Opinião

Como a IA está a reescrever as regras do marketing

Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A

A revolução já começou — e poucos parecem verdadeiramente preparados para ela. A Inteligência Artificial (IA) não é apenas mais uma tecnologia emergente: é a força que está a reescrever, em tempo real, as regras do marketing contemporâneo.

O que antes dependia de intuição, planeamento e experiência humana, hoje é amplificado por algoritmos que aprendem, produzem e decidem com uma velocidade sem precedentes. O marketing é hoje uma disciplina híbrida, onde a criatividade se combina com a matemática e onde o talento humano encontra um novo aliado digital.

De acordo com um estudo recente da McKinsey, mais de 70% das empresas já utilizam a IA em pelo menos uma área operacional do marketing, e aquelas que o fazem de forma estruturada registam aumentos de eficiência operacional entre 15% e 20%. A automação de tarefas, como a análise de dados, a personalização de mensagens ou a segmentação de audiências, liberta as equipas para se concentrarem naquilo que a tecnologia ainda não consegue replicar com maior eficácia, como seja o pensamento estratégico ou a empatia.

É uma transição de paradigma — de um marketing baseado em campanhas para um marketing baseado em experiências contínuas. Hoje, o consumidor digital vive num estado permanente de interação e exige personalização instantânea, coerência e relevância. Por exemplo, na Netflix, mais de 80% dos conteúdos visualizados resultam de recomendações geradas por IA. Na Zara produzem-se resultados analíticos em tempo real, afinam-se padrões de procura e ajusta-se a produção de acordo com previsões algorítmicas; no setor bancário ou segurador, já é comum encontrarmos bancos digitais que utilizam IA para recomendar produtos personalizados com base em comportamentos e contexto. Em todos estes exemplos, a lição a retirar é a mesma: quem domina os dados, domina a experiência.

Esta nova era exige também uma transformação estrutural dentro das equipas de marketing. O modelo tradicional, organizado em silos funcionais (branding, digital, comunicação), está a ser substituído por equipas pequenas, ágeis e multidisciplinares — os chamados “pods” — apoiadas por agentes de IA que executam tarefas operacionais. A Unilever é um exemplo claro dessa mudança: os seus “AI Studios” produzem, em poucos segundos, centenas de variações criativas de anúncios adaptadas a diferentes mercados e idiomas. O resultado? Uma redução de 30% no tempo de lançamento e um aumento médio de 12% nas taxas de conversão.

Sam Altman, CEO da OpenAI, afirmou recentemente que a IA fará “95% do que hoje os profissionais de marketing pedem a agências e criativos externos”. Embora provocadora, esta previsão reflete a tendência para uma automatização crescente de processos criativos e analíticos. Por outro lado, a Gartner estima que 40% dos orçamentos de marketing digital já estejam a ser concebidos por plataformas de IA generativa. Ora, este cenário redefine o papel das agências — que deixam de vender ideias isoladas para oferecer capacidades de integração, gestão e aceleração tecnológica.

A IA não é um “disruptor” do futuro. Ela é o presente que já nos obriga a repensar o marketing na sua essência. O verdadeiro poder está em unir o raciocínio analítico das máquinas à intuição, sensibilidade e propósito das pessoas. As empresas que compreenderem isto não apenas sobreviverão à era da IA — serão elas a escrevê-la. O marketing de hoje não é digital, é inteligente. E o seu futuro pertence a quem souber pensar com algoritmos sem deixar de sentir como humano.

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Pedro Celeste

Pedro Celeste

Doutorado em Gestão pela Universidade Complutense de Madrid. Diplomado pelo INSEAD, London Business School, Wharton School, University of Virginia, MIT Management Sloan Management School, Harvard Business School, Imperial College of London, Kellogg School of Management de Chicago e IESE Business School. Na Católica Lisbon School of Business & Economics é Diretor Académico dos Executive Master in Management e coordenador do Programa Avançado de Marketing para Executivos, do Programa de Gestão Comercial e Vendas, do Programa de Gestão em Marketing Digital... Ler Mais..

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