8 empreendedores lusófonos de sucesso

Conheça os oito empreendedores lusófonos que atuam em diferentes setores e que se distinguem pelo seu percurso de sucesso.
Quantas vezes já ouviu alguém atribuir o sucesso de outro a um golpe de sorte? Ou questionar que “ajudas” alguém terá tido para chegar a determinado cargo, fechar determinado negócio ou parceria?
Muitos continuam a ser os que procuram o sucesso fácil e continuado. Todos eles fazem lembrar o homem sedento e perdido no deserto que enxerga um oásis e, quando quase o alcança, este desvanece-se no ar entre ondas de um calor abrasador.
São estas pessoas as que continuam à espera de um miraculoso “golpe de sorte”, em que tudo lhes cairá no colo sem dor nem sofrimento, sem risco, e ainda com garantia de permanência no tempo.
Mas há quem, em vez de esperar o fácil, se dedique a percorrer o caminho, a contornar as pedras que vão surgindo e que viva hoje o sucesso que muitos atribuem à sorte. Ninguém garante que vão continuar a viver o sonho, mas hoje percorrem esse caminho com determinação.
O Link To Leaders reuniu uma lista de oito empreendedores lusófonos que atuam em diferentes setores e cujo percurso se pautou pelo sucesso.
Na comunicação
Daniel David, SOICO. À segunda, é de vez.
Daniel David era professor de educação física em Moçambique, quando decidiu emigrar para a África do Sul, para trabalhar nas minas como mineiro, em busca de um sonho dourado. Alguns anos depois, voltou ao seu país, onde integrou a TVM, como administrativo. Estudou gestão e foi subindo na empresa, degrau a degrau. Foi diretor de Formação e Cooperação, diretor Comercial e Marketing, até ser nomeado membro do Conselho de Administração. Tornou-se vice-presidente da União das Rádios e Televisões da África (URTNA). Assumiu-se como empreendedor na primeira pessoa com a Bambu, que funcionava numa garagem. No virar do século, veio a Soico que reúne hoje um canal de televisão (Stv), uma estação de rádio (Sfm) e um jornal diário (O País). Daniel David tinha encontrado o seu caminho. Em 2009, foi o único moçambicano convidado a fazer parte da reunião “Clinton Global Inniciative”, depois de, no ano anterior, a sua biografia ter constado no livro “Africa Greatest Entrepreneurs”, publicado por Moky Makura. Contou ainda com participações especiais no Fórum Mundial das Nações Unidas sobre a TV e Rádio, em Nova Iorque, e na Common Wealth Broadcasting Convention, em Cape Town.
Na cosmética
Miguel Krigsner, O Boticário. A inovadora farmácia de Curitiba.
Miguel Krigsner formou-se em farmácia bioquímica em 1975 e, em 1977, abria O Boticário, com um investimento de R$ 3 mil (cerca de 837 euros) que tinha pedido emprestados a um tio. O Boticário era então uma farmácia em Curitiba, Brasil, que se dedicava à preparação de medicamentos personalizados, em especial para cuidados dermatológicos. A farmácia de Miguel Krigsner era já então diferente das demais. Com um ambiente agradável, contava com sofá, revistas e café para quem estava à espera da preparação das receitas. O atendimento era feito pelos próprios farmacêuticos e pelo proprietário, procurando assim transmitir seriedade e segurança aos clientes. Com o aumento da faturação, começou a produzir os seus próprios produtos, que eram comercializados na loja. De um curso que fez em Porto Alegre, trouxe a ideia que deu origem ao O Boticário que conhecemos hoje. Nele, teve contacto com a manipulação artesanal de medicamentos, então a começar a ser redescoberta, e que era capaz de dar um tratamento personalizado ao paciente. A opção pelas fragrâncias veio logo nos primeiros produtos, que já contavam com um aroma agradável, tendo o Acqua Fresca sido um marco da perfumaria brasileira e um sucesso de vendas. Com a sua veia empreendedora, conseguiu transformar esta farmácia numa das maiores empresas de perfumaria e cosmética do Brasil.
Na moda
Ana Sousa, Ana Sousa. Aos 16 anos, começava em Barcelos.
Ana Sousa nasceu em Barcelos e, como tantas outras meninas, o seu passatempo preferido era criar vestidos para as bonecas. Mas Ana não era só mais uma menina. Após um curto período de vida na Póvoa de Varzim, onde aprendeu a costurar com uma tia, regressou a Barcelos e, com apenas 16 anos, criou o seu primeiro atelier, onde fez nascer vestidos de noiva e toilettes exclusivas. Casou aos 18 anos e participou na criação de uma empresa de vestuário familiar. A criatividade e a elevada qualidade pessoal, técnica e profissional de Ana impressionavam, pelo que a empresa a homenageou com a criação da marca ANA SOUSA que, desde logo, implementou em lojas multimarca por todo o país. A marca sobressaiu, ao apostar fortemente na expansão além-fronteiras, através da participação nos mais prestigiados certames de moda internacionais, em países como França, Alemanha, Inglaterra, Noruega, Finlândia, Bélgica, Espanha, Rússia, Luxemburgo, entre outros. Com uma notoriedade cada vez maior nos mercados em que marcava presença, em 1998 Ana abriu a primeira loja ANA SOUSA em Lugo, Espanha. Foi a primeira das 65 lojas que detém atualmente em países tão diferentes como Portugal, Espanha, Rússia, Luxemburgo, África do Sul e Suíça.
José Neves, CEO da Farfetch. O homem que quer revolucionar o ato de comprar.
José Neves fundou a sua primeira empresa aos 19 anos, quando estava na Faculdade de Economia do Porto, na qual desenvolvia software (autodidata) para a indústria têxtil do calçado. Dois anos depois, criou a segunda, a Swear, uma marca de calçado desenhado por ele que, um ano depois, tinha loja aberta em Londres. Treze anos depois, juntou os dois negócios e fundou a Farfetch, sem investidores e com todos os recursos das duas empresas. Arriscou tudo. Correu bem. Tão bem que esta está hoje avaliada em mais de mil milhões de dólares (cerca de 943 mil milhões de euros) e é uma das 76 empresas que compõem o The Billion Dollar Startup Club do Wall Street Journal, onde apenas 15 operam no comércio eletrónico. Desde a sua fundação, José Neves já angariou 176 milhões de euros em capitais de risco internacionais, para alavancar o negócio, que acredita ir tornar-se rentável a partir de 2017. Neste ano, conta faturar 600 milhões de dólares (cerca de 566 milhões de euros). E não ficará por aqui, uma vez que comprou a emblemática loja londrina Browns, com planos para a transformar na loja do futuro.
Na tecnologia
José Epifânio da Franca, Chipidea. Sempre de olhos postos no mundo.
José Epifânio da Franca nasceu em São Tomé e Príncipe, filho de portugueses. Veio estudar para Portugal, onde desenvolveu um impressionante percurso académico na área da eletrónica. Professor académico e investigador, nacional e internacional, responsável por projetos de investigação na EDP, atirou-se de cabeça num programa de doutoramento em Londres, patrocinado pela British Telecom, que lhe abriu os horizontes. Voltou a Portugal e ao ensino, passou pelos EUA e pela China, numa promissora carreira académica, mas tinha uma preocupação que não o largava: a necessidade de promover o elevado talento dos engenheiros portugueses a nível internacional, uma vez que a indústria tradicional do país não tinha espaço para eles. Para o efeito, fundou a Chipidea Microeletrónica, como a ferramenta para os altamente especializados jovens engenheiros portugueses da área da microeletrónica. Dez anos depois, empregava 320 pessoas em oito centros de engenharia, em Portugal, França, Polónia, Bélgica, Noruega e China, contando com cerca de 250 clientes nas três maiores áreas de presença das indústrias de semicondutores e sendo fornecedor de quinze das vinte maiores empresas mundiais de semicondutores. Tinha criado uma das 500 melhores empresas europeias, ao nível do negócio e da criação de emprego. Com o seu objetivo alcançado, vendeu-a a uma empresa do NASDAQ da Califórnia. De lá para cá, tem-se dedicado, para além da carreira académica, à promoção do empreendedorismo, por exemplo nos anos em que liderou a Portugal Ventures. Entre os muitos prémios que recebeu, foi o primeiro Fellow do IEEE em Portugal, em 1997, o grau mais alto a que se pode aceder. Recebeu a Golden Jubilee Medal da Circuits & Systems Society do IEEE em 1999, galardão atribuído apenas a 100 pessoas no mundo, sendo ele o único em Portugal. Os distinguidos foram considerados os que mais se distinguiram cientificamente, nos últimos 50 anos de vida da sociedade.
Nas telecomunicações
Armando Pereira, Altice. “Gosto de me lembrar de onde vim.”
Armando Pereira é um dos quatro sócios-fundadores da Altice, dona, entre outras, da MEO – Serviços de Comunicações e Multimédia (ex-Portugal Telecom). Armando tinha 11 anos quando deixou de estudar e saiu de Guilhofrei, no concelho de Vieira do Minho, para ir viver com uma tia em Espinho. Foi ajudante de canalizador até aos 14 anos, quando emigrou sozinho para França, apenas com dois pares de calças, duas camisolas e 2 mil escudos (9,98 euros). Trabalhou na construção civil e viveu nos estaleiros das obras durante dois anos e meio, até ter conseguido passar a instalar cabos de telefone e a estudar à noite. Com 24 anos, tinha um curso técnico e era responsável por 1500 pessoas. Em vez de se acomodar, despediu-se, pediu ao banco um empréstimo de 300 mil francos (78,6 mil euros) e fundou a Sogetrel, dedicada a redes de telecomunicações, a maior fornecedora da France Telecom. Mas também não se acomodou. Vendeu-a, o que o tornou milionário aos 44 anos, mas continuou lá a trabalhar, até decidir avançar com Patrick Drahi na criação de uma empresa dedicada a comprar operadores de telecomunicações. Muitos “nãos” depois, conseguiram um sim e nasceu a Altice, com 60 milhões de euros. Para além de Portugal, tem negócios em França, em Israel, na Bélgica, no Luxemburgo, na República Dominicana, nas Antilhas, na Martinica, em Guadalupe, na Guiana Francesa, na ilha da Reunião, em Maiorca e na Suíça. Em entrevista à Sábado, referiu que “Gosto de me lembrar de onde vim. Por isso é que nunca me vai ver chegar de Porsche ao escritório.”
Na alimentação
Rui Nabeiro, Delta. Um cliente, um amigo.
Rui Nabeiro dispensa apresentações. Senhor de um grande coração, amigo do seu amigo, levou Campo Maior ao mundo e o mundo a Campo Maior. Hoje é o presidente do grupo Delta. Começou a trabalhar aos 13 anos na torrefação, onde ajudava o pai e o tio na torra do café, e na pequena mercearia da mãe. Com a morte do pai aos 19 anos, viu-se na direção da sociedade de torrefação. Aos 30, atirou-se de cabeça e criou a Delta Cafés com apenas três colaboradores, num pequeno armazém em Campo Maior, com pouco mais de 50 metros, e sem grandes recursos, com apenas duas bolas de torra, com 30 kg de capacidade. Poucos meses depois, distribuía café em todo o país, com um entreposto comercial em Lisboa e outro no Porto. E a luta continuou. Aos 53 anos, fundou a Novadelta, S. A., empresa do Grupo que hoje integra 25 empresas dos mais variados setores: Indústria, Serviços, Comércio, Agricultura, Imobiliário, Hotelaria e Distribuição, organizados por áreas estratégicas. Tem relações comerciais com mais de 40 países e exporta para destinos como a África do Sul, Alemanha, Andorra, Angola, Bélgica, Brasil, Cabo Verde, Canadá, Espanha, Estados Unidos da América, França, Luxemburgo, Moçambique, Reino Unido ou São Tomé e Príncipe. Reconhecido por todos pelo seu talento, profissionalismo e humanidade, Rui Nabeiro recebeu o Grau de Comendador e a Grã-Cruz da Ordem do Infante, tendo sido ainda distinguido com o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Évora. Já parou? Não. Ainda agora deu notícias, com mais um passo em Angola.