Opinião

O cabo da Boa Esperança

Franquelim Alves, Diretor-Geral da 3anglecapital

Comemorou-se, na passada semana, o 529º aniversário da passagem do Cabo das Tormentas pelo navegador português Bartolomeu Dias (3 de fevereiro de 1488). Entre esta data e a passagem do Cabo Bojador por Gil Eanes (1434), passaram longos – mesmo à nossa noção de tempo atual – cinquenta e quatro anos.

Foi um passo de gigante para atingir, com sucesso, a estratégia desenhada pelos reis portugueses de descobrir o caminho marítimo para a Índia. Passo alcançado depois de muitos naufrágios, muitas mortes e muitos fracassos.

Pode perguntar-se o que impelia esses bravos homens a, apesar de todos os fracassos intermédios, permanecerem firmes nos seus objetivos.

Eu diria que, acima de tudo, a existência de uma liderança clara, sustentada na definição de objetivos de longo prazo ambiciosos, mas realizáveis, e executada com base no desenvolvimento de políticas de alianças e de promoção e atração de talentos, indispensáveis ao sucesso da empreitada.

O rei Dom João II foi determinante no desenho e execução dessa estratégia, definindo políticas públicas coerentes e mobilizando o país para a sua execução.

Naturalmente que os tempos de hoje são diferentes, mas as incertezas sobre o que nos espera no horizonte incerto das próximas décadas e o futuro de Portugal, enquanto nação, estão também agora dependentes da existência de políticas públicas capazes de responder às necessidades desta época.

Não se trata, já, de atribuir ao Estado um papel dirigente e de planeamento dos desenvolvimentos económicos e sociais, mas sim de fazer do Estado um elemento de polarização das capacidades nacionais, na esfera empresarial e da investigação.

A explosão de projetos empresariais novos, oriundos de jovens empresários (os empreendedores) que têm nascido nas incisivas incubadoras de “start-ups”, mas também, em muitos casos, de iniciativas empresariais autónomas, atestam como Portugal, mais do que nunca, acumulou talentos e capacidades intelectuais capazes de ombrear com os demais países com que concorremos.

Portugal e os seus empreendedores têm um desafio difícil, quando se trata de capacidade para estar presente nos mercados à escala global e responder a desafios competitivos a essa dimensão.

É aqui que as políticas públicas podem desempenhar um papel determinante aos níveis de:

  1. Agregação das capacidades existentes nos centros de investigação e de saber das universidades e dos centros de investigação e tecnologia, estabelecendo redes de conhecimento que possam ser utilizadas por projetos empresariais nascentes, com modelos de inovação coerentes e que requerem esse know how específico, para aprofundar os seus modelos de negócio;
  2. Mobilização das capacidades financeiras públicas, nomeadamente ao nível de fundos comunitários, para que, em parceria com investidores privados, seja mais simples o acesso a soluções de funding para novos projetos.

Essa política pública é crítica e representa um suporte determinante, para que novos projetos estejam mais bem preparados para passar o Cabo das Tormentas. Agora já não algures, na longínqua África Austral, mas na dimensão global da economia mundial.

Comentários
Franquelim Alves

Franquelim Alves

Franquelim Alves é managing partner da SIGISFIN (ex-New Finance, Lda.). Anteriormente, foi diretor-geral da 3anglecapital, sociedade especializada em operações de M&A e serviços de “advisory” financeiro. Licenciado em economia, pelo ISEG, detém um MBA em Finanças pela Universidade Católica Portuguesa e o Advanced Management Program da Wharton School of Philadelphia. Desempenhou funções de administração financeira no Grupo Lusomundo e no Grupo Jerónimo Martins. Iniciou a sua carreira na Ernst & Young, onde desempenhou funções de Sócio responsável pela área de... Ler Mais..

Artigos Relacionados