Opinião

Atingir objetivos como um carro de corrida

Tomás Loureiro, Director of Global Intel & Strategic Projects na EDP

Tal como um Fórmula 1 precisa de um motor potente, transmissão ágil, painel de controlo e um chassis resistente, o sucesso na perseguição de objetivos exige Consistência, Adaptabilidade, Realismo, Resiliência e Otimismo. É preciso afinar o “CARRO” de corrida para alcançar a bandeira axadrezada das nossas metas.

Se janeiro é tipicamente quando definimos objetivos pessoais e profissionais, quando mudamos hábitos e temos grandes resoluções para o ano que se avizinha, o final de Fevereiro/início de Março é quando começamos a falhar nesses objetivos, a ser menos consistentes, menos entusiastas e muitas vezes a perceber que talvez os objetivos que definimos não são assim tão realistas. O que falta então para conseguirmos ser mais bem-sucedidos na elaboração e acima de tudo perseguição dos nossos objetivos?

Aproveitando o para breve regresso da Fórmula 1, e em semana de estreia do já fenómeno “Drive to Survive”, olho para a definição e perseguição de objetivos – e mais latamente para a busca do sucesso – como um CARRO de corrida – Consistência, Adaptabilidade, Realismo, Resiliência e Otimismo – no qual para cada mudança de velocidade todas as componentes precisam de estar em perfeita harmonia para um desempenho máximo.

C | Consistência – Em primeiro lugar, porque sem ela qualquer objetivo não passa de uma mera ilusão. A consistência é o motor que alimenta e que move o carro. Nos negócios, e na nossa vida privada, não é diferente. Tal como um Fórmula 1 depende de um motor bem oleado e ajustado para manter a sua performance ao longo da corrida, são os nossos hábitos e rotinas que determinam e impulsionam o nosso sucesso na perseguição dos objetivos, por mais pequenos e insignificantes que sejam. Há uns anos li o “Hábitos Atómicos”, de James Clear (quem não leu recomendo), e esse ensinamento ficou muito claro para mim – as pequenas melhorias incrementais, repetidas de forma consistente, podem levar a resultados extraordinários ao longo do tempo, através de um efeito cumulativo poderoso, como se fossem juros compostos. É nesse sentido fundamental definir os grandes objetivos, mas igualmente importante desconstruí-los em pequenas ações/ hábitos, em pequenos passos, que permitem atingi-los. Tal como na Fórmula 1 existe uma procura incessante por melhorar milésimos de segundo por volta de forma consistente, também nos nossos objetivos a consistência é motor para o sucesso.

A | Adaptabilidade – se a consistência é o motor, a adaptabilidade é a transmissão, permitindo alterar a marcha e a velocidade quando as circunstâncias se alteram. Fazer planos é fundamental, mas eles estão desatualizados logo após os fazermos. Também os nossos objetivos – pessoais e profissionais – são tantas vezes impactados por questões exógenas com as quais não contámos, levando a um sentimento de “agora já não vai ser possível”. Incorporar a adaptabilidade significa antecipar mudanças, tomar decisões e manter uma mentalidade flexível. Ou simplificando: ajustar. Um objetivo definido ontem pode hoje ter que ser adaptado, e isso não é um sinal de fracasso, mas sim de inteligência, tal como na F1 os pilotos e as equipas são obrigadas a adaptar as suas estratégias em face aos imprevistos. No final, “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente. Mas o que melhor se adaptar às mudanças” (Charles Darwin).

R | Realismo – é o painel de controlo que nos mantém no caminho certo, e que nos ajuda a perceber até onde podemos e conseguimos ir, tal como permite ir monitorizando os limites do carro e imprevisibilidade de pista. Muitas vezes não atingimos – e até desistimos – alguns objetivos porque eles nunca foram realistas, foram apenas um ímpeto de “agora é que vai ser”, mas com pouco fundamento, pelo menos quanto à magnitude do objetivo. Ambição sempre, mas temperada com realismo – nas empresas e na vida pessoal.

R | Resiliência – A resiliência, por sua vez, é o chassis robusto que nos mantém firmes quando surgem buracos no asfalto, imprevistos ou quando falhamos, da mesma forma que na Fórmula 1 até os melhores pilotos e as equipas enfrentam acidentes e falhas técnicas. No entanto, o que distingue os campeões é a sua capacidade de recuperação rápida e de aprendizagem com esses erros e imprevistos. Na lógica dos objetivos, falhar os “micro-hábitos” não é um problema nem deve gerar preocupação, o importante é retomar imediatamente para assegurar a consistência positiva. Nas empresas, ao fomentar uma cultura que encara os obstáculos como trampolins para o crescimento, as organizações podem converter adversidades em catalisadores poderosos para o sucesso sustentável.

O | Otimismo – finalmente o otimismo é o combustível e o “turbo” desta jornada, injetando a energia e a atitude positiva, mesmo quando estamos mais cansados, para encarar as voltas mais difíceis. Quando um carro encontra dificuldades na pista, é a crença inabalável em voltas melhores que alimenta a sua recuperação. Nos negócios, o otimismo não é esperança cega; é um ativo estratégico que permite aos líderes visualizarem futuros ambiciosos e inspirarem as suas equipas a alcançá-los.

Tanto nas corridas como nos nossos objetivos ou na vida corporativa, o sucesso não se trata apenas de velocidade pura—é uma questão de equilíbrio. É necessária consistência para construir um progresso sustentável, adaptabilidade para ajustar sua rota, resiliência para não desistir e voltar à pista, o realismo para manter os pés na terra e o otimismo para manter viva a ambição. Tal como um carro de corrida bem ajustado que domina as pistas mais exigentes, estes princípios abrem caminho para um crescimento sólido e sustentado e para a bandeira axadrezada dos nossos objetivos.

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Tomás Loureiro

Tomás Loureiro

Tomás Loureiro é Director of Global Intel & Strategic Projects na EDP. Anteriormente, ocupou o cargo de Head of Innovation Intel, sendo responsável por apoiar o CEO da EDP Inovação na definição da estratégia global de inovação e das apostas futuras do Grupo EDP. Também foi Chief of Staff to CEO / Advisor do Board no Grupo Media Capital, responsável por acelerar a implementação da visão estratégica e transformação do grupo, acompanhando também os temas ligados à inovação e customer... Ler Mais..

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