Opinião

Alta velocidade deve continuar a ser prioridade

Alexandre Meireles, presidente da ANJE*

Em janeiro foi lançado o concurso da primeira concessão da linha ferroviária de alta velocidade Porto-Lisboa, um projeto que tem um custo total estimado de 3550 milhões de euros.

Segundo os números oficiais, a ligação entre as duas cidades vai fazer-se apenas numa hora e 15 minutos. A procura estimada ronda os 10 a 12 milhões de passageiros por ano, dos quais cerca de um milhão fazem atualmente a viagem Porto-Lisboa de avião. Está prevista a realização de 60 serviços por dia nesta linha, dos quais 17 serão diretos, nove com paragens nas cidades intermédias (Leiria, Coimbra, Aveiro e Gaia) e 34 mistos.

Paralelamente, está também projetada a construção da ligação Porto-Vigo (uma hora de distância), em articulação com Espanha. Este projeto, orçado em 900 milhões de euros, inclui uma ligação ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro e um troço Braga-Valença.

Isto significa que o projeto da alta velocidade vai, na sua globalidade, reduzir substancialmente os tempos de viagem ferroviária no eixo Setúbal-Lisboa-Porto-Braga-Vigo. Desta forma, a faixa atlântica do país ganha maior mobilidade, massa crítica e potencial de desenvolvimento. Pode, aliás, tornar-se numa das mais importantes portas de entrada de mercadorias da Europa, competindo com Hamburgo e Roterdão, por exemplo.

Além disso, a alta velocidade vai ajudar a libertar tráfego da linha do Norte, que já não tem capacidade para mais comboios de passageiros, sobretudo junto às áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Assim se promove o acesso ao transporte ferroviário nas zonas mais populosas do país, com tudo o que isso significa em termos de mobilidade, conforto, poupança e sustentabilidade. É excelente para a economia, para os cidadãos e também para o ambiente, dado o contributo que o projeto terá na redução das emissões de CO2.

Por tudo isto, a alta velocidade apresenta-se como um projeto gamechanger para o país. O transporte ferroviário é mais rápido, está mais bem preparado para mercadorias, tem menos custos logísticos e garante maior sustentabilidade ambiental quando comparado com o transporte rodoviário, aéreo ou marítimo.

Neste sentido, a ferrovia afigura-se fundamental para o reforço da competitividade da nossa economia e pode dar um novo ímpeto ao nosso setor exportador. Não é por isso de estranhar que quer a Comissão Europeia quer a OCDE estejam continuamente a alertar Portugal para a baixa densidade da ferrovia e para a subutilização das ligações ferroviárias a Espanha, que são também uma via para chegar ao resto da Europa.

Espera-se, pois, que o projeto da alta velocidade não fique por aqui. Ligar Lisboa a Madrid numa viagem de comboio de três horas, como está pensado, daria um forte impulso ao desenvolvimento do país, considerando o peso que o mercado espanhol tem para as empresas portuguesas e as vantagens económicas de uma conexão mais rápida com a Europa. Da mesma forma que uma linha de mercadorias Aveiro-Salamanca, projeto que não está contemplado no programa Ferrovia 2020, seria de grande utilidade para as empresas do Norte e Centro do país, onde se concentra muito do setor exportador português.

Resta esperar que os investimentos previstos no Ferrovia 2020 se concretizem rapidamente, de modo a que o país possa recuperar do atraso que leva no transporte ferroviário. Independentemente do Governo que vier a sair das próximas eleições, era bom que a alta velocidade se mantivesse como um desígnio nacional e uma prioridade política.

 

*ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários

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Alexandre Meireles

Alexandre Meireles

Alexandre Meireles foi presidente da Direção Nacional da ANJE-Associação Nacional de Jovens Empresários até julho de 2024. Natural de Amarante, é licenciado em Engenharia Eletrotécnica, no ISEP, e tem o Curso Geral de Gestão da Porto Business School. A sua carreira profissional está ligada a diferentes setores de atividade, entre os quais restauração e saúde. No período de 2009 a 2011 foi energy division coordinator no grupo Mota-Engil, e depois dessa experiência abraçou a atividade empresarial. Alexandre Meireles é cofundador... Ler Mais..

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