Opinião

Talentos que “puxam” pelos chefes

Isabel Viegas, professora na Universidade Católica

Há uns dias, li um artigo que afirmava que os verdadeiros Talentos são centrados em si e no seu valor e que, mesmo em empresas em reestruturação, exigem ser pagos acima do mercado, pelo valor acrescentado que sabem que aportam a essas empresas nesses momentos.

A minha experiência confirma este sentido,  já que sempre vi os melhores, mesmo em situações complexas para a obtenção de resultados, colocarem o tema do seu aumento salarial ou progressões no seu pacote remuneratório. (Uma nota importante para as mulheres: os homens fazem esta gestão e “reclamam” por melhores condições muito mais frequentemente do que nós, mulheres…).

Se juntarmos a esta realidade o facto de as pessoas mais talentosas quererem também estar inseridas em projetos com sentido, que as desafiem permanentemente, funções que sejam exigentes e as desenvolvam, vemos como a tarefa de gerir Talentos se torna mais difícil.

Por último, os Talentos querem ter visibilidade e protagonismo.  Querem participar nas decisões, querem ser verdadeiros influenciadores da condução das empresas. Querem estar perto da alta direção e contribuir para a definição das estratégias de negócio.

Estamos, pois, a falar de três “condimentos” que caraterizam os Talentos e que têm de existir em simultâneo, para que estes se comprometam, se motivem e se “entreguem” a uma organização:

  • Proporcionar-lhes projetos interessantes
  • Dar-lhes visibilidade junto do topo
  • Pagar-lhes acima do mercado

Se um destes fatores não estiver assegurado, a instabilidade nasce e a irrequietude aumenta.

Garantir, pois, estas condições, pode fazer com que os Talentos permaneçam numa empresa mais do que 2 ou 3 anos…

Temos, então, aqui um paradoxo interessante: todos procuramos os melhores, quando estamos a recrutar e a selecionar. Mas, uma vez admitidos, os melhores são pessoas difíceis de gerir, pelo grau de exigência, de constante busca de mais (leia-se: mais pacote remuneratório, mais projetos interessantes e mais protagonismo), que colocam na relação com as suas hierarquias.

Mas este é um “bom paradoxo”: os Talentos desenvolvem quem os lidera, puxam por eles, questionando-os, exigindo mais das suas capacidades, enquanto líderes. É muitas vezes na gestão dos Talentos que os líderes se colocam à prova.

É por isso que sempe considerei que é melhor trabalhar e gerir Pessoas muito boas, porque, apesar de difíceis, me desenvolvem, me ajudam tantas vezes a superar.

Um “obrigada” a todos os Talentos com que me tenho cruzado ao longo da vida!

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Isabel Viegas

Isabel Viegas

Isabel Viegas é atualmente Chief People Officer na Semapa e professora na Católica Lisbon School of Business & Economics. Foi Diretora-Coordenadora de Recursos Humanos do Grupo Santander em Portugal, de 2003 a 2016, bem como Diretora de Recursos Humanos da Jazztel Portugal, entre 1999 e 2003. Anteriormente, desempenhou vários cargos de responsabilidade na Direção de Recursos Humanos da Marconi. É Licenciada em Psicologia e Mestre em Políticas e Gestão de Recursos Humanos (ISCTE). Tem uma vasta experiência no domínio da... Ler Mais..

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