Opinião
A quimera das taxas de juro

As subidas de taxa de juro dos Bancos Centrais, particularmente do BCE, têm gerado muita discussão, principalmente da parte de políticos populistas que têm vivido à custa de políticas de facilitação financeira que, mais tarde ou mais cedo, se pagam caro.
Desde a crise das “dot.com”, no final dos anos 90 e depois com a crise de 2008, habituámo-nos a viver em ambiente de baixas taxas de juro. Perante tais crises, os Bancos Centrais passaram a emitir moeda em larga escala para sustentar o sistema financeiro que, por essa via, continuou a alimentar políticas de endividamento das famílias e das empresas, aprofundadas por taxas de juro muito baixas, resultado do excesso de liquidez gerado por essas políticas de laxismo financeiro.
A crise da Covid deu alimento a políticas ainda mais agressivas de emissão de moeda que mantiveram elevados níveis de liquidez nas economias e que acabaram por conduzir a um raro fenómeno de taxas de juro nominais negativas.
Os efeitos destas políticas não podem deixar de ter consequências negativas. Forte endividamento das empresas e famílias, propensão ao consumo e, inevitavelmente, surgimento da inflação a partir do momento em que a capacidade de crescimento das economias passou a ser substancialmente inferior ao crescimento astronómico da massa monetária em circulação.
O início da guerra na Ucrânia exacerbou os sinais inflacionistas que os Bancos Centrais tardaram em antecipar. No caso europeu, o impacto foi ainda aumentado pelos efeitos da desastrosa política energética, particularmente na Alemanha.
A existência de dinheiro “fácil” gera efeitos de sinalização errados: a propensão para o investimento reduz-se, o consumismo aumenta e as opções de aplicação de capital são frequentemente erradas em resultado da ausência de métricas de avaliação adequadas, métricas essas que derivam das taxas de juro praticadas no mercado.
É por isso bem-vinda a política de retorno a taxas de juro mais altas que imponha ordem na lógica de afetação de capital, premiando a poupança em detrimento do consumo e impondo de novo critérios de retorno do investimento compatíveis com as opções de consumo de capital.
As decisões de investimento têm um preço e a poupança deve ser apoiada com remuneração apropriada. Só assim os recursos de capital são bem aplicados em decisões de investimento que aumentem a riqueza das economias e dos países.
O sonho dos governantes de terem uma máquina de fazer dinheiro sem custo para os cidadãos é uma verdadeira quimera que como a quimera do ouro acaba por chocar com a realidade inultrapassável da escassez de recursos com que nos confrontamos nas nossas tomadas de decisão.
Mesmo para os empresários, a vontade de aceder a dinheiro barato acaba sempre por dar mau resultado e conduzir a decisões de investimento mal avisadas, cujo desenlace, em muitos casos, é o fracasso do projeto empresarial.