Entrevista/ “Um bom filme é capaz de motivar uma pessoa a lançar-se a um desafio”

Paulo Miguel Martins, professor da AESE

“O cinema pode inspirar a vida de qualquer um de nós. Um bom filme é capaz de motivar uma pessoa a lançar-se a um desafio, a compreender melhor um problema, a lutar por uma causa e a defender um ideal”, afirma Paulo Miguel Martins, professor na AESE e autor de “O cinema inspira a vida”, em entrevista ao Link To Leaders.

O cinema inspira a vida? Paulo Miguel Martins, professor da AESE, na área de Comunicação, diz que sim no seu mais recente livro. Em “O cinema inspira a Vida”, o autor sugere 101 filmes, com pistas de análise e a indicação dos principais temas em cada um.

Para facilitar a pesquisa sobre cada filme, Paulo Miguel Martins incluiu três índices: um elenca os títulos dos filmes e associa os principais temas abordados; outro enumera os temas mais importantes e, para cada um, indica quais os filmes que se referem a esses temas de modo mais relevante, e um terceiro indica os realizadores por título.

Ao Link To Leaders, o autor refere que “pretendo deixar claro que a natureza humana é capaz do melhor e do pior. Depende de a escolha pessoal seguir uma direção ou outra… e ter exemplos válidos como referências é útil. Daí nestes 101 filmes indicar na sua grande maioria histórias reais”.

Como surgiu a ideia de lançar o livro “O cinema inspira a vida”?
O cinema é uma arte e, como tal, tem uma boa capacidade de transmitir ideias, gestos e atitudes que podem ser inspiradoras. Ao apresentar histórias, está a mostrar exemplos que dão pistas aos espectadores. Tornam-se referências. O cinema pode inspirar a vida de qualquer um de nós. Um bom filme é capaz de motivar uma pessoa a lançar-se a um desafio, a compreender melhor um problema, a lutar por uma causa e a defender um ideal.

Em que é que se baseou para escolher os 101 filmes?
A principal base para escolher estes 101 filmes é a mensagem, a narrativa. Todos possuem uma história forte, com protagonistas que são identificáveis e que passam por situações que qualquer pessoa poderia alguma vez enfrentar. O critério principal não é a qualidade dos efeitos especiais, dos aspetos técnicos (que apesar de tudo têm de ser bons!), mas sim da narrativa, do argumento, da história…

“Cada um tem de viver a sua vida e todos podemos aprender “vendo a vida” vivida por outros, em tantas situações semelhantes (…)”.

Quais as principais mensagens que quer passar com o livro?
Que há boas histórias que merecem ser vistas, conhecidas… Não vivemos isolados. Cada um tem de viver a sua vida e todos podemos aprender “vendo a vida” vivida por outros, em tantas situações semelhantes… ou diferentes e que, por analogia, nos exemplificam maneiras de enfrentarmos essas questões…

Além disso, pretendo deixar claro que a natureza humana é capaz do melhor e do pior. Depende de a escolha pessoal seguir uma direção ou outra… e ter exemplos válidos como referências é útil. Daí nestes 101 filmes indicar na sua grande maioria histórias reais.

A quem se destina?
A quem gosta de aprofundar o que significa “ser humano”. É um livro válido para qualquer pessoa que queira “crescer e amadurecer” e para todos os que interagem de forma direta com outros, desde os gestores, aos professores e médicos. As relações familiares entre o casal e pais/filhos também aparece bem exemplificada em muitos filmes e as relações humanas no âmbito profissional está também bastante destacada em vários filmes.

Qual o filme que lhe despertou maior curiosidade e com o qual mais aprendeu?
Há vários… “Os nossos filhos”, um filme italiano sobre um pai de família com uma situação laboral complicada e a atravessar uma fase familiar difícil é interessante sobre o que significa “atuar corretamente” nos diversos âmbitos e onde encontrar apoio para não desistir quando tudo se torna insuportável…

E qual o filme em que mais se reviu?
Foi talvez o “The social dilemma” sobre o impacto das redes sociais na atualidade e os desafios que apresenta…

“O que podemos aprender com os filmes? Tudo o que se relaciona sobre a “motivação”, ajudando a que cada um dê o seu melhor”.

Que lições de liderança podemos aprender com os filmes?
O que podemos aprender com os filmes? Tudo o que se relaciona sobre a “motivação”, ajudando a que cada um dê o seu melhor. Além disso, acertar na seleção de colaboradores é essencial e, por fim, a importância da “comunicação”, ou seja, saber transmitir e inspirar os outros a seguirem determinado objetivo/visão, compreendendo-a, assimilando-a e avançando unidos nesse propósito.

E de empreendedorismo?
Que uma boa ideia inovadora, disruptiva poderá vencer se conseguir ser bem explicada. E aí não contam tanto os números, mas a confiança que inspira quem lança essa ideia, a sua integridade, honestidade, a sua visão…

Como podem as empresas recorrer aos filmes como ferramenta formativa em ambientes de trabalho?
Por exemplo, são úteis em ações de team-building. Pode-se ver um filme na parte da manhã e ser tema de conversa durante o almoço… Ou então ver ao final da tarde e discuti-lo no dia seguinte de manhã… Também se pode usar numa reunião de colaboradores apenas um excerto ou um diálogo e analisá-lo com os participantes ali presentes. Assim consegue-se reforçar uma determinada proposta ou iniciativa…

Defende a presença da sétima arte nas escolas? De que forma? Como uma disciplina para explorar técnicas de produção ou mais do que isso?
A utilização de filmes em ambiente escolar é válida. Cativa e facilita a compreensão de temas e situações que por vezes são “teóricas” ou hipotéticas… dessa forma, o filme torna presente e “representa” ações com impacto imediato nos alunos. Para disciplinas de “humanidades” como História, Filosofia, Cidadania e Línguas é muito interessante. O seu uso deve ser transversal e não apenas como objeto de estudo sobre “o processo e técnicas de produção cinematográfica”.

As unidades curriculares que existem em Portugal são suficientes para dar a conhecer o cinema, no geral, e o cinema português, no particular?
No ensino superior, existem boas unidades curriculares que permitem uma boa formação aos estudantes. No entanto, poderia investir-se mais em possibilitar aos alunos do ensino secundário uma formação mais específica e aprofundada no campo da cinematografia. E então também focar o cinema português, que é muitas vezes subalternizado em relação ao cinema estrangeiro, principalmente ao que é produzido nos Estados Unidos…

“Há cursos universitários que prestam um bom serviço e várias produtoras empenham-se em diferentes formatos, da ficção ao documentário e da curta-metragem à animação”.

Como analisa o cinema em Portugal atualmente? Quais têm sido as maiores evoluções?
Penso que tem existido uma evolução positiva, desde os consagrados Manoel de Oliveira e Pedro Costa até alguns mais novos como João Salaviza e muito recentemente João Gonzalez, um dos candidatos aos óscares na animação. Há cursos universitários que prestam um bom serviço e várias produtoras empenham-se em diferentes formatos, da ficção ao documentário e da curta-metragem à animação.

Projetos para o futuro.
Continuar a apostar na formação. Gosto de dar aulas e de potenciar os variados projetos dos jovens estudantes. Tenho colaborado com interesse iniciativas de bastantes ex-alunos e isso é sempre motivador e inspirador…

Respostas rápidas:
O maior risco: ser incompreendido quando se tem a melhor das intenções.
O maior erro: não ter reconhecido o valor de um projeto por precipitação.
A maior lição: o “the end” nunca é o final… há sempre um “to be continued”.
A maior conquista: ver os alunos realizados tanto a nível profissional como pessoal.

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