Opinião

Como ser inteligente num mundo inteligente

Luís Madureira, partner da ÜBERBRANDS

No último artigo abordei o tema da Augmented Intelligence como a abordagem para aumentar a nossa performance e a das nossas organizações. No presente artigo vou aprofundar a primeira parte da questão, ou seja, como nos mantemos inteligentes num mundo cada vez mais inteligente?

Quando começámos a usar calculadoras, a nossa capacidade de cálculo mental diminui. Com o aparecimento do GPS, a nossa capacidade de orientação diminuiu. Ter a capacidade de encontrar o que queremos na internet à distância de uma busca diminui a nossa capacidade de memorizar. O que nos vai acontecer no longo-prazo com o aumento do uso da Inteligência Artificial? Se seguirmos o padrão dos avanços tecnológicos anteriores a resposta imediata parece ser que a nossa inteligência vai diminuir.

Provavelmente a inteligência como a conhecemos e definimos hoje certamente irá diminuir. No entanto, o nosso cérebro tem uma capacidade incrível de se adaptar, a chamada neuro plasticidade, plasticidade neuronal ou plasticidade cerebral. O sistema nervoso central adapta-se a nível estrutural e funcional ao longo do desenvolvimento neuronal quando o sujeito é exposto a novas experiências. Esta característica única faz com que os circuitos neuronais sejam maleáveis, sendo a base da formação da memória e da aprendizagem, bem como na adaptação a lesões e eventos traumáticos ao longo da vida (Wikipedia, 2023).

É devido a este facto que os taxistas de Londres têm a memória muito mais desenvolvida que todos nós. O seu cérebro adaptou-se à necessidade de terem de saber todas as ruas e vielas de Londres sem consultar um mapa ou usar GPS. Na prática, a perda de inteligência como a conhecemos hoje será substituída por outros tipos ou formas de inteligência. Assim como aprendemos a funcionar com folhas de cálculo informatizadas o que permitiu ganhos de eficiência significativos.

A grande questão é que tipo ou faculdades temos de aprender. E como podemos aprendê-las? E como aprender antes dos demais para mantermos a nossa vantagem competitiva no mercado de trabalho? Quem o fizer com certeza irá acrescentar mais valor às organizações a que pertence. E isso contribuirá para a melhoria da sociedade e país em que vivemos. Em suma, estamos perante um “strategic inflection point”, ou seja, um ponto no tempo onde uma pessoa, uma organização, ou um país, têm de fazer uma mudança fundamental para manter ou capitalizar no momentum que trazem. Eu atrever-me-ia a dizer que esta pode ser a maior oportunidade das nossa vidas.

Para quem anda distraído com o tema do ChatGPT, a última moda na conversa de café, poderá ter perdido a noção de que o assunto é o mesmo que vinha de trás, ou seja, a Transformação Digital. Na sua essência estamos outra vez a falar de como usar a tecnologia da melhor forma para endereçar as necessidades da sociedade – consumidores, clientes, empregados, ou qualquer outro stakeholder da organização. O grande desafio é o “Intelligence Gap” – a diferença entre o que precisamos saber e o que na realidade sabemos – ser muito grande e crescer a uma velocidade vertiginosa.

Em Competitive Intelligence refere-se a este tema como um dilema “Red Queen”. De forma muito sucinta, temos de aprender melhor e mais depressa para manter a nossa posição. Se quisermos ganhar relevância então teríamos de aprender antes de todos os outros.

Num mundo cada vez mais VUCA e exponencialmente rápido, focado na competitividade e no poder económico, a chave para o sucesso final é a educação. A nossa capacidade de aprender qualquer coisa, de forma rápida e eficiente é a chave. Para isso temos todos de praticar mais Competitive Intelligence, ou seja, processar os dados que temos ao nosso dispor, perceber a evolução das tecnologias, aprendê-las antes dos demais, e usá-las para ganhar vantagem como pessoas, profissionais, organizações ou mesmo sociedades.

Pessoas e organizações têm de desaprender o que deixa de produzir valor e aprender novas capacidades que permitem sustentar ou aumentar a geração de valor. Tudo isto, em antecipação e de uma forma estratégica. Em resumo, aprenda Competitive Intelligence, ou melhor, Augmented Competitive Intelligence.

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Luís Madureira

Luís Madureira

Luís Madureira é fundador da ÜBERBRANDS, uma boutique de consultoria estratégica que ajuda organizações e os seus líderes a navegar o ambiente competitivo com sucesso. É Chairman da SCIP Portugal e Fellow do Council of Competitive Intelligence Fellows desde 2018. É keynote speaker e professor premiado a nível internacional (PT, US, FR, ES, SI, UK), nomeadamente pelos alunos do Ljubljana MBA por duas vezes consecutivas. Acumula o cargo de Global Competitive Intelligence Practice Lead da Presciant e previamente da OgilvyRed,... Ler Mais..

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