China, Silicon Valley e o final da 3.ª edição lisboeta da Web Summit

Afinal, qual é o ecossistema mais forte? Esta foi a pergunta de partida para um dos últimos painéis da terceira edição portuguesa da maior conferência de empreendedorismo do mundo.

A edição de 2018 da Web Summit chegou ontem ao fim. Foram quatro dias que começaram com uma apresentação de Paddy Cosgrave, CEO e cofundador da conferência tecnológica, e que acabaram com o discurso do presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, ovacionado de pé pela multidão presente no Altice Arena.

Num dos últimos painéis do evento foi discutida, mais uma vez, a competição entre os ecossistemas de Silicon Valley e da China. A discussão juntou vários atores com diferentes visões do mercado: uma jornalista, um empreendedor e um investidor.

Chadwick Xu, cofundador da Shenzhen Valley Ventures, uma firma de capital de risco focada em apoiar projetos de hardware, deu o ponto de vista do investidor. Para o convidado, a discussão “Silicon Valley versus China” não faz sentido nenhum e só serve para alimentar as capas dos jornais. Em vez de se tratar de competição entre os dois polos, Xu acredita que esta discussão só faz sentido entre as empresas de cada ecossistema.

Aos olhos da jornalista, a China ainda não ultrapassou os Estados Unidos da América. Yang Ge, do Financial Times chinês, acredita que o seu país natal ainda não conseguiu ultrapassar o ninho da inovação de Silicon Valley. Isto porque as empresas orientais não apostam na criação de tecnologia nova com laboratórios de pesquisa e desenvolvimento. Só adaptam a que é criada do outro lado do Oceano Pacífico. No entanto, Yang Ge refere que os empresários do seu país são muito bons a empurrar a tecnologia dos “0-100”, ou seja, a levar o seu produto a muitas pessoas, muito rapidamente.

Já William Joy, fundador da VideoPlusPlus, uma start-up que desenvolveu tecnologia que permite às pessoas comprarem objetos que veem em vídeos, referiu que a China tem uma economia muito forte, o que potencia bastante a adoção de novas tecnologias por parte de muitos cidadãos. Contudo, o empreendedor acredita que a tecnologia chinesa está dependente de menos empresas do que a dos Estados Unidos. Enquanto que o lado norte-americano conta com gigantes como a Amazon, Google, Facebook ou Uber, entre outros, o chinês tem duas empresas – Alibaba e Tencent – que detêm o monopólio do mercado.

William Joy deixou ainda uma mensagem a todos os empreendedores ocidentais que queiram entrar no mercado oriental: criarem parceiros locais e colocarem um CEO chinês à frente da sucursal que abrirem no país, visto que “é preciso ter uma pessoa que conheça muito bem a cultura”.

A terceira edição da Web Summit em Portugal – país onde vai continuar a realizar-se durante mais dez anos – ficou marcada, entre muitos outros temas, pelo anúncio da introdução de um novo fundo de capital de risco gerido pela organização do evento, e pelas declarações da comissária europeia para a competição sobre as gigantes tecnológicas e de Tony Blair sobre a sua posição anti-Brexit.

Terminada a edição de 2018, por onde passaram cerca de 70 mil pessoas, de 150 países, é tempo do mercado e dos diferentes interlocutores do setor fazerem o balanço do impacto do evento no ecossistema nacional de start-ups e na própria economia como um todo. E, porque não, verificar, por exemplo, se as expetativas, relativamente ao evento, dos unicórnios portugueses e de algumas organizações empresariais contactadas pelo Link to Leaders uns dias antes da conferência se confirmaram ou não.

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