Opinião
A Universidade e o mindset empreendedor
É amplamente aceite que a “Universidade” desempenha um papel crucial na promoção do empreendedorismo, ao fomentar o desenvolvimento de planos de negócio mais viáveis e adequados às necessidades do mercado.
Também no desenvolvimento das competências empreendedoras (como a criatividade, o networking ou a resiliência) a “Universidade” vai sendo reconhecida como determinante, ao potenciar a geração de ideias de negócio mais inovadoras, o estabelecimento de parcerias ou a “resistência à frustração” entre os empreendedores.
No entanto, numa sociedade altamente volátil e competitiva, a sustentabilidade vai muito para além da inovação destes novos negócios e de algumas grandes empresas já existentes. A sustentabilidade dos países necessita do desenvolvimento sustentável de todo o seu tecido organizacional. Perante esta necessidade, como pode a “Universidade” assumir-se como um veículo promotor do desenvolvimento sustentável da sociedade?
A sustentabilidade dos países e das regiões pode ser conseguido através do desenvolvimento de um mindset empreendedor, capaz de transformar as pessoas em agentes ativos e proativos na sociedade. E o desenvolvimento deste mindset empreendedor na “Universidade” é possível por meio dos métodos ativos, participativos e experienciais.
Claro que a aprendizagem de conhecimentos técnicos e de perícia está muito dependente do estudo e reflexão, para os quais os métodos “mais tradicionais” ajudam em grande medida. Mas, e como já amplamente defendido, para desenvolver “especialistas diferenciadores e únicos” num dado domínio o know how técnico não basta! As competências soft, e especialmente o mindset empreendedor revela-se fundamental – como a liderança de equipas rumo a um mesmo objetivo, o networking e o estabelecimento de contactos, a proatividade na análise da concorrência, ou a criatividade na busca de soluções novas e úteis.
Ora, é precisamente no desenvolvimento deste mindset empreendedor que a “Universidade” pode desempenhar um papel crucial! A “Universidade” constitui (na maioria das vezes) “o primeiro contacto” que os alunos têm com a área profissional onde pretendem fazer carreira, é o “primeiro lugar” onde os alunos aprendem as ferramentas que lhes vão permitir exercer a sua profissão e onde vão beber e buscar novos conhecimentos para crescerem como profissionais. E, felizmente, longe vão os tempos em que à “Universidade” cabia, fundamentalmente, a transmissão de teorias …
A “Universidade” hoje assume-se, cada vez mais, como um palco por excelência para o desenvolvimento do mindset empreendedor pelos métodos que utiliza no desenvolvimento dos seus alunos (e não apenas de saberes), métodos estes que vão muito além do mero estudo. Entre estes contam-se os “trabalhos em grupo”, as apresentações orais em aula ou os pitch ou os role-plays, apenas para citar alguns. Nos “trabalhos de grupo”, os alunos são confrontados com a necessidade de fazer um trabalho complexo e demorado em conjunto, com timings curtos, para os quais é necessário organizar e dividir tarefas, pesquisar ou escrever, atividades para as quais as competências de liderança, trabalho em equipa ou resiliência são cruciais.
Nas apresentações orais em aula (com a duração entre 15 a 30 minutos) ou nos pitch (com uma duração máxima de 5 minutos), uma vez mais, a capacidade de organização, síntese ou gestão do stress são fundamentais. Já nos role-plays, a criatividade e a capacidade de improviso revelam-se preponderantes.
Em tom de síntese, a “Universidade” desempenha hoje um papel fundamental no desenvolvimento do mindset empreendedor, pelos métodos ativos, participativos e experienciais que utiliza, os quais “mais do que estudar” implicam pesquisar, fazer, trabalhar em equipa, mostrar, apresentar a uma plateia. Desta forma, a “Universidade” assume-se como o veículo por excelência no desenvolvimento de cidadãos mais ativos e proativos, capazes de contribuir para o desenvolvimento mais sustentável da sociedade.
*Coordenadora da Escola de Liderança e Inovação do ISCSP – Universidade de Lisboa