Augmented Intelligence

A “febre do ChatGPT” tomou de assalto as nossas conversas e as redes sociais. Os “Data Scientists de bancada” revelaram o seu know-how à pressão e regurgitaram aquilo o que o próprio ChatGPT lhes respondeu. E daí? Daí que ficámos todos um pouco mais desinformados num mundo já em Information Overload – o ponto onde temos mais informação do que aquela que conseguimos processar. Mas não era exatamente este excesso de dados e informação que o ChatGPT vinha resolver?

Confusos? O ChatGPT é um Large Language Model (LLM) que foi treinado e otimizado para interagir em formato de diálogo. Foi desenvolvido pela OpenAI cuja missão é garantir que a AGI (Artificial General Intelligence) beneficia toda a humanidade. De forma grosseira, AGI refere-se a uma forma de inteligência artificial que resolve qualquer tipo de desafio. O oposto são os algoritmos treinados especificamente para jogar Xadrez (documentário) ou AlphaGo (documentário).

Devo dizer que partilho do entusiasmo com a AI. De tal forma que decidi em 2017 fazer um doutoramento na área de Gestão de Informação na NOVA Information Management School (IMS). O objetivo era estudar como a AI me poderia ajudar a aumentar e escalar as capacidades do SMINT©. Este sistema de Competitive Intelligence em tempo real de alerta antecipado de oportunidade e ameaças, que temos vindo a desenvolver desde 2012, foi implementado a nível mundial na UPS com resultados muito acima das nossas melhores expetativas. Porque é que explico tudo isto? Porque é um exemplo de empreendedorismo através do uso de novas tecnologias aplicado a problemas fundamentais da humanidade ou de negócio. E é exatamente este processo que é necessário exaltar e replicar em novas áreas. Em resumo, encontrar um problema e resolvê-lo de uma forma mais eficiente criando valor acrescentado (a um menor custo ou com maiores benefícios).

O ChatGPT traz benefícios incríveis e a um custo inferior. A capacidade de encontrar dados e informação, assim como classificar e processar a mesma, trazem ganhos de eficiência fantásticos. No entanto, esta eficiência pode trazer alguns problemas que gostaria de realçar.

O ChatGPT tem restrições óbvias como o facto das suas fontes irem apenas até 2021, ou de ser um algoritmo genérico – como tal, não especializado em nenhum assunto em particular. É necessário também salientar que sem um conhecimento aprofundado do que é um algoritmo e como funciona, será difícil tirar o máximo partido desta tecnologia. Aliás, como todas as outras, seja a internet ou um motor de busca como o Google Search.

O meu principal ponto é que sem a intervenção humana, nomeadamente no saber que pergunta fazer, ou na contextualização da resposta, podemos cair em várias armadilhas. Uma destas armadilhas é o alinhamento pelo menor denominador comum, i.e., usando as mesmas fontes, as respostas serão similares. Como vão as organizações garantir a sua diferenciação, seja na análise do ambiente competitivo, seja no desenho da sua estratégia, seja na sua execução? E como vão alavancar a criatividade dos seus colaboradores?

Ao contrário do que por vezes se pensa, o ChatGPT pode vir a ser o motor para o reconhecimento da individualidade e criatividade humana. É aqui que entra a Augmented Intelligence enquanto forma de aumentar e melhorar o desempenho humano através de um modelo de parceria entre pessoas e AI. Sistemas de Augmented Intelligence usam AI para suportar a tomada de decisão, completar tarefas, alavancando a AI para desenvolver insights, conhecimento e recomendações, permitindo, no entanto, a integração da criatividade humana, do senso comum e de melhor julgamento.

Como nota final aconselho que experimentem e apliquem o ChatGPT na prática a um problema que tenham identificado e que conheçam bem. Irão realizar o desafio que é “falar” com um computador e como tal aprender a ser mais assertivos e comunicar melhor.

Em resumo, o ChatGPT possibilita tornarmo-nos melhores profissionais se soubermos usar o pensamento crítico para desenvolver Augmented Intelligence para melhorar as nossas decisões e aumentar a performance das organizações.