Start-up começou por “traduzir” o choro do bebé, agora quer detetar autismo em recém-nascidos

A Zoundream foi fundada há dois anos e tem como especialização catalogar e traduzir o choro dos bebés. Agora quer detetar desenvolvimentos atípicos em recém-nascidos.
Com escritório em Basel, na Suíça, e em Barcelona, Espanha, a Zoundream tem uma área de especialização peculiar, mas que na sua primeira ronda de financiamento, em outubro do ano passado, lhe valeu um milhão de dólares: a empresa traduz e cataloga o choro dos bebés com o recurso a tecnologia AMSI (Acoustic MultiStage Interpreter). Agora, pretende expandir-se para a deteção em estágio inicial de desenvolvimentos atípicos em recém-nascidos, como por exemplo casos de autismo, revelou à Business Insider Espanha.
O projeto Zoundream partiu de uma ideia de Ana Laguna, cientista de 33 anos e especialista em gestão de dados. Quando teve o seu primeiro filho, em 2016, pensou como seria bom haver uma forma de traduzir o choro de um recém-nascido. Ficou surpreendida por só ter conseguido encontrar uma app coreana “que quase não funcionava”, explicou ao Business Insider Espanha. Foi assim que pôs mãos à obra e decidiu gravar o choro do seu próprio bebé para procurar padrões. “Muitos projetos acontecem por engano ou por necessidade. O meu é um destes últimos”, afirmou Ana Laguna.
O projeto transformou-se numa empresa especializada no desenvolvimento de software para traduzir o choro de bebés recém-nascidos, principalmente até aos seis meses. A primeira grande preocupação de Ana Laguna passou por descobrir se bebés de países diferentes choram de maneira diferente. Se, por exemplo, o choro de um bebé alemão fosse diferente do de um bebé espanhol, isso teria reduzido significativamente o público potencial do software – bem como a viabilidade do projeto. Concluiu que embora houvesse diferenças notáveis no choro, o conteúdo é sempre o mesmo, independentemente dos idiomas. Por outras palavras, embora os bebés alemães e espanhóis possam soar de modo diferente, estão essencialmente a tentar dizer a mesma coisa.
De momento, a empresa traduz o choro dos bebés em cinco tipos: fome, sono, dor, gases e apego ou desejo de ser abraçado. Este método de classificação funciona melhor em bebés até três meses, quando o choro é mais genuíno.
Nos últimos anos, a Zoundream reuniu milhares de horas de gritos de bebés de todo o mundo, posteriormente analisados por espectrogramas e já está a trabalhar no refinamento das traduções através de dispositivos que ainda são apenas protótipos. A empresa está também a firmar parcerias com empresas para que, nos próximos anos, seja possível a integração da tecnologia em carrinhos de bebé, pulseiras ou até mesmo em câmaras de vigilância.
Agora, e impulsionada pelo financiamento de cerca de um milhão de euros, a Zoundream quer que as suas pesquisa ajudem a detetar desenvolvimentos atípicos em recém-nascidos pela forma como os bebés choram. Alguns casos, explicou a fundadora da empresa, são óbvios: “O choro de uma criança no espectro autista é muito característico, muito rouco. É algo que se pode ver claramente no espectrograma”.
Desta forma, a empresa espera ajudar a melhorar as possibilidades de diagnóstico precoce, o que pode melhorar muito a qualidade de vida de bebés e dos pais. “Em casos de diagnóstico precoce, o autismo é detetado por volta dos dois anos de idade. Imagine-se as melhorias se isso pudesse ser feito antes dos seis meses”, afirma.