Opinião

“Como seria o empreendedorismo, se houvesse igual acesso de oportunidades para homens e mulheres?”

Teresa Fiúza, vice-presidente executiva da Portugal Ventures

Sabemos que organizações mais inclusivas, com maior diversidade de género, conseguem em média ser mais produtivas e obter melhores resultados.

Sabemos igualmente que existem mais mulheres do que homens na Europa, mas menos mulheres empreendedoras e em posições de liderança. Em Portugal, só um quinto dos lugares em Conselhos de Administração das empresas são ocupados por mulheres e esta é também uma realidade que se verifica nos negócios de cariz familiar, onde os homens tendem a assumir a continuidade do negócio.

Há ainda um longo caminho a percorrer para fechar o gap da paridade de género, mas é notório o esforço que tem sido feito para que as mulheres ocupem o seu lugar na vida ativa, nos centros de decisão e de liderança.

Quando comecei a trabalhar, há 30 anos, o mundo dos negócios era dominado por homens. Muitas vezes era a única representante do género feminino em reuniões e eventos. Hoje ainda acontece, mas muito menos.

Ajudou-nos o sentido geral de necessidade de conciliação da vida pessoal e profissional, a implementação de políticas promotoras da paridade de género nas funções cimeiras das organizações, os grupos de debate à roda do tema, com o envolvimento da sociedade, as organizações de networking, a forma como as mulheres passaram a encarar e praticar o apoio mútuo.

Acredito que as condições para todas as mulheres melhorarão se houver mais representantes nos lugares de liderança, a dar voz às suas necessidades e preocupações. A unidade fortalece-nos.

Parte das nossas restrições são autoimpostas: em geral, temos mais medo, mais aversão ao risco, internalizamos mais as críticas e as falhas, e isso pode resultar em estagnação nas nossas carreiras e até nas nossas vidas.

Temos muitos casos inspiradores, de mulheres fabulosas que têm sabido trilhar o caminho de sucesso e puxar outras para que lhes sigam as pisadas. Procuremos inspiração, seguramente todas nós conhecemos mulheres para as quais olhamos com orgulho e como modelos a seguir, utilizemos a nossa energia para lá chegar.

O papel do mentoring com vista a ajudar a progredir na carreira é fundamental. Procurem uma mentora (ou mentor) para que vos ajude, com a sua própria experiência, a encurtar o caminho para os objetivos pretendidos. Peçam a alguém que admirem para assumir esse papel e a resposta, na maioria das vezes, será muito positiva e entusiasta.

Não deixem que os afazeres do dia a dia vos afastem dos eventos de networking. O que se ganha, em termos de troca de experiências e boas energias, compensa em múltiplos o tempo investido, muitas vezes depois de um longo e cansativo dia de trabalho.

Toda a vida trabalhei em banca e empresas financeiras, e mais recentemente em capital de risco. Sendo o ecossistema empreendedor constituído por pessoas tipicamente mais jovens, seria de esperar uma maior paridade de género.

Constata-se, no entanto, que em Portugal poucas são as investidoras em lugares de topo e, na carteira de participadas da Portugal Ventures, apenas 22% têm mulheres como CEO. Fica a pergunta: como seria o empreendedorismo, se houvesse igual acesso de oportunidades para homens e mulheres?

Lema de vida: nunca deixar de fazer aquilo em que acreditamos;
Maior risco/erro: não ouvir a nossa voz interior;
Melhor ideia/conquista: encontrar um(a) mentor(a), criar laços de confiança mútua e desenvolver um trabalho profundo e contínuo;
Maior lição: não olhar pelo retrovisor: aprender com os erros, erguer a cabeça e seguir em frente.


Nota biográfica: 51 anos, casada, mãe de dois filhos rapazes, encho-me de energia nos meus momentos em família, com os meus amigos e não abdico de momentos comigo própria. Apologista dos equilíbrios na vida: trabalhar muito, sem nunca deixar de ter tempo para os meus e para mim. Dar atenção a quem necessita e não ter receio de a pedir, quando me faz falta

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