ano.
Segundo o Banco de Portugal, entre 2023 e 2025 o PIB crescerá, em média, 1,8% ao ano. Este crescimento surge no seguimento de ter tido a 6ª/27 maior retração do PIB em 2020, com uma recuperação abaixo da média da UE em 2021 (16ª/27).
De acordo com as previsões da CE a economia portuguesa terá um crescimento médio anual entre 2020 e 2025 de 1,3%.
A economia alemã será a que menos cresce (0,3%), em contraponto com a Irlanda que apresenta o maior crescimento (6,8%). O PIB per capita em 2022 foi de 23 mil euros por habitante, abaixo do PIB per capita da Lituânia, Estónia, República Checa e Eslovénia. De acordo com a previsão da CE o PIB per capita português, em Paridade de Poder de Compra (PPC), passará da 19ª posição em 2022 para a 20ª posição em 2024 no conjunto da União Europeia.
Inflação
Com o valor no OE23 (7,4%) a ser demasiado otimista, atendendo à persistência da subida de preços e aos dados entretanto divulgados.
Em 2023 a inflação continuará acima do objetivo de estabilidade (de 2%) do BCE. Os países com maior proximidade e dependência energética à Rússia apresentam os maiores aumentos de preços, com França a ser o menos prejudicado devido à sua capacidade de energia nuclear. As previsões da inflação na União Europeia, de acordo com a Autumn Forecast da CE, apontam para valores de 7% em 2023 e de 3% em 2024, ficando ainda acima da meta do BCE de 2%. O BCE aumentou 4x as taxas de juro em 2022, antecipando a continuidade dos aumentos em virtude da elevada inflação que persiste e se manterá acima de 2%, pelo menos até 2024.
Taxa de desemprego
Em 2023 a taxa de desemprego deverá manter-se constante, ou apresentando uma ligeira redução. Apesar dos impactos da pandemia, a taxa de desemprego tem-se mostrado resiliente, mantendo-se em torno dos 6%, com as previsões a apontar para a manutenção da estabilidade em 2023. Em 2022 a taxa de desemprego de Portugal encontrou-se abaixo da média europeia, sendo a 15ª mais baixa dos 27 países membros.
Saldo orçamental
Em 2023 é esperada uma continuidade do Saldo Orçamental, aproximando-se este de 0%, ficando abaixo de 1%, em continuidade com o cenário de elevada inflação.
Dívida Pública
A Dívida Pública teve uma redução em 2022, descendo de 125,5% do PIB em 2021 para um valor em torno dos 115% em Em 2023 a tendência de diminuição mantém-se. A taxa de inflação beneficiará a Dívida Pública, que em termos reais perderá valor. Contudo, o efeito do aumento das taxas de juro irá certamente deteriorar as condições de financiamento no curto-prazo. Após o máximo histórico de 138,3% no 1º trimestre de 2021, a Dívida Pública iniciou a sua tendência de diminuição.
O crescimento mundial tem abrandado, em consequência do cenário atual de inflação, de uma política monetária mais rígida, de taxas de juro mais elevadas, da escalada dos preços energéticos, da diminuta atualização de salários e do declínio da confiança.