Opinião
A economia pode derrotar um exército
Escrevo este artigo, passados quase 30 dias de guerra, na esperança de que tudo possa acabar rápido, deixando para trás o impensável. A invasão da Ucrânia por parte da Rússia representa uma ameaça no plano das relações geopolíticas e na relação de forças entre a Nato, Países Aliados e a Rússia, pondo em causa a paz mundial.
Mas aquilo que parecia ser uma ação de ocupação de poucos dias revelou-se afinal um completo desastre! Para combater esta tremenda atrocidade, o Ocidente, numa união sem precedentes (onde até a neutra Suíça entra), impôs à Rússia uma série de violentas sanções económicas que pode representar o prenúncio da queda do regime russo, sem a necessidade de disparar um único tiro.
Aplicando a máxima de Sun Tzu que referia que “A habilidade de alcançar a vitória mudando e adaptando-se de acordo com o inimigo é chamada de genialidade”, o Ocidente, EUA e Aliados, por via das sanções económicas e financeiras aplicadas, estão a levar a economia russa a um bloqueio que poderá indiciar uma das maiores crises económicas jamais vivida pelo seu povo e que pode ajudar o povo ucraniano a vencer esta guerra.
O Rublo sofreu uma depreciação severa, havendo já sinais de colapso monetário e de uma inflação descontrolada. Por força desta situação, os gastos na administração pública aumentaram brutalmente. Em cadeia, e por conta do embargo às exportações por parte do Ocidente, assistimos ao total desequilíbrio da balança comercial com o aumento inevitável das importações.
No plano das commodities, que têm um grande valor comercial e estratégico para a Rússia, assistimos a uma queda da receita da venda de produtos como o petróleo e o gás natural, o que é dramático uma vez que representam cerca de 40% das receitas. Mas também os minérios como o paládio, o cobre, o alumínio ou os cerais tiveram uma queda acentuada deixando pouca (ou nenhuma) margem de recuperação para o regime de Vladimir Putin.
As oscilações e queda abrupta dos preços já contaminaram outras atividades, nomeadamente a atividade industrial e também o comércio, sendo que as cadeias de produção, transformação e distribuição de mercadorias na Rússia estão completamente arrasadas.
A estratégia de Putin vai levar ao colapso o sistema bancário onde os bancos já nem conseguem aceder ao “Swift” (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication), não podendo assim garantir e realizar transações interbancárias internacionais, o que por si só estrangula a circulação de capitais, mas pior do que isso, isola completamente o sistema bancário.
Associado a esta escalada temos ainda a maioria das agências de rating a colocarem a Rússia no patamar do “Lixo”, o que, numa situação normal, comprometeria os empréstimos e dificultaria o financiamento da economia, mas, no caso atual da Rússia é quase uma declaração de impossibilidade de adquirir qualquer financiamento e nem mesmo o Banco Central Russo pode ajudar, uma vez que terá ficado sem 400 biliões de dólares em contas bancárias estrangeiras congeladas.
Para agravar tudo isto, a Rússia está prestes a entrar em “default”, estando as autoridades russas a tentar pagar juros de dívida usando ativos alvo de sanções, ou seja, que estão congelados. Portanto, estando os ativos realmente bloqueados é bem provável que a Rússia entre em “default” nos próximos dias, algo que, a acontecer, é inédito em mais de 100 anos.
O caminho é cada vez mais estreito para o regime de Putin e para a economia russa onde a sua capacidade de se financiar só pode ter alguma hipótese se a China ajudar.
Estima-se que a cada dia de guerra o governo russo gaste cerca de 20 biliões de dólares o que começa a ser insuportável para uma Rússia completamente asfixiada que vê a sua violência militar a esbarrar contra uma resistência ucraniana cheia de coragem, que defende a sua liberdade acima de tudo.
Mas a Rússia também não esperava que, a suportar uma brava resistência ucraniana, existisse uma estratégia concertada do Ocidente e países aliados que, por via de sanções económicas, está a estrangular financeiramente a Rússia.
O colapso é iminente e previsível e talvez assim a barbárie que Putin está a levar a cabo na Ucrânia possa parar o mais rápido possível. Para o mundo e para a economia global esperam-se também momentos difíceis, mas o pior cenário de todos seria não haver resistência e não se disferir um contra-ataque impiedoso para impedir que um ditador – Vladimir Putin – pudesse condicionar a paz no mundo.
Como disse Churchill, “É inútil dizer que ‘estamos a fazer o possível’. Precisamos de fazer o que é necessário“. Nesta matéria da ação, a Europa, EUA e países aliados têm feito o possível, mas também o necessário, à luz do Direito internacional e no âmbito das limitações da NATO, para ajudar a Ucrânia a derrotar a poderosa Rússia. Ao que parece – embora seja insuficiente para salvar as vidas de muitas e muitos ucranianos – as armas económicas e financeiras podem vir a derrotar o poderio bélico de uma superpotência que pagará caro a ambição desmedida do seu líder.
No entanto, e apesar da necessidade de sermos otimistas, teremos consequências duras para a economia global e principalmente para as economias mais frágeis como a de Portugal. A imprevisibilidade é inimiga do investidor e da economia em geral, mas ela aí está e agora resta apertar o cinto de segurança e esperar que esta viagem alucinante acabe o mais rápido possível com a vitória da economia sobre o exército russo.