Opinião

Será que as médias vão baixar?

Anabela Possidónio, fundadora da Shape Your Future

Esta é a questão que mais atormenta os alunos que se estão a candidatar à universidade este ano. Nos últimos meses muito se tem especulado sobre se o efeito Covid se vai deixar de sentir e se as médias se vão aproximar dos valores pré-Covid.

Como essa resposta só acontecerá quando saírem as listas dos colocados, os alunos que estão a preparar as suas candidaturas vão alimentando a esperança de que as notas dos exames e do secundário os vão ajudar a concretizar o seu sonho de entrarem no curso que ambicionam.

Tudo isto é vivido com alguma ansiedade (para não dizer muita). No caso da Joana, que teve 19 de média no secundário, vive atormentada pelo facto de ter uma nota no exame de Biologia que lhe pode condicionar a entrada em Medicina. Apostou tudo no exame de Matemática, e pelo que viu da correção da prova, acredita que a média estará próxima da nota do último colocado do ano passado. Agora é esperar que as médias estabilizem em valores mais baixos.

Já o Francisco, que sonha em ir para Engenharia Física, começa a ter sérias dúvidas de conseguir chegar lá. Mas como, para além do curso, a universidade é também muito importante, anda a fazer contas para cursos que lhe permitam estudar lá.

Estas são apenas duas das histórias de participantes dos programas da Shape Your Future, que agora nos contactam porque querem validar o seu processo de candidatura, garantindo que não ficam de fora.

Qualquer um dos dois dos melhores alunos da sua turma, muito dedicados e estudiosos. Dedicaram os 3 anos do secundário ao estudo, a pensar na concretização deste objetivo. Para trás deixaram uma série de eventos e oportunidades, em que poderiam ter desenvolvido as suas competências pessoais.

Num sistema de acesso, limitado a uma média de entrada, acabamos por não promover que os jovens desenvolvam projetos de empreendedorismo ou se envolvam em causas de cariz social.

Em outros sistemas de acesso ao ensino superior a componente cognitiva é apenas uma parte. Temos candidaturas mais holísticas, em que se tem em consideração a prática do desporto, o envolvimento em associações e com a comunidade, as experiências profissionais, a mentalidade internacional, entre outras.

Tendo em consideração o mundo para que caminhamos, em que os Human Skills vão ter cada vez mais preponderância, talvez seja importante refletir como é que os currículos se vão adaptar a esta nova realidade.

Como é que garantimos que os jovens desenvolvem espírito crítico? Como é que estimulamos a criatividade? Como é que fomentamos o desenvolvimento das competências de comunicação? Como é que os ajudamos a estar confortáveis com a ambiguidade e com a mudança?

Estas são apenas algumas das questões que podemos ajudar os nossos jovens a responder. Nesse caminho, devemos estimulá-los a exporem-se a novas experiências, a desafiarem-se a si mesmos e a não desistirem de querer ser a melhor versão de si mesmos.

Devemos sobretudo ajudá-los a perceber que, se as médias não baixarem, e não conseguirem entrar no curso que queriam, quem sabe se não se abre uma oportunidade de explorar coisas novas. Nada os obriga a escolherem um curso que não gostam, apenas para cumprirem o objetivo de entrarem na universidade. Podem esperar, repetir exames e aproveitar para fazer um estágio numa área em que sentem curiosidade, ou tornarem-se voluntários numa ONG.

Nesse contexto, deixem que partilhe convosco a história da Mafalda. Esteve 2 anos do secundário, convencida que queria ser veterinária. Felizmente no final do 11º ano fez um estágio. Foi o suficiente para perceber que o futuro não passava por ali!

Esta é a história da Mafalda, mas podia ser do Manuel, da Maria ou do Francisco. Temos jovens tão focados no estudo e nas médias, que acabam por não tentar perceber a fundo a profissão para a qual vão estudar, e perdem aderência à realidade.

Assim, agora que a data das candidaturas se aproxima, talvez valha a pena sensibilizá-los para o facto de poderem olhar para os resultados de duas formas. Entrar ou não entrar na universidade… um fracasso ou uma oportunidade?

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Anabela Possidónio

Anabela Possidónio

Anabela Possidónio é fundadora e diretora-geral da Shape Your Future, que tem como missão ajudar jovens e adultos a tomarem as melhores decisões académicas e profissionais. Assume também o cargo de diretora-geral da Operação Nariz Vermelho. Tem uma vasta carreira corporativa de mais de 25 anos, onde assumiu posições de liderança em diversos setores (Saúde - CUF; Educação - The Lisbon MBA; Retalho - Jerónimo Martins e Energia - BP), em diferentes países (Inglaterra, México, Espanha e Portugal) e empresas... Ler Mais..

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