A questão que encabeça este artigo é também o título de uma inteligente obra de Jared Diamond, reputado geógrafo, historiador e escritor norte-americano, publicada em 2019. Este livro, aclamado de forma unânime, transformou muitas das perceções e entendimentos sobre as causas da ascensão (e quedas) das nações, em especial nos momentos de encruzilhadas históricas e crises profundas.

Dando ênfase à dimensão socio-psicológica (e consolidando-a com as tradicionais análises históricas e geostratégica), o texto de Diamond revela os fatores que influenciam a maneira como tanto as nações como os indivíduos reagem aos grandes desafios – e são ou não bem-sucedidas nesses momentos-chave. Com exemplos concentrados nos últimos 200 anos, aborda os casos da Finlândia, Alemanha, Japão, EUA, Indonésia, Austrália e Chile.

Segundo o autor, existem fatores-chave para uma renovação bem-sucedida. Enumero os que me parecem mais relevantes: os valores e a identidade nacional, as condicionantes geopolíticas, o consenso nacional quanto à crise que se vive e quanto aos problemas concretos, a autoavaliação honesta e realista da situação, o apoio de outras nações, a experiência histórica na resolução de outras crises e a aceitação da responsabilidade nacional para que se mude.

Estes fatores são, claro, diferenciados de país para país. Na sua essência explicam como, por exemplo, a Finlândia passou de um país atrasado produtor de madeira e se tornou uma das nações mais ricas, inovadoras e com melhor qualidade de vida do mundo, no pós-guerra; como o Japão, na segunda metade do século XIX, se tornou um dos países mais desenvolvidos do mundo, ombreando com as grandes potências europeias, após séculos de isolamento; ou como a Austrália passou de uma ex-colónia penal britânica para se afirmar como a grande referência de desenvolvimento humano no hemisfério sul.

Jared Diamond não aborda Portugal. Mas muitas das suas análises, conclusões e lições seriam de extrema utilidade ao Portugal de 2023, que procura (ou já desistiu de procurar?) o seu lugar neste volátil e desafiante mundo globalizado. Para efetuarmos uma formulação estratégica do que “queremos ser” e partir da estratégia à ação, num projeto de responsabilidade multigeracional. Atrevo-me a uma rápida avaliação do País, à luz dos critérios de Diamond.

Sobre identidade nacional… Somos um país com uma identidade forte, com mais de 800 anos de história, pautada com momentos gloriosos de forte impacto no mundo; devemos ultrapassar uma certa esquizofrenia, que nos faz alternar de momentos de euforia para o conformismo e a apatia, misturados com o saudosismo e um sebastianismo (a espera pelo “homem providencial”) pouco saudável.

Sobre condicionantes geopolíticas… Não poderíamos estar mais abençoados pela geografia, na confluência das rotas de três continentes, com acesso ao mar, rodeados de democracias amigas e integrados na tranquilidade e segurança da União Europeia; há que capitalizar estes “ativos”!

Sobre a autoavaliação realista da situação (e consequente aceitação da responsabilidade nacional para que se mude) … Falta-nos uma noção do quanto estamos a perder em termos de competitividade global, fruto do “estatismo”, burocracia e corporativismo atávico que nos assola; anestesiados pelo sucesso do nosso turismo e do nosso imobiliário, que equilibram a economia, não temos o impulso para reformar em áreas fundamentais como a Administração Pública, a Educação ou a Justiça ou para lançar alicerces em dimensões-chave do futuro como são as migrações e a atração de talento. Falta-nos, em suma, autoconsciência, consenso nacional (baseado na mobilização da sociedade civil) e vontade de mudar.

Um posicionamento de “melhor País para viver e trabalhar na Europa” devia ser a nossa ambição. Em prol do presente e, principalmente, das futuras gerações. Não deveríamos esperar por momentos de crise (ainda mais) profunda para o fazer. Podemos e devemos começar já.

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Sobre o autor

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Carlos Sezões é atualmente Managing Partner da Darefy – Leadership & Change Builders, startup focada na transformação organizacional/ cultural e no desenvolvimento do capital de liderança das empresas. Foi durante 10 anos Partner em Portugal da Stanton Chase, uma das... Ler Mais