Opinião
Colaboradores Tipo A,B,C,D
Começo por um esclarecimento. Este texto não é, nem pretende ser, um artigo científico fundamentado em análises técnicas e pesquisas académicas. Apenas exprime a minha opinião baseada na liberdade com que observo as pessoas e no espírito descomprometido com que gosto de partilhar as minhas ideias. Perdoem-me, pois, os mais puristas que terão certamente argumentos técnicos e científicos para rebater o que penso e escrevo.
Ao longo dos anos, tenho observado que os colaboradores lidam de forma distinta com as suas chefias o que me leva a classificá-los em quatro categorias:
- Tipo A – Barafusta, mas faz;
- Tipo B – Não barafusta, e faz;
- Tipo C – Barafusta, e não faz;
- Tipo D – Não barafusta, e não faz.
Provavelmente, todos nós temos um pouco de cada uma destas características ou, pelo menos, já as experimentámos alguma vez. Todavia, há pessoas que seguem um destes padrões com maior frequência o que representa desafios e/ou estímulos às suas chefias e lideranças.
O colaborador Tipo A é aquele que se queixa com frequência, mas que “no final do dia” cumpre o que lhe é pedido e apresenta bons resultados. Trabalhei com muitas pessoas com estas caraterísticas e, confesso, não me causam grande dificuldade como líder porque sei que o ato de barafustar é, muitas vezes, o estímulo que precisam para passar à ação. Perante um pedido, reagem frequentemente com “não tenho tempo”, “não tenho recursos”, “é sempre a minha equipa”, “os outros não fazem nenhum” ou “sobra sempre para nós…” Depois, voltam para as suas equipas, ou para o seu computador, e é com brio e empenho que metem mão à obra. Gosto de trabalhar com este tipo de pessoas porque, apesar de rezingões, são normalmente colaboradores de uma enorme generosidade e muito orientados para a ação e para o resultado.
O colaborador Tipo B é o arquétipo da perfeição e, como tal, aquele que todos ambicionamos ser e ter como colega. Felizmente, tenho-me cruzado com algumas pessoas que têm esta capacidade de estar sempre disponíveis, com sorriso aberto, para o que lhes é pedido. Encaram o trabalho com alegria e boa-disposição sendo eficazes e eficientes em tudo o que fazem. São pessoas que têm uma propensão natural para servir e para ajudar. Gostam de ser “parte da solução e não do problema”. Observo que os colaboradores Tipo B têm normalmente outras atividades extraprofissionais, como por exemplo voluntariado ou hobbies, que os estimulam e os fazem “relativizar o peso do trabalho” nas suas vidas.
Os colaboradores Tipo C e Tipo D são aqueles que mais desafios colocam a um líder. São os chamados resistentes ativos (Tipo C) e resistentes passivos (Tipo D). Ao longo da minha vida tenho-me cruzado com ambos. Recordo diversos projetos que procurei implementar, sobretudo os que implicavam mudanças de hábitos e comportamentos, que enfrentaram uma enorme resistência do tipo C e D. Há, todavia, uma grande diferença entre os dois. O colaborador do Tipo C verbaliza o que pensa. O colaborador do Tipo D é dissimulado. O primeiro, confronta e questiona diretamente. O segundo, prefere os corredores e o “ruído de alcatifa”. Aceito e consigo ter uma discussão com alguém que me confronta (Tipo C), mas tenho uma grande dificuldade em lidar com estratégias dos colaboradores do Tipo D. A dissimulação subjacente ao Tipo D representa, para mim, uma quebra de confiança e lealdade que considero serem os alicerces da relação entre líder e colaborador.
Como deve então reagir o líder face a estas quatro categorias de colaboradores?
Perante o colaborador Tipo A, procuro responder com paciência e reconhecimento. Isto é, procuro ter tempo e disponibilidade mental para o ouvir e procurar perceber os seus argumentos para, depois, poder valorizar os resultados e objetivos alcançados. Por vezes, a resistência ativa esgota-nos impedindo-nos de reconhecer que essas pessoas, apesar de barafustarem, acrescentam muito valor à organização.
Perante o colaborador Tipo B, fico grato e reconhecido, procurando seguir o seu exemplo. O colaborador do Tipo C exige do líder determinação e frontalidade para lhe dizer que tem de cumprir as instruções, ordens ou deliberações que lhe são atribuídas. Não é tolerável que uma organização tenha colaboradores que se recusam a fazer o que lhe é pedido, exceto se o que lhe for pedido não for razoável, equilibrado ou viole direitos fundamentais, princípios éticos e morais ou preceitos legais, claro está.
O colaborador do Tipo D exige do líder uma leitura muito mais fina dos comportamentos e estratégias adotados porque dissimula e evita estar no “radar do líder”. Perante este tipo de colaboradores, o líder tem de estar particularmente atento e ter uma leitura muito mais fina e disciplinada. Lidar com colaboradores do Tipo D é um dos maiores desafios na gestão de pessoas.