ANJE, CIP, IAPMEI e COTEC avaliam Web Summit

Como nem só de start-ups e investidores se faz o Web Summit, o Link to Leaders convidou quatro responsáveis de organizações com impacto no tecido empresarial nacional, a fazerem a sua análise do evento que este ano cumpre a 3.ª edição no nosso país. Adelino Costa Matos, da ANJE, António Saraiva, da CIP, Nuno Mangas, do IAPMEI, e Jorge Portugal, da COTEC, aceitaram o nosso desafio, sob a forma de três questões. Aqui fica a análise destes profissionais.

Comecemos pela primeira questão: Qual esperam que seja o impacto real do Web Summit (WS) 2018 no setor empresarial nacional?  As respostas dos nossos quatro interlocutores tem um ponto em comum: acreditam que será muito positivo!

“É esperado impacto a três níveis: reforço da imagem do país no domínio da inovação; progresso no desenvolvimento e consolidação do ecossistema de start-ups; e maior sensibilidade e abertura das empresas para ideias mais radicais”. Esta é a síntese que Jorge Portugal, diretor-geral da COTEC Portugal (Associação Empresarial para a Inovação), faz do impacto da maior conferência tecnológica do mundo, que começa hoje em Lisboa, no nosso país.

Em sintonia com esta avaliação, também o presidente da ANJE (Associação Nacional de Jovens Empresários), espera que, à semelhança das edições anteriores, a de 2018 tenha um impacto positivo na divulgação e valorização das potencialidades do ecossistema empreendedor português junto de investidores internacionais. “A Web Summit permite às nossas start-ups o contacto com importantes investidores internacionais, muitos dos quais não viriam a Portugal se não fosse o evento”. Adelino Costa Matos, lembra que, na última edição foram acreditados mais de 1.500 investidores, responsáveis por uma carteira de investimentos da ordem dos 500 mil milhões de euros. “O acesso a estes investidores pode ser um primeiro e determinante passo para a alavancagem de empresas portuguesas com potencial”, salienta. Mais: “este tipo de investidores não representa só a entrada de capital de risco nas start-ups mas também, e tão ou mais importante, a transmissão de experiência empresarial e de conhecimento especializado aos fundadores dos negócios”.

Nuno Mangas, presidente do IPAMEI (Agência para a Competitividade e Inovação), admite que os impactos já identificados nas edições anteriores terão tendência para se acentuarem. “Importa sublinhar que temos consciência de que o impacto global só poderá ser quantificado a mais médio prazo. Trata-se de um evento que, pela sua natureza, terá repercussões que se materializam em prazos mais longos”, explica.

Contudo, “de uma forma geral e, para além dos impactos diretos na hotelaria e serviços associados ao turismo que têm sido divulgados, valerá a pena destacar os que, embora de natureza menos tangível, se revelam de forma mais transversal”. E exemplifica: “Estou a pensar nos impactos em matérias como a valorização da imagem e da reputação de Portugal, como o posicionamento do país enquanto destino de investimento tecnológico, como o efeito de estímulo para o empreendedorismo dos mais jovens, mas, também, do impacto ao nível da facilitação do acesso a mercados, a parceiros ou a fornecedores tecnológicos por parte das empresas portuguesas. Estes são impactos reais que muitas start-ups e empresas referem sentir na sua exposição quotidiana ao exterior”, conclui o presidente do IAPMEI.

(…) a Web Summit constitui um excelente veículo de promoção da nova imagem de um país aberto à inovação (…) – António Saraiva, CIP

Já na opinião do presidente da CIP (Confederação Empresarial de Portugal), quanto ao real impacto do WEB Summit 2018 no setor empresarial nacional, o evento tem diversos de tipos de impacto. Em primeiro lugar, António Saraiva destaca “o impacto direto de um evento que atrai a Portugal dezenas de milhares de participantes, refletindo-se em setores como a hotelaria e os transportes”. Em segundo lugar, “é uma oportunidade para as start-ups portuguesas se mostrarem ao mundo e conseguirem um primeiro contacto com investidores”. Em terceiro lugar, “a Web Summit constitui um excelente veículo de promoção da nova imagem de um país aberto à inovação, anunciado como local privilegiado para a instalação de novas empresas e start-ups de base tecnológica. E isso é importante para a economia nacional e para a sua capacidade atrativa”.

O presidente da CIP refere que o evento foi, por isso, “alvo de um avultado investimento público, estimando o Governo que tenha um impacto anual de mais de 300 milhões de euros na área da hotelaria e transportes, e de cerca de 30 milhões, só em receita fiscal. Pessoalmente, considero como muito otimistas estas previsões. A questão que se coloca é se o montante investido terá efetivamente o retorno esperado. Uma questão pertinente, quando escasseia o investimento noutros tipos de apoio à economia real”, salienta António Saraiva.

Para lá das start-ups: o que pode o mercado esperar.

Sendo o Web Summit assumidamente direcionado para start-ups, quisemos saber o que podem retirar os outros “atores” do tecido empresarial nacional deste evento.
E também aqui, grosso modo, as opiniões dos nossos quatro entrevistados convergem. Vejamos. O presidente do IAPMEI, considera que o WS se assume como “um importante fórum global de discussão e reflexão sobre temas mais abrangentes e transversais associados ao futuro, à sociedade e à tecnologia em geral”. Refere, aliás, que os temas em foco, transcendem muito os que tradicionalmente se reconhecem como diretamente endereçados a start-ups. Nuno Mangas refere, por outro lado, que “o reconhecimento (externo) de Portugal como um país mais inovador que, ano após ano coloca empresas tecnológicas de elevado potencial numa montra global, com as características e exigências da Web Summit, reflete também o reconhecimento de um país que investe de forma consistente no conhecimento e no ecossistema de suporte à inovação, à criação de novos modelos de negócio e ao crescimento empresarial”. Na sua perspetiva, “esta realidade beneficia todos os que buscam investimento ou parceiros para se projetarem e afirmarem nos mercados globais, sejam start-ups ou empresas já estabelecidas em consolidação e crescimento”.

Por sua vez, o presidente da CIP considera que “as start-ups constituem um vetor importante para a dinamização empresarial da sociedade portuguesa e podem vir a representar um excelente incentivo ao crescimento nacional. Não podemos olhar para elas como uma realidade isolada do resto do tecido empresarial”, refere. António Saraiva lembra os casos de sucesso de empresas como a Talkdesk ou a Farfetch, “empresas de base tecnológicas criadas em Portugal e que em poucos anos atingiram um nível de crescimento e internacionalização assinalável. Isso comprova esta tese e reforça a sua mais-valia para a economia portuguesa”.

Apesar desta análise positiva, o presidente da CIP deixa um alerta: “é avisado não confundir a árvore com a floresta”. E questiona-se: “Poderá a sustentabilidade da economia portuguesa basear-se em start-ups? Será este o único ou o mais garantido dos caminhos para induzir crescimento na economia? Julgo que não, e por isso a legítima pergunta: Não existem outras áreas onde semelhante investimento público também se justificaria, podendo mesmo ter um retorno mais rápido e mais eficaz?”, questiona.

…[o WS] permite criar condições para contacto mais aprofundado e mais assíduo com o ecossistema empreendedor (…) – Jorge Portugal, COTEC

Mais sucinto na sua análise, Jorge Portugal, diretor-geral da COTEC, considera que aquilo que os diferentes atores do tecido empresarial nacional podem retirar do evento passa por “identificar oportunidades de desafiar o próprio negócio (antes que outros o façam) e criar condições para contacto mais aprofundado e mais assíduo com o ecossistema empreendedor”.

A imagem de modernidade económica, que não se cinge às start-ups, que o WS transmite de Portugal, é um dos aspetos destacados por Adelino Costa Matos. “Estou convicto de que, pela sua repercussão internacional, a Web Summit tem potencial para atrair investimento para todo o tecido empresarial, nomeadamente PME, e para abrir portas no mercado externo às empresas exportadoras. Por outro lado, o evento possibilita a identificação de tendências de futuro na economia, as quais podem representar oportunidades de negócio para os vários setores empresariais”, conclui o presidente da ANJE.

Mais-valias económicas? Sim ou não?

Saber se as duas últimas edições do Web Summit foram transformadoras, se trouxeram verdadeiras mais-valias à economia e empreendedorismo portugueses, foi outra das questões colocadas aos responsáveis do IAPMEI, da CIP, da COTEC e da ANJE.  O presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários acredita que sim, embora, como lembra, “não haja ainda uma estimativa concreta do retorno indireto da Web Summit para a economia e para o ecossistema empreendedor. Quanto ao retorno direto, sabe-se que rondou os 300 milhões de euros na última edição, tendo o investimento do Estado português sido de 1,3 milhões. Mas há ainda a questão da captação de investimento pelas start-ups, que não está quantificado mas que, pelos contactos estabelecidos, se presume assumir uma dimensão significativa. E deve ainda acrescentar-se o investimento realizado pelo venture capital português em start-ups internacionais presentes na Web Summit”.

(…) depois de cada edição, muitos jovens portugueses terão vontade de adquirir competências tecnológicas e criar start-ups inovadoras (…) – Adelino Costa Matos, ANJE

Apesar dos números, para Adelino Costa Matos, “a grande mais-valia são os efeitos da Web Summit ao nível do mindset. Um evento tecnológico desta envergadura, com tão grande projeção mediática e, sobretudo, com oradores tão vibrantes, reforça a cultura empreendedora em Portugal, designadamente entre as novas gerações”. Lembra que “para os jovens ainda em fase de indefinição profissional, é motivador a realização do evento em Portugal e muito inspirador assistir on-line ou, para os mais felizardos, in loco às diferentes conferências. Estou certo de que, depois de cada edição, muitos jovens portugueses terão vontade de adquirir competências tecnológicas e criar startups inovadoras”.

Igualmente confiante nas mais-valias das duas últimas edições, o presidente do IAPMEI frisa que estas acontecem desde logo ao nível das start-ups e de outras empresas portuguesas envolvidas e que beneficiaram da participação direta nas diversas atividades previstas ou em contactos posteriores com potenciais parceiros, investidores ou outras entidades relevantes para uma melhor valorização dos seus negócios.

Por outro lado, Nuno Mangas recorda que “iniciativas paralelas como o Road2Websummit  (para apoiar as strat-ups a participarem com sucesso na WS), ou o Lisbon Beyond Summit (evento de brokerage, organizado pelo IAPMEI, no âmbito da European Entreprise Network,  para proporcionar às PME e start-ups nacionais um espaço exclusivamente dedicado a reuniões com outras empresas e investidores,  portugueses e estrangeiros) têm despertado cada vez maior interesse e estão a afirmar-se como um contributo importante para alargar e qualificar a participação das empresas no WS.”

… [o WS] terá contribuído também para sinalizar o país como um espaço interessante para instalar novos investimentos (…) – Nuno Mangas, IAPMEI

Em jeito de conclusão, o presidente do IAPMEI, não deixa de referir que parece hoje muito claro que “a Web Summit contribui para reforçar a confiança dos empreendedores e das empresas portuguesas no seu potencial de afirmação em mercados exigentes e globais. Mas terá contribuído também para sinalizar o país como um espaço interessante para instalar novos investimentos, não apenas em unidades de produção, mas também em centros de desenvolvimento e de competências”. De acordo com Nuno Mangas, “esta nova realidade é certamente importante para a economia em geral, mas, também, para estruturar uma oferta de empregos mais qualificados, que muito desejamos”.

O presidente da CIP, por sua vez, constata também, até pelos impactos que referiu, que “a Web Summit trouxe, sem dúvida, mais-valias evidentes à economia. O anterior Ministro da Economia afirmou que a Web Summit ajudou a que empresas como a Google, a Mercedes ou a Zalando tivessem decidido localizar em Portugal os seus centros de inovação tecnológica. Mas, mesmo partindo do princípio que assim foi, não sobrevalorizaria o efeito transformador de um evento, por maior que seja a sua dimensão”, conclui António Saraiva.

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