Entrevista/ “As insurtechs estão a revolucionar o mercado segurador”

Katrien Buys, Grupo Ageas Portugal*

 “É uma opinião comum achar que o setor segurador é cinzento e aborrecido, mas a verdade é que tem bastante espaço para inovação”, afirma Katrien Buys, diretora de Estratégia, Inovação e Sustentabilidade do Grupo Ageas. Em entrevista ao Link To Leaders desmistifica esta ideia, explica o porquê da aposta do grupo na inovação e o impacto positivo das start-ups no desenvolvimento do negócio segurador.

Com uma forte ligação ao universo do empreendedorismo, o Grupo Ageas Portugal tem apadrinhado diversas start-ups, projetos de inovação social e implementado internamente vários programas focados nestas áreas quer para o desenvolvimento de produtos quer de serviços.

A diretora de Estratégia, Inovação e Sustentabilidade do Grupo Ageas explicou ao Link To Leaders a importância da inovação e da tecnologia para responder às necessidades dos consumidores. Katrien Buys reconhece que Portugal teve um “desenvolvimento extraordinário na última década no que concerne a empreendedorismo, tornando-se um polo atractor e gerador de várias start-ups de elevado valor” e que as insurtechs estão a revolucionar o mercado segurador com um impacto muito positivo.

Nos últimos anos, a aposta do Grupo Ageas Portugal no departamento de inovação tem sido uma constante. Que mais-valias têm retirado para a vossa oferta de produtos de serviços?
Apostamos desde sempre na inovação no mercado em diferentes níveis e áreas, uma vez que esta permite responder às necessidades dos consumidores, que estão em permanente mudança. E não é algo recente, pois a inovação está no ADN do Grupo Ageas Portugal e das suas marcas, como são exemplos a criação da primeira rede privada de prestadores de saúde com a Médis, ou da primeira seguradora a comercializar seguros automóvel por telefone e internet através da Seguro Directo. É uma opinião comum achar que o setor segurador é cinzento e aborrecido, mas a verdade é que tem bastante espaço para inovação, o que é bastante desafiante.

Por exemplo, apesar de sermos uma seguradora, fomos mais longe. Quisemos ser diferentes e ousados. Quisemos inovar! E, por isso, criámos as marcas para além dos seguros, como é o caso da Go Far, Kleya, Clínica Médis, Ageas Repara e o Mundo Ageas, para estarmos um passo à frente, com o objetivo de estar onde estão os nossos clientes, proporcionando-lhes um serviço excecional e integrado.

Mas a inovação não fica por aqui. Temos inúmeros projetos como, por exemplo, a Escola de Impacto, que é um programa de empreendedorismo e inovação social, que a Fundação Ageas tem em parceria com o Impact Hub Lisbon. Realço, também, a iniciativa Ageas Innovation Hackathon que temos em parceria com a Nova SBE e que desafia alunos universitários a encontrarem soluções inovadoras para casos reais, relacionados com o mundo dos seguros.

Tudo isto faz parte da inovação do Grupo e representa a importância da inovação para nós. Com todos estes programas, experiências e conhecimentos conseguimos, também, crescer no domínio da inovação social. Somos um Grupo que procura, todos os dias, novas formas de inovar e de criar os melhores projetos e produtos para os clientes e com impacto na sociedade.

Quais os programas centrais do departamento e a que se destinam?
No total temos quatro programas que se complementam e cobrem diferentes fases e stakeholders do processo de inovação, promovendo uma verdadeira “inovação aberta” e colaborativa. O INside é o programa de empreendedorismo interno, e destina-se a apoiar os colaboradores no desenvolvimento de novas ideias de negócio, dando-lhes apoio, formação e mentoria.
Temos o INcampus, que é simultaneamente um programa e um espaço físico de inovação, organizado em conjunto com a Nova SBE, e que permite cocriar ideias disruptivas com as gerações mais novas (os alunos universitários) e desenvolvê-las num ambiente de incubação. O INsure é um programa de inovação aberta com start-ups que permite contactar com um elevado número de empresas disruptivas e selecionar as mais promissoras para uma colaboração estreita com as diferentes áreas internas, para criar valor para todos.
Por fim, temos o INhouse que se destina a projetos com maior maturidade, permitindo realizar uma análise da viabilidade de negócio e desenvolver pilotos para testar novos projetos em ambiente real.

“A importância da inovação está no facto de melhorar aspetos da vida quotidiana, das necessidades mais simples às mais complexas, das mais práticas às mais aspiracionais (…)”.

O que vos motiva a desenvolverem este tipo de programas?
Ambicionamos ser um parceiro de referência nos seguros, um parceiro relevante na prestação de serviços e o melhor local de trabalho para pessoas empreendedoras. Por este motivo, estamos permanentemente atentos a novidades e tecnologias que sejam benéficas, não só para os nossos clientes, mas também para a sociedade. A importância da inovação está no facto de melhorar aspetos da vida quotidiana, das necessidades mais simples às mais complexas, das mais práticas às mais aspiracionais, e até aquelas soluções/tecnologias para as quais as pessoas nem pensaram, mas que depois de conhecerem, não conseguem viver sem elas. Por isso, estes programas são uma forma de aprender, desenvolver e incorporar novas propostas de valor, que vêm acrescentar e trazer benefícios para a sociedade em geral.

Trazer a tecnologia mais recente para o dia a dia das pessoas com o objetivo de o melhorar. Esta é uma das linhas orientadoras da atividade que o Grupo Ageas desenvolve de acordo com um dos seus eixos estratégicos: a inovação. A velocidade que hoje assistimos na evolução científica e tecnológica, que acelera ainda mais um mundo em permanente estado de mudança, traz para a ação do Grupo o desafio diário de se manter competitivo no futuro dos seguros.

Quantos projetos já foram integrados no Grupo?
Atualmente, temos 11 projetos que foram já implementados, ou que estão em processo de implementação no Grupo Ageas. Entre estes projetos podemos destacar a criação de ferramentas internas, como é o caso dos chatbots inteligentes e do contact center avançado que lançámos. Por exemplo, através do chatbot da Seguro Directo, o cliente pode realizar todos os passos necessários para a compra do seu seguro automóvel e, ainda, solicitar a emissão da carta verde.

Por outro lado, implementámos também soluções em parceria com as start-ups Sword Health – que integrámos na nossa rede de prestadores da Médis para permitir o acesso a fisioterapia remota – e a LactApp, que nos permitiu lançar uma app personalizada de apoio à maternidade e amamentação. Alguns destes projetos foram realizados em tempo recorde como, por exemplo, o avaliador de sintomas da Covid-19, disponível no site da Médis desde abril de 2020 e que já conta com mais de 115 mil avaliações realizadas.

Qual o impacto que a inovação tem no Grupo Ageas Portugal? No desenvolvimento e implementação de novos produtos/ideias?
A inovação está muito presente no ADN do Grupo, dos projetos mais marcantes às mudanças mais pequenas nos produtos, serviços e métodos de trabalho. Ao longo dos anos, fomos inovando das mais diversas formas, porque sabemos que a inovação é importante não só para o negócio, mas também para os clientes, colaboradores e restantes stakeholders. O facto de a inovação e a digitalização serem prioridades estratégicas para o Grupo permitiu, por exemplo, estarmos muito bem preparados quando fomos confrontados com a atual pandemia. Não há dúvidas que a inovação é um facilitador e os colaboradores têm consciência disso porque, neste período difícil, soubemos dar a volta por cima. É por isto e por todos os outros projetos e serviços que desenvolvemos mencionados, que damos tanto valor à inovação e para nós é um privilégio estarmos envolvidos em vários destes projetos.

Além disso, somos um negócio que lida com as emoções e uma empresa sortuda, ao podermos lidar com tudo o que é importante para a vida dos clientes, desde a educação à saúde, o trabalho, a mobilidade e a habitação. Por isso mesmo, devemos sempre procurar inovar e desenvolver os melhores produtos e serviços.  Produtos/serviços que tenham realmente impacto e que contribuam para a melhoria da vida dos clientes. É esse o nosso objetivo.

“Para nós, qualquer start-up que possa ter um impacto positivo na vida dos nossos clientes e que seja bastante promissora, tem uma grande importância”.

Como se relacionam com o universo das insurtechs?
Para nós, qualquer start-up que possa ter um impacto positivo na vida dos nossos clientes e que seja bastante promissora, tem uma grande importância. Aliás, foi também neste sentido que criámos o INsure, o nosso programa de aceleração para start-ups. Apesar de ainda estamos na primeira edição, tivemos uma boa recetividade ao projeto, e recebemos mais de 200 candidaturas de 35 países. Portanto, no geral, a avaliação é muito positiva.

Portugal tem “produzido” boas start-ups neste campo?
Sim, sem dúvida. Portugal conheceu um desenvolvimento extraordinário na última década no que concerne a empreendedorismo, tornando-se um polo atractor e gerador de várias start-ups de elevado valor. No caso das insurtechs, o mercado começou a desenvolver-se mais tarde e mais lentamente, mas atualmente existe um conjunto importante de atores, não só no apoio ao empreendedorismo (aceleradoras, incubadoras, fundos), como também start-ups que estão a crescer e a dar provas junto dos seus clientes. A Sword Health, a Drivit e a Habit Analytics são três exemplos com os quais o Grupo Ageas Portugal tem colaborado.

Quais os principais desafios que este novo tipo de “empresas” enfrenta num mercado tão concorrencial como o segurador?
O mundo está em constante mudança e, com ele, a Ageas. Para nos mantermos relevantes junto dos nossos stakeholders, e principalmente dos clientes, precisamos de nos envolver de forma contínua e de nos reinventarmos para nos mantermos competitivos.

No Grupo, os clientes são o nosso foco e, por isso, queremos continuar a proporcionar-lhes experiências diferenciadoras e emocionais, prestando-lhes um nível de serviço de excelência, sendo seu parceiro ao longo da vida: na prevenção, assistência e proteção. Por isso mesmo, quando trabalhamos em parceria com uma start-up, uma das nossas principais preocupações é garantir que todos os procedimentos legais e de segurança são respeitados. Claro que este é um processo que leva algum tempo o que, por vezes, para as start-ups pode criar entropias, mas não podemos deixar de o fazer. Devemos isso aos clientes.

“As insurtechs estão a revolucionar o mercado segurador e isso está a ter, claramente, um impacto muito positivo”.

A nova realidade das insurtechs está a impactar o mercado dos seguros?
Sim, estão! As insurtechs estão a revolucionar o mercado segurador e isso está a ter, claramente, um impacto muito positivo. Esse impacto positivo resulta do facto das insurtechs trazerem componentes importantes para o setor, como uma visão mais “fresca” do negócio, maior agilidade e a incorporação de novas tecnologias, que permitem simplificar e otimizar processos, aumentar a digitalização e melhorar o conhecimento e a experiência de cliente.

Têm contribuído para acelerar a transformação digital das seguradoras ditas tradicionais?
Sem dúvida! Na verdade, as insurtechs têm trabalhado frequentemente como parceiras e/ou fornecedoras das seguradoras e apoiado, entre outras atividades, a transformação digital. Trata-se de um processo que leva o seu tempo, pela complexidade tecnológica e regulamentar e, também, pela dimensão do setor, mas que é fundamental para o futuro.

Em traços gerais, que investimentos têm previstos para o Departamento de Inovação para o próximo ano?
Na área de Inovação, o próximo ano será, sobretudo, de consolidação. Na verdade, no ano passado lançámos diversas iniciativas, como o programa de intrapreendedorismo INside e o de colaboração com start-ups INsure, e planeamos lançar a segunda edição no próximo ano, bem como outras iniciativas. Iremos também dar continuidade ao Prémio Inovação em Prevenção, com a Ageas Seguros, que terá a sua segunda edição, visando premiar e promover as boas práticas mais inovadoras nas áreas de prevenção e segurança, de forma a estabelecer um ecossistema de melhorias significativas que contribuam para a eficácia na gestão das empresas.

“Para além de projetos na nossa área “core”, estamos sempre muito interessados em conhecer novos projetos em áreas de grande importância como é o caso da saúde, mobilidade sustentável e habitação”.

A procura de projetos criativos e diferenciadores vai continuar a ser uma aposta do departamento de inovação? Em algum setor em particular?
Estamos permanentemente à procura e a analisar projetos interessantes, pois o papel da área de Inovação é precisamente ajudar o Grupo Ageas Portugal a estar atento a novas oportunidades e parceiros, com vista a melhorar continuamente a proposta de valor para os clientes. Para além de projetos na nossa área “core”, estamos sempre muito interessados em conhecer novos projetos em áreas de grande importância como é o caso da saúde, mobilidade sustentável e habitação.

Agora, mais que nunca, os clientes olham para o setor segurador como um verdadeiro parceiro. Alguém que está “ao seu lado” em todos os momentos da vida, mesmo os mais desafiantes e será esse o principal foco da área da inovação no presente e futuro.

*Diretora de Estratégia, Inovação e Sustentabilidade

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