Opinião

“Work-life-balance”: um conceito dinâmico e evolutivo

Tiago Rodrigues, gestor e investidor

O “work-life balance” não é uma fórmula rígida e imutável, antes dinâmica e evolutiva, na medida em que as nossas necessidades e prioridades mudam ao longo da vida. Houve momentos ou períodos da minha vida/carreira em que o meu foco esteve maioritariamente alocado a assuntos de natureza pessoal, contrastando com outros em que me dediquei, quase em exclusivo, a atividades profissionais, algo que me parece aceitável.

O conceito de “work-life balance” (equilíbrio entre vida profissional e pessoal) tem vindo a ganhar relevância num contexto em que a tecnologia parece incentivar, em determinadas funções e atividades, um contato constante com o ambiente de trabalho.

Este conceito assenta na importância (ou capacidade) de equilibrar as responsabilidades no trabalho com as atividades ou necessidades na esfera pessoal ou familiar, promovendo o bem-estar, saúde mental e satisfação em geral, além de um aumento da produtividade laboral.

O conceito de “work-life balance” tem evoluído ao longo do tempo, refletindo mudanças nas necessidades das pessoas a nível social, cultural e tecnológico.

No início do século XX, durante a revolução industrial, a separação entre trabalho e vida pessoal praticamente não existia. Trabalhava-se longas horas em fábricas ou no campo, com jornadas de trabalho exaustivas e pouco tempo livre.

Em meados desse mesmo século, com o aumento da industrialização e a melhoria das condições de trabalho, surgiram ideias mais centradas na qualidade de vida. As leis laborais foram aprimoradas, incluindo férias, jornadas de trabalho limitadas e benefícios, contribuindo para um maior equilíbrio.

No início deste século, com a ascensão da digitalização e da constante conectividade tecnológica, o equilíbrio entre vida profissional e pessoal pareceu estar cada vez mais ameaçado. No entanto, surgiram também novas oportunidades, como o trabalho remoto, horários flexíveis e uma maior ênfase no importante problema da saúde mental.

Com a pandemia Covid-19, assistiu-se a uma transformação relevante. O teletrabalho ganhou um novo fôlego, com muitas empresas a reavaliarem a sua abordagem em relação ao trabalho remoto e horários flexíveis, proporcionando uma oportunidade para as pessoas ajustarem as suas prioridades e encaixarem o trabalho no seu dia-a-dia.

O conceito de “work-life balance” tem, todavia, de ser visto de forma dinâmica e flexível, na medida em que as nossas necessidades e prioridades mudam ao longo da vida. Em vez de procurar um equilíbrio fixo ou imutável, deve ser feita (sempre que possível) uma abordagem mais adaptativa, conciliando o trabalho e a vida pessoal em diferentes fases da vida ou em função de circunstâncias específicas.

Fazendo uma retrospetiva pessoal, houve, efetivamente, momentos ou períodos da minha vida/carreira em que o meu foco esteve maioritária ou integralmente alocado a assuntos de natureza pessoal, contrastando com outros em que me dediquei, quase que exclusivamente, a atividades profissionais, e devo dizer que isto é algo que me parece razoável e aceitável, desde que os motivos ou eventos assim o justifiquem e os impactos nefastos não se sobreponham aos respetivos benefícios.

Por outro lado, creio que a perceção de “equilíbrio” tende a evoluir ao longo da nossa vida/carreira.

Lembro-me de nos primeiros anos da minha carreira, ainda pelo mundo da consultoria, ser (bastante) tolerante à dificuldade (ou mesmo impossibilidade) de passar mais tempo com a família ou de deixar de jogar aquela “futebolada” ou de juntar-me aquela “jantarada” com os amigos. O mesmo não sucede hoje, 25 anos volvidos; ter tempo para mim próprio, família e amigos, desfrutar (por princípio, existindo exceções) de fins-de-semana ou de férias de verdade passou a ser imperativo e algo que não abdico de todo.

No início da carreira, existe um foco mais pronunciado no desenvolvimento profissional, por via da aquisição de experiência e definição da nossa trajetória, com maior dedicação ao trabalho e oportunidades para crescer mais rapidamente.

Na meia-idade, quando se começam a formar famílias ou se assumem responsabilidades mais significativas, o foco tende a mudar, procurando-se uma maior flexibilidade no trabalho e a adaptação deste a uma nova realidade, com horários flexíveis ou até possibilidade de teletrabalho.

Já na fase de transição (pré-reforma ou mudança de carreira), o equilíbrio tende a tornar-se mais evidente, com uma maior ênfase para o tempo livre, hobbies, viagens ou no desenvolvimento de novas atividades extratrabalho, como seja trabalhos de meio período ou atividades voluntárias.

Por fim, na fase de reforma (ou reinvenção), o trabalho perde o seu papel central, mas a forma como o tempo é ocupado pode variar. O conceito de equilíbrio recai sobre como equilibrar o tempo livre com novas formas de conexão social e intelectual.

O “work-life balance” não é, portanto, uma fórmula rígida e imutável, antes dinâmica e evolutiva, porque o que funciona num momento específico da nossa vida pode não funcionar num outro.

O que me parece importante é que cada um seja capaz de adaptar (sempre que possível) a sua relação com o trabalho de acordo com suas circunstâncias, necessidades e prioridades. O equilíbrio ideal pode mudar à medida que a vida se transforma, e, com a flexibilidade, admito que seja possível criar um estilo de vida mais satisfatório e alinhado com as diferentes fases que atravessamos.

* Parte da pesquisa deste artigo foi efetuada com recurso a ferramentas de inteligência artificial.

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Tiago Rodrigues

Tiago Rodrigues

Tiago Rodrigues conta com mais de quinze anos em funções de gestão e administração em empresas de energia, infraestrutura, turismo e imobiliário e oito anos como consultor, com experiência de vida, profissional e académica em Portugal, Brasil, Reino Unido e EUA. Concluiu um programa de liderança em Harvard, uma pós-graduação em finanças, uma licenciatura em economia e um bacharelato em contabilidade e administração. Foi palestrante em dezenas de eventos de negócios na Europa e em programas de universidades portuguesas. Gosta... Ler Mais..

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