Opinião

A economia pode derrotar um exército

Rodrigo Gonçalves, Managing Partner da PTG Portugal

Escrevo este artigo, passados quase 30 dias de guerra, na esperança de que tudo possa acabar rápido, deixando para trás o impensável. A invasão da Ucrânia por parte da Rússia representa uma ameaça no plano das relações geopolíticas e na relação de forças entre a Nato, Países Aliados e a Rússia, pondo em causa a paz mundial.

Mas aquilo que parecia ser uma ação de ocupação de poucos dias revelou-se afinal um completo desastre! Para combater esta tremenda atrocidade, o Ocidente, numa união sem precedentes (onde até a neutra Suíça entra), impôs à Rússia uma série de violentas sanções económicas que pode representar o prenúncio da queda do regime russo, sem a necessidade de disparar um único tiro.

Aplicando a máxima de Sun Tzu que referia que “A habilidade de alcançar a vitória mudando e adaptando-se de acordo com o inimigo é chamada de genialidade”, o Ocidente, EUA e Aliados, por via das sanções económicas e financeiras aplicadas, estão a levar a economia russa a um bloqueio que poderá indiciar uma das maiores crises económicas jamais vivida pelo seu povo e que pode ajudar o povo ucraniano a vencer esta guerra.

O Rublo sofreu uma depreciação severa, havendo já sinais de colapso monetário e de uma inflação descontrolada. Por força desta situação, os gastos na administração pública aumentaram brutalmente. Em cadeia, e por conta do embargo às exportações por parte do Ocidente, assistimos ao total desequilíbrio da balança comercial com o aumento inevitável das importações.

No plano das commodities, que têm um grande valor comercial e estratégico para a Rússia, assistimos a uma queda da receita da venda de produtos como o petróleo e o gás natural, o que é dramático uma vez que representam cerca de 40% das receitas. Mas também os minérios como o paládio, o cobre, o alumínio ou os cerais tiveram uma queda acentuada deixando pouca (ou nenhuma) margem de recuperação para o regime de Vladimir Putin.

As oscilações e queda abrupta dos preços já contaminaram outras atividades, nomeadamente a atividade industrial e também o comércio, sendo que as cadeias de produção, transformação e distribuição de mercadorias na Rússia estão completamente arrasadas.

A estratégia de Putin vai levar ao colapso o sistema bancário onde os bancos já nem conseguem aceder ao “Swift” (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication), não podendo assim garantir e realizar transações interbancárias internacionais, o que por si só estrangula a circulação de capitais, mas pior do que isso, isola completamente o sistema bancário.

Associado a esta escalada temos ainda a maioria das agências de rating a colocarem a Rússia no patamar do “Lixo”, o que, numa situação normal, comprometeria os empréstimos e dificultaria o financiamento da economia, mas, no caso atual da Rússia é quase uma declaração de impossibilidade de adquirir qualquer financiamento e nem mesmo o Banco Central Russo pode ajudar, uma vez que terá ficado sem 400 biliões de dólares em contas bancárias estrangeiras congeladas.

Para agravar tudo isto, a Rússia está prestes a entrar em “default”, estando as autoridades russas a tentar pagar juros de dívida usando ativos alvo de sanções, ou seja, que estão congelados. Portanto, estando os ativos realmente bloqueados é bem provável que a Rússia entre em “default” nos próximos dias, algo que, a acontecer, é inédito em mais de 100 anos.

O caminho é cada vez mais estreito para o regime de Putin e para a economia russa onde a sua capacidade de se financiar só pode ter alguma hipótese se a China ajudar.

Estima-se que a cada dia de guerra o governo russo gaste cerca de 20 biliões de dólares o que começa a ser insuportável para uma Rússia completamente asfixiada que vê a sua violência militar a esbarrar contra uma resistência ucraniana cheia de coragem, que defende a sua liberdade acima de tudo.

Mas a Rússia também não esperava que, a suportar uma brava resistência ucraniana, existisse uma estratégia concertada do Ocidente e países aliados que, por via de sanções económicas, está a estrangular financeiramente a Rússia.

O colapso é iminente e previsível e talvez assim a barbárie que Putin está a levar a cabo na Ucrânia possa parar o mais rápido possível. Para o mundo e para a economia global esperam-se também momentos difíceis, mas o pior cenário de todos seria não haver resistência e não se disferir um contra-ataque impiedoso para impedir que um ditador – Vladimir Putin – pudesse condicionar a paz no mundo.

Como disse Churchill, “É inútil dizer que ‘estamos a fazer o possível’. Precisamos de fazer o que é necessário“. Nesta matéria da ação, a Europa, EUA e países aliados têm feito o possível, mas também o necessário, à luz do Direito internacional e no âmbito das limitações da NATO, para ajudar a Ucrânia a derrotar a poderosa Rússia. Ao que parece – embora seja insuficiente para salvar as vidas de muitas e muitos ucranianos – as armas económicas e financeiras podem vir a derrotar o poderio bélico de uma superpotência que pagará caro a ambição desmedida do seu líder.

No entanto, e apesar da necessidade de sermos otimistas, teremos consequências duras para a economia global e principalmente para as economias mais frágeis como a de Portugal. A imprevisibilidade é inimiga do investidor e da economia em geral, mas ela aí está e agora resta apertar o cinto de segurança e esperar que esta viagem alucinante acabe o mais rápido possível com a vitória da economia sobre o exército russo.

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Rodrigo Gonçalves

Rodrigo Gonçalves

Rodrigo Gonçalves nasceu em 1974, em Lisboa. Economista, gestor de negócios, empresário, consultor em liderança e gestão de equipas e um empreendedor apaixonado e resiliente. Licenciado em Ciência Política pela Universidade Lusíada, Mestre em Ciência Política, Cidadania e Governação pela Universidade Lusófona, tem ainda um MBA em Liderança de Pessoas, Organizações e Negócios (pela Universidade Autónoma de Lisboa), uma Pós-graduação em Gestão (pelo Instituto Superior de Gestão), um pós-graduação em "Global Business" (pela Harvard Business School), um Business Course em... Ler Mais..

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