Opinião

2025: com vento de incerteza por mares nunca dantes navegados

Tomás Loureiro, Director of Global Intel & Strategic Projects na EDP

Entre avanços tecnológicos, tensões geopolíticas, desafios climáticos e transformações económicas, 2025 surge como um teste à nossa capacidade de adaptação e resiliência. É tempo de arregaçar as mangas e encarar o vento da incerteza de frente – preparados para navegar por mares nunca dantes navegados?

É tipicamente nesta altura que refletimos sobre o ano que passou, sobre o ano que se avizinha e definimos objetivos (ou pelo menos devíamos). Este ano ao fazer essa reflexão apercebi-me que não sei bem o que esperar de 2025 a nível mundial. Depois de uma pandemia e de um 2024 com muitas decisões que podiam e podem definir muito do futuro dos próximos anos, entramos em 2025 com mais incerteza e complexidade a nível mundial, o que traz enormes desafios para as empresas – que têm, mais que nunca, que ser capazes de navegar eficazmente na incerteza sem com isso perderem ambição e tração – e de algum modo para as nossas vidas profissionais e pessoais. Mas vamos por partes.

2024 foi um ano de intensas transformações globais. Para além de eleições em mais de 50 países (EUA como cabeça de cartaz), representando cerca de metade da população mundial, com várias mudanças de poder e governos falhados, assistimos a um aumento nas tensões geopolíticas, com conflitos ativos e em escalada, contribuindo para uma polarização e criação de alianças à escala mundial, e impactando de sobremaneira as cadeias de abastecimento.

Ao nível da economia, destaque para as descidas nas taxas de juro (contribuindo também para os históricos máximos do S&P 500) e para as medidas protecionistas implementadas, em particular face à China. Ao mesmo tempo a crise climática intensificou-se, trazendo ondas de calor recordes, cheias devastadoras e incêndios florestais sem precedentes, num ano em que a COP29 em Baku ficou aquém do esperado.

Em outros campos, os avanços tecnológicos continuaram num ritmo acelerado (com destaque para a inteligência artificial). 2024 foi ainda um ano de Jogos Olímpicos (que marcou o regresso de Simone Biles), ficou marcado pelo fim da Eras Tour da Taylor Swift, a mais lucrativa de sempre, e viu aparecerem inovações nos mais diferentes campos da sociedade.

Olhando para 2025, algumas (naturalmente existem muitas mais) incógnitas e algumas convicções:

Principais incógnitas

  1. Donald Trump – se a eleição dos EUA era provavelmente o acontecimento mais relevante à escala mundial em 2024. Em 2025, grande incógnita é como as suas políticas internas e externas impactarão a economia, a sociedade e os conflitos globais.
  2. Conflitos armados – também impactados pela eleição de Trump, a evolução destes conflitos é uma das grandes incógnitas para 2025. A capacidade das nações de reduzir tensões será determinante: haverá cooperação ou escalada, com reflexos na economia e polarização global?
  3. Europa – Depois de um ano com muitas eleições (tanto nos organismos europeus como nos países), com mudanças talvez inesperadas, 2025 trará também eleições na Alemanha e uma incógnita grande em França, 2 das principais economias. Depois do relatório Draghi, que veio inflamar as discussões relativas à competitividade da Europa vs EUA e China (amplificadas pelas dificuldades em vários setores como o automóvel e perspetivas de estagnação), o próximo ano é fundamental para uma resposta forte e em uníssono (que tem sido continuamente muito difícil). Seremos capazes?
  4. Energia – ainda vamos a tempo de Netzero em 2050? – uma das incógnitas maiores do ano. Neste momento a porta para Netzero em 2050 está a fechar-se, mas ainda é possível. Para isso é necessário que haja um compromisso e colaboração muito forte das nações, o que no contexto geopolítico que vivemos torna-se cada vez mais difícil. Após uma COP29 insuficiente, a COP30 na Amazônia será crucial para definir os próximos passos e um dos acontecimentos do ano.
  5. China – é impossível falar do mundo sem falar na China. E isso vai continuar a acontecer em 2025. No entanto, o “Reino do Meio” enfrenta desafios internos como habitação, consumo desacelerado, envelhecimento populacional e impactos da guerra comercial. A sua capacidade de resposta vai definir muito do que se passará nos próximos anos. É esperar para ver.

Algumas convicções

  1. Inteligência Artificial e Cibersegurança – não é “se”, é “quanto” e “como”. Se 2024 foi um ano de avanços exponenciais na IA, 2025 não ficará atrás, e será o ano da utilização massificada. Para as nossas empresas e equipas, quem não aprender a usar, estará com uma desvantagem competitiva evidente. Veremos também um aumento significativo no investimento em cibersegurança, como forma de proteger a quantidade exponencialmente crescente de dados.
  2. Energias Renováveis – continuarão a crescer massivamente e a substituir progressivamente os combustíveis fósseis. 2025 verá igualmente um aumento significativo de baterias.
  3. India resiliente – apesar da volatilidade mundial, Índia vai continuar a crescer acima do mundo, também suportada pela sua demografia e estabilidade política.
  4. Economia e mercados com volatilidade – incertezas geopolíticas e macroeconómicas farão com que mercados possam oscilar rapidamente.
  5. Empatia, toque humano e propósito na liderança – em particular em climas de incerteza, o propósito e a parte humana adquirem uma importância superlativa nas lideranças e na capacidade de atrair e reter talento. Em 2025 isso será ainda mais evidente.
  6. Modelos híbridos com mais escritório – o modelo híbrido veio provavelmente para ficar, mas veremos “mais escritório” do que no último ano (já estamos a ver inclusivamente por parte de empresas como a Amazon e a Google, que defendiam o modelo “fully remote”).
  7. Tolerância humana posta à prova – tensões geopolíticas e conflitos armados estão a amplificar tensões sociais à escala global e localmente em cada país. 2025 será um teste à tolerância humana. Nesta ótica, também a nível religioso, o Jubileu da Igreja Católica, que só acontece de 25 em 25 anos, será um marco do ano que se inicia.

É com este panorama que entramos em 2025. Como dizia Charles Darwin, “não são as espécies mais inteligentes ou mais fortes que sobrevivem, mas sim as com maior capacidade de adaptação”. Algumas ações que me parecem fundamentais nas empresas para o ano que se inicia:

  • Apostar no crescimento e retenção de talento
  • Diversificar risco e fortalecer cadeias de abastecimento
  • Desenvolver e reforçar capacidades de foresight para interpretar sinais, antecipar o futuro e desconstruir “soundbites
  • Investir em inovação como motor de crescimento e preparação para o incerto
  • Promover uma cultura de agilidade, adaptabilidade e resiliência nas equipas

Em 1990 os Scorpions escreveram “Wind of Change”, em alusão à queda do muro de Berlim e ao fim da Guerra Fria. 35 anos depois, mais do que o vento da mudança (que essa é inegável), é fundamental que nos preparemos (e de modo especial a Europa) para o vento da incerteza, numa altura que entramos em 2025 por mares nunca dantes navegados. Preparados? Vamos a isso!

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Tomás Loureiro

Tomás Loureiro

Tomás Loureiro é Director of Global Intel & Strategic Projects na EDP. Anteriormente, ocupou o cargo de Head of Innovation Intel, sendo responsável por apoiar o CEO da EDP Inovação na definição da estratégia global de inovação e das apostas futuras do Grupo EDP. Também foi Chief of Staff to CEO / Advisor do Board no Grupo Media Capital, responsável por acelerar a implementação da visão estratégica e transformação do grupo, acompanhando também os temas ligados à inovação e customer... Ler Mais..

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