Entrevista/ “Vamos abrir um escritório em Lisboa para promover as exportações”

Jorge Viana, presidente da ApexBrasil*

Até o final deste ano, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos vai inaugurar um escritório em Lisboa, para promover a internacionalização de empresas brasileiras na Europa, revelou Jorge Viana, presidente da agência, em entrevista ao Link to Leaders.

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) trouxe ao Web Summit Lisboa 2023 a maior delegação já organizada pela agência – 185 empresas de vários setores, desde fintechs, agritechs, healthtechs, biotecnologia, passando pela tecnologia da informação até à indústria dos dados – e lançou a Plataforma Brasil Exportação para simplificar e democratizar o acesso às exportações.

Para a agência, Portugal é muito mais do que uma porta de entrada para Europa. “As relações entre Brasil e Portugal são pautadas pelos laços histórico-culturais que unem os dois países, mas elas vão muito além da dimensão histórica, havendo interesse mútuo na utilização do capital político bilateral para o incremento do comércio e dos investimentos bilaterais e para o estabelecimento de novas parcerias nos campos científico, tecnológico, cultural e educacional”, afirmou Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, que ainda este ano vai abrir um escritório em Lisboa.

“Apenas entre 2020 e 2021, o stock de investimento brasileiro no país aumentou 35%”, revelou o responsável ao Link to Leaders, referindo ainda que “queremos que o Brasil seja reconhecido como um destino prioritário de investimentos e como um país que caminha a passos firmes para se tornar numa ScaleUp Nation”.

Como avalia o papel da ApexBrasil desde que assumiu a presidência a da agência?
A nova gestão da ApexBrasil tem como metas diversificar origens e destinos das exportações brasileiras, aumentar investimentos e promover as exportações, incrementando a participação de pequenas e médias empresas na pauta exportadora brasileira, enquanto aprimoramos a nossa estratégia ESG e, assim, fazemos da ApexBrasil a verdadeira promotora do desenvolvimento sustentável nacional.

Precisamos de aumentar a participação de estados do Norte e Nordeste nas exportações brasileiras. Apesar do grande potencial das regiões, elas ainda exportam pouco comparativamente com as restantes regiões brasileiras. Queremos apoiar esse desenvolvimento regional, para que o nosso comércio exterior seja mais equilibrado quanto às origens.

Mas também precisamos de diversificar os destinos das exportações. Queremos dinamizar as relações com a América do Sul e a África, sem descurar os nossos parceiros tradicionais, sendo o esforço do presidente Lula para a confirmação do acordo Mercosul-União Europeia exemplo. Os eixos de inserção Norte e Sul são complementares e não alternativos.

Além disso, temos um compromisso com a inclusão social, com as melhores práticas de governança e com a proteção ambiental. Alinhada com as diretrizes propostas pelo Pacto Global e os ODS da ONU, a ApexBrasil entende que não é possível alcançar uma sociedade justa e igualitária sem a convergência do setor produtivo rumo ao crescimento sustentável. Nesse sentido, temos priorizado a agenda ESG, visando que as empresas apoiadas sejam inovadoras e responsáveis social e ambientalmente, alinhando-se a um paradigma de desenvolvimento sustentável.

Por fim, gostaria de destacar como a balança comercial e as exportações brasileiras bateram recordes este ano. Somente até o mês de outubro, as exportações ultrapassaram os os 282 mil milhões de dólares, enquanto o nosso saldo comercial chegou aos 80 mil milhões de dólares.

“Para nós, Portugal é um país prioritário. Assim, estamos à procura de pontos de convergência e de levar a cabo uma aproximação com a AIECEP”.

Em maio deste ano, a ApexBrasil assinou um memorando de entendimento com a portuguesa AICEP para desenvolvimento de ações para a internacionalização de start-ups nos dois países. Como está a correr esse processo?
Para nós, Portugal é um país prioritário. Assim, estamos à procura de pontos de convergência e de levar a cabo uma aproximação com a AIECEP. O seu presidente, Filipe Santos Costa, participou no dia 13 de novembro no nosso Seminário de Internacionalização em Lisboa. O Seminário de Internacionalização apresentou a cerca de 200 start-ups e empresas brasileiras os principais programas de apoio de Portugal e as razões pelas quais o país tem atraído investimentos na economia digital. Além disso, a vamos abrir um escritório em Lisboa para promover as exportações, atrair investimentos e incubar empresas brasileiras num processo de internacionalização.

Portugal é apenas uma porta de entrada para as empresas brasileiras chegarem à Europa ou é mais do que isso?
Portugal é muito mais do que só uma porta de entrada para Europa. Portugal é uma prioridade para a ApexBrasil pelo que o país representa para nós. As relações entre Brasil e Portugal são pautadas pelos laços histórico-culturais que unem os dois países, mas elas vão muito além da dimensão histórica, havendo interesse mútuo na utilização do capital político bilateral para o incremento do comércio e dos investimentos bilaterais e para o estabelecimento de novas parcerias nos campos científico, tecnológico, cultural e educacional. Os investimentos brasileiros em Portugal têm crescido. Apenas entre 2020 e 2021, o stock de investimento brasileiro no país aumentou 35%

Quais são os mercados mais interessantes, no cenário internacional, para a ApexBrasil e para as empresas e start-ups que representam?
Os principais mercados que temos trabalhado e que geraram um maior número de anúncios de abertura de operação por start-ups apoiadas são: Portugal, EUA, Emirados Árabes, França, Chile. Agora temos trabalhado com outros destinos também que têm muito potencial, especialmente Singapura e China

O panorama político Brasil tem condicionado o investimento externo, a atuação da própria ApexBrasil?
O governo do presidente Lula quis, desde o início, pacificar o clima político no Brasil e mostrar que o país é um destino seguro para investimentos do mundo inteiro. Recentemente, na abertura do Brazilian Investment Forum, promovido pela ApexBrasil, o presidente destacou que seu governo vai garantir estabilidade política, a estabilidade social, a estabilidade jurídica, a estabilidade fiscal, para que os investidores possam colocar em ação a inteligência empresarial para que o Brasil cresça cada vez mais. E os números já mostram os efeitos deste novo clima. O Brasil cresceu acima do esperado pelo FMI, as exportações e a balança comercial bateram recorde, e o Brasil é hoje o segundo maior receptor de investimento direto no mundo.

“Hoje são mais de 13 mil as start-ups que operam no país, mais de 100 empresas que desenvolvem atividades de inovação aberta ou corporate venture capital, mais de 32 unicórnios (…) e mais de 300 hubs de inovação”.

Como avalia o ecossistema brasileiro de venture capital, business angels de start-ups?
O Brasil é um dos líderes na América Latina em termos de inovação, start-ups, corporate ventures e unicórnios. Hoje são mais de 13 mil as start-ups que operam no país, mais de 100 empresas que desenvolvem atividades de inovação aberta ou corporate venture capital, mais de 32 unicórnios, empresas com valor de mercado acima dos mil milhões de dólares, e mais de 300 hubs de inovação. Estes números mostram que somos hoje uma referência de país inovador, com soluções tecnológicas escaláveis em diversos segmentos de mercado que despertam o interesse internacional, além de fomentar a indústria nacional.

Em termos de Venture Capital, o Brasil apresenta-se como líder regional. Em 2022, 4,7 mil milhões de dólares foram investidos no Brasil, o que representa aproximadamente 60% de tudo que é investido na América Latina.

E o mundo (Europa, EUA…) já consegue ver o potencial empreendedor da América Latina? Embrionário, maduro…?Como gostaria que o mercado internacional olhasse para oferta brasileira no domínio do empreendedorismo, da inovação, dos produtos e serviços?
Queremos que o Brasil seja reconhecido como um destino prioritário de investimentos e como um país que caminha a passos firmes para se tornar numa ScaleUp Nation, ou seja, numa nação onde as start-ups possuem grandes oportunidades para veres os seus negócios a crescerem.

Os investimentos em start-ups e na forma de venture capital têm crescido, mas fora dos círculos mais especializados ainda existe uma visão estigmatizada do Brasil. É por isso também que participámos no Web Summit, para que a nossa imagem como celeiro de inovação seja consolidada.

O brasileiro gosta de testar, aprender e envolver-se com as novas soluções, assim que as novidades são implementadas rapidamente no país e antes de chegarem a outros lugares. Além disso, o Brasil tem um mercado consumidor de mais de 200 milhões de habitantes, com cerca de 90% das casas com acesso à Internet, e uma oferta de serviços tecnológicos multisetoriais.

O seu percurso profissional passou pela política… de que forma o seu conhecimento e visão do mundo o têm ajudado a dinamizar a atuação da ApexBrasil internacionalmente?
A minha trajetória profissional inclui a atuação política, como prefeito, governador e senador, mas também experiência como executivo no setor privado. Tudo isso tem sido importante à frente da Apex.

 

*Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos

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