Entrevista/ “As políticas e iniciativas que promovam o acesso ao capital e ao talento são prioritárias”

João Sebastião, diretor do DIT em Portugal e para o Sul da Europa*

“Manter a forte relação bilateral entre Portugal e o Reino Unido, encorajando o comércio e o investimento, reduzindo barreiras ao comércio britânico, ajudando as empresas britânicas a exportar e atraindo o investimento português para o Reino Unido”, é a missão que o Department for International Trade (DIT) tem assumido. João Sebastião, diretor do DIT em Portugal e para o Sul da Europa, explicou ao Link to Leaders os projetos que têm desenvolvido em prol da comunidade empreendedora e como o Brexit alterou as relações comerciais.

O Department for International Trade (DIT) da Embaixada do Reino Unido em Portugal tem sido o promotor de um conjunto de iniciativas dinamizadoras das relações empresariais entre Portugal e o Reino Unido, e vice-versa. Assina programas como o Tech Rocketship Awards o ou DIT Business Awards, entre outros, através dos quais estimula a inovação e o empreendedorismo nos dois mercados. O que parece estar a dar resultado, de acordo com os números avançados por João Sebastião, diretor do DIT em Portugal e para o Sul da Europa.

Nos últimos três anos, o DIT somou um total de 33 projetos de investimento, o que resultou no estabelecimento de empresas, aquisições ou participação em empresas e expansões de investimentos já existentes num total de cerca de 677,1 milhões de euros. Setores como as energias renováveis, tecnologia digital, indústrias criativas, alimentar, saúde e setor farmacêutico têm sido dos mais beneficiados.

O DIT assume-se como responsável por promover a expansão internacional das empresas britânicas e atrair investimento português para o Reino Unido. Que balanço faz dessa missão ao longo dos últimos anos?
O balanço é bastante positivo e reflete o dinamismo de uma relação bilateral, na qual as empresas se têm adaptado com sucesso a uma nova conjuntura de comércio e investimento, identificando as oportunidades e beneficiando do apoio de organizações como a nossa. Podemos partilhar que nos últimos três anos, o DIT registou um total de 33 projetos de investimento, resultando no estabelecimento de empresas, aquisições ou participação em empresas e expansões de investimentos já existentes num total de cerca de 677,1 milhões de euros (565,2 milhões de libras), gerando 399 postos de trabalho em setores como as energias renováveis, tecnologia digital, indústrias criativas, setor alimentar, saúde e setor farmacêutico.
Em termos de exportações nos últimos três anos, as empresas britânicas que apoiámos totalizaram cerca de 752 milhões de euros (627 milhões de libras), e o seu investimento em Portugal foi aproximadamente 1,5 mil milhões de euros (1,3 mil milhões de libras).

“Todos os anos reconhecemos quer o sucesso dos investidores portugueses no Reino Unido, quer o das empresas britânicas em Portugal (…)”

Nesta relação de premiar o esforço das empresas portuguesas que investem no Reino Unido e, ao mesmo tempo, de prestigiar o sucesso das empresas britânicas no mercado português, o que tem funcionado melhor?
Nas relações de comércio e investimento não é possível separar estas duas realidades, até porque estão interligadas através das próprias dinâmicas de mercado, como quando as empresas estabelecem parcerias que acabam por trazer setores conjuntos em ambos os mercados. Nós promovemos um networking muito estruturado entre as empresas de ambos os países com vista exatamente a promover essa ligação, e que tem uma das suas expressões mais significativas nos nossos DIT Business Awards.

Todos os anos reconhecemos quer o sucesso dos investidores portugueses no Reino Unido, quer o das empresas britânicas em Portugal, numa única celebração, o que vai ao encontro da agenda de crescimento económico do governo britânico e marca também a continuidade das relações bilaterais estratégicas de comércio e investimento entre os dois países.

E de que forma a iniciativa Tech Rocketship Awards também têm contribuído para dinamizar as relações entre empresas portuguesa e britânicas?
Os Tech Rocketship Awards são uma iniciativa do DIT, que na Europa tem este ano a sua segunda edição, e que visa identificar empresas tecnológicas que tenham já alguma maturidade e tração no seu mercado de origem, e que procurem uma base internacional para escalar o seu negócio acedendo ao mercado britânico, que é o maior mercado europeu ao nível do financiamento de empresas. Este ano os setores em foco são AI, 5G, Agritech, Digital Health, Cyber Segurança e Climate Tech.

As start-ups tecnológicas portuguesas têm aderido ao projeto, tendo em conta que têm a possibilidade de participar num programa de aceleração no mercado britânico?
As empresas portuguesas têm sido sempre das que mais aderem a este programa. Já na primeira edição, Portugal foi o quinto mercado com maior número de candidaturas e, nesta, em que pela primeira vez foi incluída a Turquia e foram recebidas um total de 273, Portugal foi o quarto país com mais candidaturas.

“O DIT irá continuar a promover iniciativas no sentido de promover o Reino Unido como um dos melhores destinos na Europa para o investimento estrangeiro (…)”.

O que podem os empreendedores portugueses esperar do DIT e das suas iniciativas?
O DIT irá continuar a promover iniciativas no sentido de promover o Reino Unido como um dos melhores destinos na Europa para o investimento estrangeiro, garantindo que as empresas portuguesas têm o nível de apoio adequado aos seus setores de expansão para o mercado e, uma vez lá estabelecidos, continuarão a beneficiar de todo o apoio na sua expansão e crescimento.

Existe igualmente um programa muito concreto de identificação de oportunidades específicas de investimento, denominadas HPOs – High Potential Oportunities, que identificam projetos em setores e numa região específica onde será mais favorável uma empresa estrangeira ter a sua operação e integrar-se no ecossistema empresarial.

Este esforço responde também ao programa governamental denominado “Levelling up agenda”, onde se promove o potencial de cada cidade e região do Reino Unido, difundindo oportunidades para indivíduos e empresas, tornando a economia mais forte no seu todo, mais equilibrada e mais resiliente. Foi criado igualmente um Investment Atlas através do qual as empresas estrangeiras poderão aceder a oportunidades de investimento em setores de infraestrutura e imobiliário de larga escala, e para o qual terão acompanhamento através de uma equipa central especializada no Reino Unido.

“A UE e o Reino Unido passaram a formar dois mercados separados e dois espaços regulamentares e jurídicos distintos (…)”.

De que forma o Brexit transformou as relações comerciais entre os dois mercados, a circulação de talentos e as trocas de mercadorias e serviços?
A nova relação comercial entre a União Europeia e o Reino Unido é substancialmente diferente, desde logo na autonomia regulatória, o que trouxe várias mudanças às quais as empresas e investidores tiveram de se adaptar com novos processos aduaneiros e administrativos e novas regras no que toca a políticas de imigração.

A UE e o Reino Unido passaram a formar dois mercados separados e dois espaços regulamentares e jurídicos distintos, o que inicialmente criou alguma disrupção ao comércio de bens e serviços, à mobilidade e aos intercâmbios a nível transnacional, em ambos os sentidos. No entanto, o acordo em vigor é substancialmente amplo para permitir a adaptabilidade e flexibilidade das relações comerciais, de forma a causar a mínima disrupção. A título exemplificativo, o governo britânico anunciou o adiamento da introdução de controlos de importação de produtos oriundos da União Europeia, anteriormente previstos para dar entrada a partir de 1 de julho de 2022. Neste sentido, os controlos de importação adicionais sobre as mercadorias da UE, como sejam a exigência de certificados sanitários de exportação e certificados fitossanitários e de verificações físicas de produtos SPS nos postos de controlo fronteiriço, não serão introduzidos de momento.

Com esta decisão, o governo britânico visa dar resposta aos desafios impostos pela contínua interrupção das cadeias de abastecimento em consequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, bem como ao aumento do custo de vida generalizado, para minimizar os encargos para as empresas nas importações – beneficiando também os consumidores, minimizando as perturbações na indústria a longo prazo e assegurando o apoio às empresas e a proteção das cadeias de abastecimento.

Que políticas de comércio internacional, de investimento e apoio a empresas e start-ups, considera prioritárias nesta fase do cenário empreendedor europeu, concretamente o inglês e o português?
Considerando o momento particularmente complexo que vivemos na Europa, diria mais do que nunca que o comércio depende da complementaridade da oferta e da procura, da geografia, das conjunturas políticas dos mercados, mas também das afinidades que, muitas vezes, remontam a gerações.
Neste sentido, todas as políticas e iniciativas que promovam o acesso ao capital e ao talento são prioritárias, pois só com estas duas vertentes se conseguirá que a Europa, e particularmente o Reino Unido e Portugal, mantenham o nível de inovação empresarial necessário para responder aos grandes desafios que temos pela frente, nomeadamente em áreas ligadas à sustentabilidade e energia, segurança digital e desafios ligados a inteligência artificial e também à saúde, com as questões do envelhecimento da população.

(…) setores como os serviços financeiros, defesa, energia, tecnologia e saúde representam as maiores oportunidades para as empresas britânicas”.

Quais são atualmente os setores empresariais/empreendedores portugueses (energias renováveis, tecnologia digital, indústrias criativas, alimentar, saúde e farmacêutico, etc…) mais interessantes para o investimento britânico?
A Comissão Europeia reviu recentemente em alta as suas previsões de crescimento do PIB para a economia portuguesa, apontando fortes sinais de recuperação como a principal razão, de 5,1% para 5,3% em 2022. As nossas relações económicas bilaterais mantêm-se fortes, ancoradas na aliança bilateral mais antiga do mundo, temos alinhamentos semelhantes em prioridades globais, em particular nas mudanças climáticas, e estamos alinhados na maioria das questões de comércio, defesa e ciência.
Nesse sentido, setores como os serviços financeiros, defesa, energia, tecnologia e saúde representam as maiores oportunidades para as empresas britânicas. Por fim, considerando o Plano de Recuperação e Resiliência, a médio prazo, também antecipamos oportunidades significativas para as empresas britânicas na área das infraestruturas (ferroviárias, aeroportos), mineração e mobilidade.

E, pelo contrário, quais as áreas mais apelativas para o investimento português no Reino Unido? Porquê?
As áreas mais apelativas têm sido as ligadas à tecnologia digital, renováveis, saúde, indústrias criativas, infraestruturas e construção, e também cada vez mais projetos ligados a clean growth, mobilidade e sustentabilidade.

Quais as ambições do Department for International Trade para este ano?
O nosso principal objetivo continua a ser manter a forte relação bilateral entre Portugal e o Reino Unido, encorajando o comércio e o investimento, reduzindo barreiras ao comércio britânico, ajudando as empresas britânicas a exportar e atraindo o investimento português para o Reino Unido – trabalhando com o Governo português para assegurar que tanto as empresas britânicas como as portuguesas têm o apoio que necessitam para fazer este este caminho.

*Department for International Trade, da Embaixada Britânica.

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