Opinião
Empreender na cooperação
Nos últimos tempos tenho sido testemunha da mudança que está a ocorrer na política externa portuguesa, através, entre outras medidas, da profunda alteração que tem vindo a ser introduzida nas nossas embaixadas.
Durante muitos anos, tantos que lhes perdi a conta, quando visitava um país, no âmbito das minhas funções profissionais, tinha o hábito de solicitar uma audiência ao nosso embaixador para lhe dar nota do propósito da visita e dos objetivos que me tinham levado até aquele destino.
Depois de muitas más experiências confesso que perdi esse costume, o que me causava sempre tristeza pois considerava que enquanto cidadã e profissional a representar o meu país, visitar a minha embaixada deveria fazer parte da minha rotina. Cedo percebi que os nossos embaixadores e restante corpo diplomático, salvo raríssimas exceções, não tinham entendido a importância que a sua presença e os seus inputs poderiam ter na vida das empresas e daqueles nacionais que, longe de casa, tentam buscar algum conselho e sábias sugestões.
As embaixadas portuguesas eram espaços nobres utilizados em exclusivo para a útil representação do Estado nos termos do arquétipo existente à época.
Ao longo dos últimos tempos, tenho constatado, de forma direta, que a arte de empreender chegou aos nossos diplomatas e que a cooperação começou a ser trabalhada na primeira e na segunda pessoa do plural. Deixou de ser um exercício solitário. Como por magia, nas nossas embaixadas empreender passou a fazer parte integrante do léxico diário.
O desígnio nacional de nos tornar a todos representantes de Portugal ganha agora mais significado quando percebemos que empreender na cooperação é mais fácil porque o dinamismo, a ambição, a energia de fazer mais e melhor tomou conta da ação de todas e de todos.
Para empreender é preciso querer fazer diferente e deixar a pegada de se ter inovado, seja de paradigma ou de rumo.
Cooperar é ir ao encontro do outro e isso implica sempre movimento em direção a outro destino, a outra cultura.
Poderemos pensar que a praxis da diplomacia económica foi o motor desta mudança. Quero acreditar que não e que tal se deveu ao facto de quem manda na nossa política externa ter percebido que empreender na cooperação é a simbiose perfeita para dar uma nova orientação ao ímpeto nacional existente em torno do elogio à diversidade.