Opinião
Uma crise que é um verdadeiro teste às capacidades de gestão e liderança
Francisco Ferreira Pinto, Partner da Bynd Venture Capital, analisa o impacto da crise provocada pelo Covid-19 na atividade das start-ups e deixa algumas sugestões para que consigam estar nas plenas capacidades e prontas para retomar a normalidade quando tudo acalmar.
O partner da Bynd Venture Capital, o segundo entrevistado de um conjunto de cinco entrevistas a publicar ao longo desta semana com business angels, foi desafiado pelo Link To Leaders a analisar as consequências que o Covid-19 está a ter, ou vai ter, na atividade das start-ups nacionais e como estas poderão preparar-se para ultrapassar esta fase conturbada.
Francisco Ferreira Pinto sugere que, neste momento, cuidar da tesouraria, manter o foco na inovação e manter o equilíbrio emocional são aspectos que os fundadores das start-ups devem priorizar.
(…) embora nos encontremos num cenário hostil para grande parte das empresas, são muitas as start-ups, empreendedores e colaboradores de empresas tecnológicas que se aprontaram a apoiar quem mais precisa neste momento (…)”
Conseguirão as start-ups portuguesas adaptar-se às consequências do Covid-19?
Devido à imprevisibilidade de duração e de impacto que o novo coronavírus poderá ter a nível global, julgo que ainda é cedo para prever o impacto em Portugal, mas é certo que estamos perante um evento de mudança, que requer ajustes rápidos e que em muitos casos serão profundos na atividade das start-ups.
Ainda assim, acredito que o ecossistema em Portugal está hoje muito melhor preparado para enfrentar esta crise do que estava, por exemplo, durante a crise financeira e que essa experiência irá ajudar a ultrapassar estas dificuldades e se encontrarem soluções que permitam navegar este período. Refira-se também que, embora nos encontremos num cenário hostil para grande parte das empresas, são muitas as start-ups, empreendedores e colaboradores de empresas tecnológicas que se aprontaram a apoiar quem mais precisa neste momento, através das mais variadas iniciativas, inovando, criando valor e demonstrando uma capacidade de adaptação invulgar para contribuir para a superação desta crise.
“Os setores tendencialmente mais afetados serão todos os que tenham associados modelos de negócios com maior dependência da presença física dos clientes”.
Quais serão os setores mais afetados e quais as start-ups que poderão tirar “maior partido” da situação?
Os setores tendencialmente mais afetados serão todos os que tenham associados modelos de negócios com maior dependência da presença física dos clientes. Adicionalmente, empresas muito centradas na economia de partilha (“sharing economy”), como, por exemplo, soluções de mobilidade, partilha de carros, trotinetes, tenderão a ter um decréscimo significativo da sua atividade, principalmente durante os períodos de quarentena. Por último, start-ups ligadas ao turismo, restauração ou hotelaria também estão muito expostas à redução de atividade já hoje verificada nestes setores.
Em termos dos setores que poderão sofrer menos, encontramos as start-ups que apresentam soluções para os desafios que grande parte da população enfrenta atualmente, como é o caso de plataformas de entrega, que agora também se adaptaram para distribuir bens essenciais (e.g. comida de restaurantes, compras de supermercado ou material de escritório), as soluções de software colaborativo, que diminuem as dificuldades do trabalho remoto, da educação à distância ou de telemedicina, e as empresas de biotecnologia e de diagnóstico médico, que poderão ter capacidade de encontrar uma resposta para o problema atual.
Como em todas as situações, existirão as que conseguirão resistir melhor por terem soluções e/ou modelos de negócio que melhor se adaptam às circunstâncias, mas, julgo que em termos globais será um momento de uma enorme complexidade para todos.
(…) considero também fundamental manterem [as start-ups] equilíbrio emocional assegurando que se enfrenta este tumulto com as plenas capacidades e pronto para retomar a normalidade quando tudo acalmar”.
Que conselhos dá aos fundadores das start-ups?
Destacaria os seguintes três aspectos a priorizar pelos fundadores das start-ups:
Cuidar da tesouraria – A tesouraria é crítica e o principal garante de continuidade do negócio. Nesse sentido, hoje mais do que nunca, é necessário gerir a tesouraria com a máxima preocupação. Para tal, é fundamental diagnosticar a situação atual, rever os planos de negócios existentes adaptando-os ao cenário de incerteza em que vivemos e implementar medidas que procurem assegurar a tesouraria para os próximos meses (idealmente para os próximos 12 meses). Estão hoje em vigor / irão estar em vigor diferentes medidas extraordinárias de apoio à tesouraria das empresas que podem ajudar os fundadores a resolver este difícil exercício de equilibrar as contas durante este período (apoios nos pagamentos de salários, linhas de financiamento, diferimento nos pagamentos ao Estado, entre outras).
Manter o foco na inovação – Por vezes os problemas são tantos, que não existe tempo para se continuar a inovar. Mas julgo que dependendo do negócio em questão, podem existir iniciativas a considerar tais como:
i) aproveitar a quebra no negócio para focar no desenvolvimento e melhoramento do produto;
ii) na atividade comercial procurar novas formas de chegar aos clientes, novos modelos de negócio (adiantamentos / renovações dos clientes satisfeitos com descontos interessantes?) ou ;
iii) criar novos produtos ou serviços que possam acrescentar valor no curto prazo aos clientes e possivelmente enriquecer a oferta no futuro.
Manter o equilíbrio emocional – Para muitos dos fundadores atuais, esta crise estará a ser a fase mais difícil pela qual já terão passado, com uma série de desafios diários com os quais nunca tiveram de lidar e um verdadeiro teste às suas capacidades de gestão e liderança. Com uma responsabilidade muito grande em cima dos ombros e um futuro imediato ainda incerto, considero também fundamental manterem equilíbrio emocional assegurando que se enfrenta este tumulto com as plenas capacidades e pronto para retomar a normalidade quando tudo acalmar.








