Entrevista/ “Gostamos de nos assumir como uma fundação start-up”

Carlos Oliveira, presidente Executivo da Fundação José Neves

Em seis meses, a Fundação José Neves já investiu mais de 320 mil euros no pagamento de propinas a 45 alunos que se candidataram ao programa ISA FJN. Até ao final do ano quer chegar aos 2,5 milhões de euros, mas antes prepara-se para lançar uma plataforma “que vai permitir a todos os portugueses promoverem o seu bem-estar e equilíbrio emocional”, revela Carlos Oliveira.

Em setembro do ano passado, José Neves, fundador da Farfetch, anunciava a sua fundação com dois projetos para financiar a formação de portugueses: o ISA FJN, um programa de financiamento de formação em instituições parceiras e em cursos pré-aprovados, e o Brighter Future, uma plataforma que reúne informação na área de Emprego, Educação e Competências.

A aposta na educação e no desenvolvimento de competências está no centro da Fundação José Neves (FJN) desde o início que conta com mais dois empreendedores de sucesso em Portugal: Carlos Oliveira e António Murta.

Em entrevista ao Link To Leaders, Carlos Oliveira, antigo Secretário de Estado do Empreendedorismo e ex-CEO da Mobicomp, faz um balanço dos seis meses de atuação daquela que considera ser “uma fundação start-up” e revela novidades para este ano: “Vamos em 2021 lançar um programa que vai permitir a todos os portugueses promoverem o seu bem-estar e equilíbrio emocional. Uma ferramenta científica que combina tecnologia e psicologia, que irá promover a ligação entre as pessoas e a partilha de experiências de uma forma enriquecedora e motivadora. Um programa digital à distância de uma ligação à internet e de um clique”.

Ajudar a transformar Portugal num país do conhecimento é a vossa missão. Seis meses depois de estarem a funcionar, esse objetivo está a cumprir-se?
A Fundação José Neves tem como ambição criar impacto sistémico e de longo prazo, pelo que só realmente conseguiremos avaliar os resultados do que estamos a fazer com mais tempo. Contudo, temos também o objetivo de gerar impacto imediato, mesmo que a marca do trabalho de hoje se vá fazer sentir sobretudo nas gerações vindouras. Estamos focados na educação para as competências do futuro, com a missão de ajudar a transformar Portugal numa sociedade do conhecimento e colocar o país na liderança do desenvolvimento humano.

Estamos muito satisfeitos com a adesão dos portugueses, mas também com a resposta de muitos parceiros ao que estamos a fazer. Vemos com muito agrado que um dos quatro estudantes que completaram a sua formação com o apoio das bolsas reembolsáveis ISA FJN tenha já sido incorporado nos quadros de uma empresa, que já tenhamos recebido cerca de 600 candidaturas ao programa ou ainda que milhares de portugueses já tenham consultado informação sobre educação, competências e emprego no Brighter Future, com o objetivo de tomarem decisões informadas e baseadas em factos .

Quais os pilares base da vossa atuação?
A FJN tem quatro pilares de atuação: Promover o Acesso à Educação, Pntenciar as Competências do Futuro, Projetar a Educação do Futuro, Despertar a Consciência Individual. São quatro pilares complementares e que servem de âncora à atuação da FJN. Têm como objetivo promover o acesso generalizado à Educação ao longo da vida, através da criação de soluções inovadoras para os portugueses, apoiar as novas gerações através da aposta na requalificação e na educação ao longo da vida de quem já está no mercado de trabalho (upskill e reskill), preparar Portugal para se transformar numa sociedade de conhecimento, adequando a aprendizagem à evolução e à velocidade do futuro e despertar para o equilíbrio entre as dimensões intelectual e espiritual do conhecimento, fortalecendo o lado humano, moral e ético de cada cidadão.

“O mais importante para nós é garantir que ninguém fica para trás e que todos podem participar. É urgente o país mudar para um modelo assente numa sociedade em que o conhecimento é a base do desenvolvimento”.

Assumem-se como uma Fundação disruptiva e impactante. De que forma?
Gostamos de nos assumir como uma fundação start-up. O mais importante para nós é fazer acontecer, impactar, medir o impacto e adaptarmo-nos rapidamente aos resultados que vamos avaliando. Queremos ter impacto sistémico no longo prazo e impacto em indivíduos no curto e médio prazo. Somos uma fundação de ação, como se pode verificar pelo modelo de ação que temos vindo a implementar, em particular com os dois programas que lançámos no final de setembro. O mais importante para nós é garantir que ninguém fica para trás e que todos podem participar. É urgente o país mudar para um modelo assente numa sociedade em que o conhecimento é a base do desenvolvimento.

Quantas pessoas a fundação já apoiou e através de que mecanismos?
Para ajudar os portugueses a apostarem na educação e a fazerem as melhores escolhas para o seu futuro, a fundação disponibiliza dois programas. Um deles é o ISA FJN, no qual está a investir 5 milhões de euros até ao final de 2022 para apoiar os portugueses no acesso à educação, através das bolsas reembolsáveis ISA FJN. O outro programa é o Brighter Future, uma plataforma inovadora em Portugal, com informação sobre Emprego, Educação e Competências, que ajuda os portugueses a tomarem decisões sobre o seu futuro profissional e académico.

Em apenas 6 meses já recebemos mais de 600 candidaturas e já atribuímos 45 bolsas ISA FJN, o que corresponde a um investimento superior a 320 mil euros em propinas pagas pela fundação. Alguns dos bolseiros já terminaram inclusive a sua formação. No que diz respeito ao Brighter Future, a plataforma tem vindo a ganhar o seu espaço enquanto fonte de informação relevante sobre educação em Portugal e já mereceu a visita de milhares de portugueses que pretendem tomar decisões informadas sobre a sua vida profissional e académica.

“As doações anuais de José Neves têm como objetivo cobrir a componente operacional da fundação e também o capital do programa ISA FJN. Até ao final de 2022 o montante de doações deverá ultrapassar os 20 milhões de euros”.

Quais as verbas envolvidas na fundação?
O compromisso assumido pelo José Neves passa por doar dois terços dos seus ativos ao longo da vida à fundação. As doações anuais de José Neves têm como objetivo cobrir a componente operacional da fundação e também o capital do programa ISA FJN. Até ao final de 2022 o montante de doações deverá ultrapassar os 20 milhões de euros.

A Fundação tem vindo a firmar parcerias com várias empresas. Esse é o caminho para implementar a vossa missão?
O estabelecimento de parceiras com diversas entidades e organizações assumiu um papel determinante desde o arranque da FJN. São muitos os parceiros que hoje fazem parte do universo da fundação, que partilham o nosso objetivo de transformar Portugal numa sociedade do conhecimento e que caminham connosco para apresentarmos aos portugueses as melhores soluções para os ajudar nas suas carreiras profissionais e académicas.

Para o programa ISA FJN, são já 26 as instituições de ensino parceiras, e mais de 131 os cursos elegíveis à data de hoje. Para o desenvolvimento tecnológico dos nossos programas, contamos com a Microsoft, a Outsystems e a Contentful. Para o programa Brighter Future temos o INE, o IEFP, a DGES e as Universidades do Minho e de Aveiro.

E qual a recetividade das empresas à vossa proposta, à vossa missão?
Sentimos por parte de todos os parceiros, formais e informais, uma dedicação e um entusiasmo muito grandes. Eles constituem parte ativa dos projetos da fundação e o seu compromisso é muito importante para que a FJN possa atingir os objetivos a que se propõe. A fundação sabe desde a sua génese que para conseguir executar a sua missão terá que fazer parcerias.

A saúde mental é uma das vossas mais recentes apostas para este ano. Que medidas e iniciativos estão a planear para melhorar a saúde mental dos portugueses?
A saúde mental e o bem-estar são um tema muito importante já hoje e que no pós-pandemia vai assumir ainda maior relevância. Vamos em 2021 lançar um programa que vai permitir a todos os portugueses promoverem o seu bem-estar e equilíbrio emocional. Uma ferramenta científica que combina tecnologia e psicologia, que irá promover a ligação entre as pessoas e a partilha de experiências de uma forma enriquecedora e motivadora. Um programa digital à distância de uma ligação à internet e de um clique. No segundo trimestre iremos revelar publicamente o programa.

“Tenho estado ligado a muitos projetos de give back, não só na minha passagem no governo, mas também com a criação da InvestBraga e Startup Braga e agora a FJN. São todos projetos ambiciosos em que podemos fazer a diferença”.

Depois de ter estado ligado ao empreendedorismo com funções governamentais, como está agora a viver este novo desafio?
Tenho estado ligado a muitos projetos de give back, não só na minha passagem no governo, mas também com a criação da InvestBraga e Startup Braga e agora a FJN. São todos projetos ambiciosos em que podemos fazer a diferença.

Esta fundação leva o nome do fundador da Farfetch, a tecnológica de vendas de  produtos de luxo. Como se cruzam a atividade empresarial e a filantropia?
O José Neves já teve a oportunidade de abordar publicamente o porquê da criação da sua fundação, que é independente da Farfetch. É um projeto pessoal do próprio José Neves, que já afirmou sentir-se grato pelo percurso da sua vida e entende ser este o momento certo para partilhar com os portugueses a sua gratidão. As duas entidades são totalmente independentes, podendo naturalmente colaborar em iniciativas quando entendido conveniente por cada uma delas.

Como é que a fundação espera fazer a diferença neste período económico e social delicado? Este é também um tempo de oportunidades? Em que medida?
O mundo está a mudar rapidamente e Portugal e os portugueses têm de preparar-se hoje para estas mudanças. As rápidas e profundas transformações a que assistimos acentuaram-se ainda mais com o Covid-19. Está comprovado que o nível de educação revela-se decisivo para a competitividade de cada país e para a sua afirmação no plano nacional e internacional. A Fundação José Neves entende que só com a aposta na Educação e com a permanente atualização de conhecimento os portugueses poderão preparar-se para os desafios do futuro e adaptar-se às exigências de um mercado de trabalho em que a mudança é cada vez mais veloz.

Os resultados a alcançar no curto, médio e longo prazo, sobretudo no potencial de conhecimento das gerações vindouras, dependerão em muito das decisões que forem tomadas hoje. A fundação está a fazer a sua parte, cumprindo aquela que é a sua missão. Através dos ISA FJN, um apoio direto para apoiar os portugueses no acesso à educação, do Brighter Future, para ajudar os portugueses a tomarem as melhores decisões para o seu futuro, e da futura plataforma de apoio ao bem-estar e equilíbrio emocional, que terá como objetivo apoiar os portugueses ao nível do crescimento pessoal.

“Ainda este ano, com o lançamento do programa de desenvolvimento pessoal, queremos dar aos portugueses mais uma ferramenta importante para a sua realização pessoal e profissional”.

Quais as metas da fundação para os próximos cinco anos?
2021 será o primeiro ano completo de operação da Fundação José Neves junto dos portugueses. É aqui que estamos focados, com o objetivo de aumentar o nosso impacto em Portugal e chegar a cada vez mais portugueses. Estamos conscientes de que a educação é o elemento chave para o desenvolvimento de cada país e para a felicidade e bem-estar de uma sociedade mais desenvolvida.

Ainda este ano, com o lançamento do programa de desenvolvimento pessoal, queremos dar aos portugueses mais uma ferramenta importante para a sua realização pessoal e profissional. O impacto é o que nos move e temos medição de impacto no curto, médio e longo prazo. Estamos muito satisfeitos com o impacto de curto prazo dos ISA e Brighter Future e a trabalhar para que com o tempo possamos gerar impacto mais sistémico no país.

Qual deve ser o papel de uma fundação na sociedade?
Entendemos que o papel da FJN na sociedade deve ser o de ajudar a transformar de acordo com a nossa missão e visão. Mudar o mundo, no caso o país, para melhor e contribuir para eliminar desigualdades sociais e providenciar oportunidades para todos. Na Fundação José Neves pretendemos, com as nossas iniciativas, contribuir através da educação para a realização pessoal e profissional dos portugueses e para a competitividade e desenvolvimento do país, tendo como objetivo último a felicidade e o bem-estar.

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