Opinião
Vamos falar sobre as mulheres que empreendem?

Empreender no feminino não é uma coisa nova. Desde sempre que as mulheres têm assumido papéis na sociedade que exigem as valências necessárias a um empreendedor: foco, resiliência e paixão. É, porém, desproporcional o “tempo de antena” que estas mulheres recebem, quando comparado com a importância da sua presença e resultados no mercado.
Os dados são reveladores, por exemplo start-ups fundadas por mulheres recebem menos investimento (0,93M em vez de 2,12M, pelos homens), mas geram mais lucro (0,73M em vez de 0,66M). Essa é uma tendência que tem vindo a ser melhorada, mas que exige ainda muito trabalho e atenção.
As organizações pedem diversidade: ter equipas diversas (no género, nacionalidade, background académico, experiência, etc.) é hoje uma vantagem competitiva. Ter talento diverso é essencial para se compreender o mundo global em que vivemos hoje e para responder às suas necessidades. No meu trabalho de investigação, percebi o valor da riqueza que resulta das equipas com diferentes perfis em várias dimensões. No entanto, hoje, podemos notar que a diferença de representação do género feminino ainda é uma causa que precisa de muito trabalho. O ecossistema empreendedor não é uma exceção: embora existam mulheres com muito valor e cartas dadas nas nossas start-ups, em Portugal e no estrangeiro, ainda são pouco conhecidas as suas histórias.
No ano passado, o Center for Technological Innovation & Entrepreneurship (CTIE) da Católica-Lisbon lançou o Women Entrepreneurship Award, um prémio que quer distinguir mulheres empreendedoras que se tenham destacado durante o último ano. Joana Rafael foi a vencedora desta primeira edição. A Joana é empreendedora e cofundadora da Sensei.tech. E quem a conhece sabe que tem como grande inspiração a sua mãe.
A Joana tem um percurso notável, tendo passado pela NADAAA, Inc. onde desenvolveu vários projetos de arquitetura para o Canadá, França e EUA. É especialista em operações na indústria da moda e do retalho, tendo liderado a implementação da transformação digital de vários projetos de marcas de referência nacionais. Tem uma pós-graduação em Gestão e Sustentabilidade na Universidade de Harvard e um Mestrado Executivo em Sistemas de Energia Sustentável pelo Instituto Superior Técnico.
Esta é seguramente uma história importante para se contar. E como esta, nós sabemos que há mais que merecem ser partilhadas. É isso que nos falta: é importante darmos a conhecer quem são estas mulheres que empreendem e qual é a sua história. São estas mulheres que vão dar às gerações futuras o exemplo que elas precisam para se inspirarem e avançarem com os seus projetos. É na inspiração e criação de role models que reside o verdadeiro valor da comunicação destes casos de sucesso. É preciso contar às jovens mulheres que a mulher empreendedora e líder tem um papel essencial na nossa sociedade e ainda mais: que há espaço para elas empreenderem no futuro.
*E Dean for Executive Education da Católica-Lisbon
Doutorada em Estratégia Empresarial (École Polytechnique, Paris), mestre em Gestão (Université Paris Dauphine) e licenciada em Economia e Gestão (École Normale Supérieure de Cachan e La Sorbonne), Céline Abecassis-Moedas é diretora da Formação de Executivos, fundadora e diretora Académica do Center for Technological Innovation & Entrepreneurship e professora associada nas áreas de Estratégia e Inovação na CATÓLICA-LISBON. Além disso é professora afiliada na ESCP Europe, onde é titular da Cátedra “Fashion and Technology”. Além disso é também administradora não executiva dos CTT e da José de Mello Saúde.
Foi professora na Queen Mary University of London e trabalhou como consultora de estratégia na AT Kearney, em Londres, e como gestora de Produto na Lectra, em Nova Iorque.