84% dos líderes dão prioridade ao talento em detrimento da redução de custos

A mais recente edição do estudo Talent Trends, promovido pela Randstad, mostra uma mudança clara nas prioridades das organizações a nível global: 84% dos líderes empresariais estão mais focados em gerar valor através das pessoas do que em cortar custos.
A Randstad acaba de divulgar os resultados do Talent Trends 2025, um estudo global que traça o rumo da gestão de talento à escala mundial. Embora alguns dos desafios no mundo do trabalho se mantenham ao longo da última década, os líderes empresariais enfrentam hoje um cenário em constante transformação, com novas prioridades a moldar a gestão de talento em 2025.
A mais recente edição do estudo Randstad Talent Trends revela que, apesar da persistência de fatores como a incerteza económica e a escassez de talento, os líderes demonstram um claro foco nas pessoas como motor de crescimento.
A inflação continua a impactar negativamente as organizações, sendo considerada uma das maiores dores por 38% dos inquiridos — ainda que tenha registado uma ligeira descida face aos 40% do ano anterior. Já a instabilidade económica permanece uma preocupação central (33%), a par da escassez de talento e de competências, referida por 32% dos participantes.
Num contexto de escassez de competências, envelhecimento da força de trabalho e incerteza económica, 84% dos líderes inquiridos afirmam estar mais focados em gerar valor através das pessoas do que em cortar custos. A tecnologia é vista cada vez mais como um parceiro estratégico — um motor de produtividade e inovação — e não apenas como uma ferramenta operacional.
Apesar destes obstáculos, os líderes empresariais mostram-se cada vez mais otimistas em relação ao futuro. Tecnologias emergentes como a inteligência artificial, a automação e a robótica são vistas como fatores de impacto positivo por 82% dos profissionais de recursos humanos, ao passo que 79% destacam a digitalização da função de RH como uma alavanca de eficiência. Além disso, há uma valorização crescente de estratégias internas centradas nas pessoas: 77% dos inquiridos destacam os benefícios de investir em retenção de talento e em culturas de coaching, e 75% assinalam a importância da mobilidade interna. Já 78% continuam a reconhecer o impacto positivo das iniciativas de equidade, diversidade e inclusão.
“A inteligência artificial está a transformar profundamente a forma como trabalhamos – e mais do que substituir, está a capacitar pessoas. Hoje, vemos um claro movimento das empresas no sentido de colocarem o talento no centro da estratégia, apostando em ferramentas tecnológicas para apoiar, desenvolver e reter os seus profissionais. Isto reflete-se, por exemplo, no crescimento dos marketplaces internos de talento, no foco em percursos personalizados de carreira ou na valorização de competências específicas, acima das funções tradicionais. Estes dados mostram-nos que gerir pessoas nunca foi tão estratégico. O desafio está em equilibrar inovação, cultura e propósito”, refere Isabel Roseiro, diretora de Marketing da Randstad.
O relatório, baseado em respostas de mais de mil decisores de recursos humanos e gestores de topo em 21 mercados internacionais, identifica as dez principais tendências que estão a moldar o futuro do trabalho
1. Reescrever a cultura organizacional com IA
A inteligência artificial está a transformar o modo como as empresas constroem a sua cultura. Ferramentas como assistentes de carreira, chatbots e plataformas de apoio ajudam a criar experiências personalizadas para os colaboradores e a reduzir viés inconsciente nos processos de recrutamento. Apesar de apenas 41% das empresas utilizarem automação para este fim, 83% reconhecem o seu potencial transformador.
2. Inspirar propósito e satisfação no local de trabalho
Com a automação de tarefas repetitivas, os profissionais têm mais tempo para atividades criativas e com impacto, o que se traduz em maior envolvimento e bem-estar. O estudo mostra que 84% sentem-se mais criativos graças à IA, e 83% relatam maior satisfação profissional. A tecnologia está também a ser usada para melhorar a gestão de tempo, comunicação e reconhecimento.
3. Acelerar o crescimento de carreira para todos
A personalização de percursos formativos, a identificação de lacunas de competências e o acesso a coaching digital democratizam o desenvolvimento profissional. Ferramentas de IA permitem que todos os colaboradores — e não apenas os cargos de topo — acedam a oportunidades de progressão, aumentando a retenção e a mobilidade interna.
4. Potenciar o talento neurodivergente com IA
Numa altura de escassez de talento, a inclusão de perfis neurodivergentes representa uma oportunidade ainda subvalorizada. A IA pode ajudar a ajustar processos, remover barreiras e tirar partido de competências como criatividade e reconhecimento de padrões. Nos EUA, até 85% dos adultos autistas com curso superior estão desempregados, um sinal claro da urgência de mudança.
5. Pensar em tarefas e competências, não em cargos
A abordagem tradicional baseada em funções está a ser substituída por uma lógica mais ágil e modular, em que o trabalho é dividido em microtarefas alinhadas com competências específicas. Esta “pixelização” do trabalho permite uma melhor afetação de recursos e reforça a flexibilidade organizacional. A IA desempenha aqui um papel central ao mapear tarefas em tempo real.
6. Inovar nos modelos de trabalho num contexto de crise no mercado laboral
Com a escassez de competências e o envelhecimento da população ativa, os modelos tradicionais de trabalho dão lugar a formatos híbridos, remotos, gig economy ou ecossistemas externos. A diversidade contratual e a flexibilidade deixam de ser exceções e passam a ser partes integrantes da estratégia de talento.
7. Reconfigurar a criação de valor com talento capacitado
Longe da ideia de substituição, a IA é vista como parceiro estratégico na criação de valor. Ao capacitar pessoas com ferramentas tecnológicas e dar-lhes maior autonomia, as organizações estão a potenciar a inovação. 84% dos líderes afirmam estar mais focados na criação de valor humano do que em cortes, refletindo uma nova visão sobre o crescimento sustentável.
8. Fechar o fosso de liderança
As competências exigidas aos líderes estão a mudar: empatia, agilidade, literacia digital e capacidade de gerir equipas híbridas são agora cruciais. As empresas estão a investir em novos programas de mentoring e requalificação, para que a liderança se torne mais inclusiva, colaborativa e orientada para o impacto coletivo.
9. Acelerar a transformação baseada em competências com foco nas necessidades do negócio
A transformação do talento passa agora por um alinhamento estratégico com os objetivos da organização. Mais de metade das empresas aumentaram os seus orçamentos para formação e desenvolvimento em 2024, com foco em competências como IA, pensamento crítico, colaboração e adaptabilidade.
10. Escalar o movimento “skills-first” com marketplaces internos de talento
Ao priorizar as competências em vez dos cargos, as empresas estão a criar marketplaces internos que permitem aos colaboradores aceder a novos projetos, mentores e oportunidades. Esta abordagem reduz o turnover, aumenta a retenção e promove uma cultura de aprendizagem contínua e mobilidade interna fluida.