Opinião

A ascensão das start-ups em Portugal: aproveitando a AI para a inovação e crescimento

João Mendes, membro do Audit Board da Investors Portugal

Este artigo de opinião, examina o ecossistema em expansão das start-ups em Portugal, destacando as vantagens da artificial intelligence (AI) na promoção da inovação e no fomento de novos modelos de negócios.

Explora ainda os benefícios da posição única de Portugal no seio da União Europeia como terreno fértil terreno para o desenvolvimento de start-ups.Com a procura de novos players por formas inovadoras de trabalho, para melhor compreender e partido de novas oportunidades disruptivas, é essencial para redefinir indústrias e contribuir para um crescimento económico sustentável.

Nos últimos anos, Portugal emergiu não apenas como um destino turístico, mas também como um vibrante centro para criação e incubação start-ups e iniciativas relacionadas com o filão do empreendedorismo. Uma combinação de fatores—incluindo apoio governamental, um clima económico favorável e um ambiente cultural rico—têm atraído tanto empreendedores nacionais como internacionais para o nosso país. De acordo com a iniciativa Startup Portugal, o número de start-ups no país cresceu significativamente, com Lisboa sendo reconhecida como uma das principais cidades tecnológicas da Europa. Este artigo procura explorar: i) o panorama atual das start-ups em Portugal, ii) o papel transformador da AI na configuração de inovações futuras e iii) as vantagens estratégicas que Portugal oferece enquanto parte da União Europeia (UE).

O panorama das start-ups em Portugal

  1. Ecossistema em crescimento:
    • Infraestruturas de start-ups: Portugal dispõe de uma variedade de aceleradoras, associações e incubadoras, das quais gostaria de apenas salientar algumas das principais, Portugal Ventures (braço institucional do Estado Português para apoio através do investimento em start-ups), a Beta-i (a primeira incubadora de negócios de Lisboa), e a Investors Portugal (evolução e fusão da APBA e da FNABA), Startup Lisboa, que apoiam empresas em fase inicial através de mentoria, oportunidades de networking e acesso a financiamento. Estas organizações oferecem recursos essenciais para ajudar as start-ups a navegar nas suas fases iniciais de crescimento.
    • Comunidade e networking: Uma forte sensação de comunidade prevalece entre os empreendedores em Portugal. Eventos e conferências como a Web Summit, o Investors Dinner e o Lisbon Investment Summit atraem atenção global, apresentando oportunidades de network que facilitam a colaboração e o investimento.
  2. Apoio governamental:
    • Políticas nacionais: O governo português introduziu várias iniciativas destinadas a reforçar o ecossistema das start-ups. Por exemplo, o programa “Startup Voucher” oferece apoio financeiro a empreendedores durante as fases iniciais da sua jornada.
    • Acesso a subsídios e apoios: Existem numerosos programas de financiamento disponíveis, como o quadro COMPETE 2020, com a finalidade de apoiar projetos inovadores. Este apoio financeiro permite que as start-ups invistam em tecnologia, bem como apoie o seu desenvolvimento e esforços de expansão / internacionalização.
  3. Atração internacional:
    • Visto de nómada digital: A introdução do Visto de Nómada Digital atraiu empreendedores internacionais e trabalhadores remotos, que procuram aliar uma muito boa qualidade de vida (southern europe joie de vivre) a um custo de vida razoável (cada vez a ser um menor diferenciador). Este influxo de talento enriquece ainda mais o panorama empresarial, impulsionando a inovação e a diversidade de perspetivas pelo maior cultural melting pot.
    • Colaborações globais: Portugal é cada vez mais visto como uma plataforma de lançamento e desenvolvimento para empreendedores e investidores globais. A sua participação na European Startup Nations Alliance posiciona-o como um player vital no cenário da europa continental.

II) O papel da AI nas futuras inovações

  1. Promoção da eficiência e criatividade:
    • Automatização de processos: Start-ups que incorporam AI podem automatizar/robotizar inúmeras tarefas repetitivas, permitindo que a gestão se concentre em a definir e implementar o roadmap mais estratégico. Por exemplo, “chatbots powered by AI” e ferramentas de atendimento ao cliente, permitem melhorar as interações com os utilizadores e otimizar os fluxos de trabalho a um nível mais operacional.
    • Enhanced R&D capabilities: Algoritmos de AI permitem analisar grandes volumes de dados, e desta forma revelar insights que podem levar a inovações disruptivas. Por exemplo, empresas no setor biotecnológico estão a utilizar AI para a descoberta de novos medicamentos (princípios ativos) e modelagem de doenças, acelerando significativamente os processos de investigação e reduzindo os custos de investigação.
  2. Disrupção da indústria:
    • Exemplos de start-ups de AI de sucesso: Start-ups fintech como Unbabel e Feedzai estão a utilizar AI para agilizar processos de atendimento ao cliente e melhorar a deteção de fraudes, respetivamente. Ao transformar modelos tradicionais de banca e atendimento ao cliente, estas entidades servem como exemplos de como a AI pode desestabilizar indústrias estabelecidas.
    • Setores emergentes de AI: O potencial para a inovação disruptiva vai além do fintech, abrangendo áreas como saúde, educação e smart cities. Start-ups nestes setores estão a utilizar AI para medicina personalizada, plataformas de aprendizagem avançadas e gestão urbana eficiente.
  3. Personalização e experiência do utilizador:
    • Insights dos clientes baseados em dados: Ferramentas de AI permitem que as start-ups recolham e analisem dados de clientes de forma eficaz, permitindo-lhes fornecer experiências personalizadas. No setor do retalho e das telecomunicações, por exemplo, as análises preditivas permitem antecipar as preferências dos consumidores, e desenhar estratégias de marketing proativas para impulsionar as vendas e incrementar a retenção e fidelização dos clientes.
    • User engagement: Envolver os utilizadores através de recomendações e conteúdos personalizáveis torna-se cada vez mais vital para a sustentabilidade do crescimento dos negócios. Plataformas movidas a AI podem ajudar as start-ups a melhorar a lealdade do cliente ao aumentar a relevância das suas ofertas.

III) Vantagens de Portugal e da União Europeia para as start-ups

  1. Localização estratégica:
    • Portal para a Europa e acesso a novos mercados: A posição geográfica de Portugal proporciona fácil acesso tanto ao mercado europeu como ao africano, tornando-o um local atrativo para start-ups que procuram oportunidades de expansão. A infraestrutura existente de transporte do país (aeroportuária, viária, ferrovia e portuária), bem como os futuros investimentos (ferrovia alta-velocidade e novo aeroporto), facilita o comércio e o acesso a hubs internacionais.
    • Conexão Cultural com o Brasil: Os laços históricos de Portugal com o Brasil abrem portas para que as start-ups explorem oportunidades no mercado sul-americano, aproveitando semelhanças linguísticas e culturais para uma entrada mais suave e acesso a um novo pull de consumidores.
  2. Acesso a financiamento europeu:
    • Programas de Apoio da EU: Como parte da União Europeia, as start-ups portuguesas têm acesso a diversos mecanismos de financiamento, como o Horizon Europe, que aloca elevados montantes de investimento para projetos de R&D. As start-ups podem candidatar-se a subsídios competitivos que reduzem substancialmente o seu esforço financeiro.
    • Capital de Risco: O ecossistema de capital de risco em Portugal está a crescer rapidamente, com fundos como a Indico Capital Partners, Armilar Venture Partners e a Faber Ventures a procurar investimentos em start-ups inovadoras. Este influxo de capital de risco permite criar start-ups e desenvolver scale-ups de elevado potencial.
  3. Ecossistema favorável à colaboração:
    • Instituições de Investigação e Universidades: Portugal dispõe de inúmeras universidades e instituições de investigação de prestígio, capazes de fomentar a colaboração entre o meio académico e as start-ups. Programas que incentivam projetos de investigação conjunta promovem a inovação e proporcionam às start-ups acesso a recursos e pesquisa de ponta.
    • Iniciativas Cross-Border: A EU promove iniciativas que ligam start-ups e scale-ups entre os estados-membros, permitindo-lhes colaborar, compartilhar melhores práticas e explorar novos mercados.
  4. Diversidade cultural e pool de talentos:
    • Atração de talentos globais: A cultura vibrante e a qualidade de vida em Portugal, tornaram-no num destino apelativo para talentos de todo o mundo. Este variado pool de talentos enriquece o panorama empreendedor, e desta forma promover a criatividade e a inovação.
    • Educação e formação: A ênfase na educação STEM (Science Technology Engineering Mathematics) nas universidades portuguesas assegura um fluxo constante de novos graduados altamente qualificados para o setor tecnológico, fornecendo às start-ups o acesso a um canal robusto de talentos.

Conclusão
Portugal oferece um ambiente promissor e de apoio para as start-ups, especialmente aquelas que adotam a AI como um componente central da sua estratégia. A combinação de apoio governamental, acesso a financiamento e um ecossistema colaborativo, permite capacitar novos players a explorar essas vantagens para inovar e desafiar modelos de negócios tradicionais. À medida que os avanços tecnológicos continuam a moldar o panorama empresarial, as start-ups portuguesas estão bem posicionadas para contribuir significativamente para o crescimento económico e o desenvolvimento sustentável quer dentro da União Europeia, quer no panorama global.


João Mendes possui mais 25 anos de experiência em M&A (esteve envolvido em mais de 20 mil milhões de euros de Due Diligences, que resultaram na aquisição de 10 mil milhões de euros em empresas e assets), consultoria (estratégia e operações) e gestão de empresas (vendas, estratégia e finanças). Trabalhou diretamente com múltiplos mercados (Europa, EUA, Africa, Middle East) e clientes de referência (empresas cotadas, private equities e family offices). É membro de advisory boards e órgãos estatutários de diversas empresas, entre elas o conselho fiscal da Investor Portugal.Tem formação em Engenharia e Gestão Industrial, ramo de empreendimentos pelo (IST), e MBA (Nova School of Business).

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