Opinião

Thyssenkrupp quer contribuir para a mobilidade mundial

Ricardo Malheiro, CEO da Thyssenkrupp Portugal e África

O impacto dos sistemas de mobilidade, concretamente dos elevadores ou das escadas rolantes, na vida urbana é uma temática muito familiar à Thyssenkrupp ou não fosse esse o core business da empresa. Em entrevista ao Link To Leaders, o CEO da Thyssenkrupp Portugal e África, falou dos mercados que lidera e da forma como a empresa pode  ajudar as construir as cidades do futuro.

A Thyssenkrupp é um dos principais players no mercado da elevação em Portugal, onde está presente há 30 anos. Especialista em elevadores, escadas rolantes e tapetes rolantes, entre outros produtos e serviços relacionados com mobilidade, a empresa mantém uma forte aposta na inovação de equipamentos e de produtos, ainda que, internacionalmente, esteja a passar por uma fase de alguma “especulação” nos mercados, concretamente com a possibilidade de venda de algumas das suas áreas de negócios

Ricardo Malheiro, responsável pela Thyssenkrupp Portugal bem como pelo negócio em África, Europa do Sul e Médio Oriente, falou ao Link To Leaders das especificidades destes mercados e da forma como a empresa se posiciona na vanguarda da inovação.

Como chegou à Thyssenkrupp?
Estou na Thyssenkrupp pela segunda vez. Inicialmente entrei em 2005/2006, para posição de diretor financeiro e em 2011 fizeram-me uma proposta para um cargo num desafio internacional que me cativou e aceitei a proposta.

Sou responsável por Portugal, onde já temos um mercado maduro e uma presença forte e também tenho a responsabilidade de todo o negócio que é feito a partir de Portugal no mercado de África, com exceção do Egito, na Europa do Sul, com Balcãs, Grécia, Chipre, na parte do Médio Oriente, onde não há uma empresa Thyssenkrupp, e também no Paquistão. Tudo a partir de Lisboa.

Que balanço faz do mercado africano na receção aos produtos e serviços da sua empresa?
É bastante positivo. Em termo de produto, a Thyssenkrupp é uma marca bastante forte e a forma como desenvolvemos o negócio em África, através de parceiros locais, permite-nos conhecer muito bem a cultura e os mercados. E o nosso produto de facto ajusta-se bastante bem ao mercado africano e da Europa do Sul.

Em relação a África os negócios eram feitos individualmente pelas fábricas e nós conseguimos montar uma estratégia, começando do zero, e identificámos os países prioritários e os parceiros que queríamos e que entendemos como certos para desenvolver o negócio. E o nosso posicionamento é muito proativo e muito forte. Ou seja, estamos a falar de uma parceria estratégica em que damos todo o suporte comercial e operacional, porque de outra forma não era possível desenvolver o negócio em África.

De todos os mercados, qual é neste momento o que tem mais representatividade para a faturação da Thyssenkrupp?
É Portugal. Neste momento, deve representar uns 80% do valor. O segundo mercado em termos de importância é a Macedónia, é um mercado que está a correr bastante bem onde estamos muito fortes. Em termos de África estamos bem na Nigéria, no Gana. Talvez o país onde temos mais unidades instaladas, ou vendidas, seja no Gana. Na Europa será na Macedónia. Também no Líbano temos boas oportunidades. Isto tudo feito a partir de Portugal.

Algum país em destaque?
Os países onde neste momento temos mais dinamismo é na parte dos Balcãs. O lema é crescer, estar mais perto dos clientes, estar presente em todas as oportunidades de mercado e em todos os segmentos em que nós, eventualmente, ainda não temos uma presença tão consolidada. Na Europa há muitos projetos com muito dinamismo, projetos grandes. Estamos a fazer tudo para ganhar maior presença neste mercado.

Quais as dificuldades que enfrentam a partir de Portugal para lidar com culturas tão diferentes e com formas de fazer negócio tão distintas?
As dificuldades são bastantes grandes na medida em que estamos a falar não só da questão das línguas, que é uma particularidade, mas da forma como desenvolvemos o próprio negócio. Estamos a falar de culturas muito diferentes, e Portugal aí tem uma grande vantagem que é a forma como nos adaptamos a cada um dos países, a cada uma das culturas e enquadramentos em que desenvolvemos o negócio.

“O mercado é dominado por três ou quatro marcas, entre os quais temos uma grande presença em vários setores e queremos assumir ainda mais essa posição de liderança”.

Qual o modelo de negócio nestes mercados internacionais?
Nos mercados para além de Portugal, apenas temos uma predominância direta em Angola, onde temos uma empresa. Em todos os outros desenvolvemos negócio através de parceiros, no sentido literal de parceria estratégica. Ou seja, não nos limitamos a vender o equipamento, damos suporte comercial, operacional, formação… em caso de algumas dificuldades técnicas estamos presentes para trabalhar ao lado dos nossos parceiros.

Em Portugal já é um bocado diferente. Estamos a falar de um mercado mais maduro, em que somos muito fortes em termos de presença. O mercado é dominado por três ou quatro marcas, entre os quais temos uma grande presença em vários setores e queremos assumir ainda mais essa posição de liderança.

Ou seja, o mercado em Portugal, ao contrário dos outros mercados de que estava a falar, em que o que vendemos é basicamente o material, aqui temos três linhas de negócio: a venda de novos equipamentos, o que chamamos de novas instalações, e depois para as instalações onde já existe um elevador, temos ou modernizações ou fazemos a manutenção, não só das nossas marcas, mas também das marcas da concorrência.

Qual o vosso principal produto ou o mais emblemático?
Comparando com os outros concorrentes nós temos um facto que diria que é completamente distinto: temos todo o portefólio de produto, desde o elevador, à escada rolante, tapete rolante, plataforma elevatória, até dois elevadores no mesmo poço de elevador. Temos os “boarder bridge”, que a concorrência não tem. No aeroporto de Barajas [Madrid], por exemplo, ou no Médio Oriente, temos toda a gama dos produtos. E isso é distintivo.

Em termos de inovação estamos a apostar muito em produtos inovadores, seja no Twin que são dois elevadores no mesmo poço. Mas recentemente temos um elevador que é o Multi [um elevador sem cabos] que funciona verticalmente e também horizontalmente.

Temos também uma outra solução que é o ACCEL um tapete rolante com várias velocidades, e agora estamos a liderar também em termos da manutenção preditiva, com a solução MAX. Em vez de ser uma manutenção em que o nosso técnico vai trabalhar de forma para evitar os problemas, neste caso estamos um passo adiante. Temos uma tecnologia que se liga diretamente ao controler do elevador e a partir daí consegue identificar que, daqui a um certo período de tempo, a peça vai precisar de ser substituída.

Portanto, não é uma manutenção que seja feita pelo técnico para garantir que a instalação está bem, mas também preditiva no sentido em que consegue antecipar que um determinado componente tem de ser substituído num determinado período de tempo. Todas estas inovações que a Thyssenkrupp tem permitem afirmar que somos líderes em termos de inovação. Isso torna-nos diferenciadores.

Têm investigação e desenvolvimento in house ou recorrem a parceiros?
Temos tudo. Temos fábricas em todos os continentes. Não temos nenhuma em Portugal, mas na Europa temos em Espanha e na Alemanha. O que temos é toda a parte de I&D diretamente do grupo, temos centros de excelência e de investigação.

Em Portugal qual é o vosso principal concorrente?
Os concorrentes são os mesmos em todo o lado. É a Otis, a Schindler e a Kone. Em Portugal temos muitas referências, queremos crescer ainda mais, não só em novos equipamentos como também na questão do próprio parque de manutenção. Temos estado a fazer várias iniciativas nesse sentido e pretendemos aumentar a nossa quota de mercado com certeza.

(…) a parte residencial é um segmento de mercado muito relevante e em que obviamente há uma série de clientes.

Quais são as áreas principais clientes em Portugal?
Temos de tudo. Trabalhamos em todos os setores da atividade, seja no aeroporto de Lisboa, seja na parte hoteleira, com o hotel Dom Pedro ou com o Hilton, seja nas escolas ou hospitais em que temos, a título de exemplo, o hospital da CUF e uma série de hospitais a nível nacional.

Não temos nenhuma limitação, nem nenhuma predominância com um cliente específico. É óbvio que pensando nas infraestruturas que temos a nível nacional, a parte residencial é um segmento de mercado muito relevante e em que obviamente há uma série de clientes. Não existe uma predominância, mas existem muito clientes na área residencial. Também trabalhamos os centros comerciais, por exemplo, a Mundicenter. Portanto, estamos presentes em todos os setores de atividade.

De que forma a transformação digital que se vive vos obrigou a reformular o vosso modelo de negócio?
Como referi, temos um produto que é o Max que é exatamente isso. Ligamos o “cérebro” do elevador diretamente à cloud e conseguimos ver exatamente o que se está a passar nessa mesma instalação. Qual o desgaste do equipamento, saber se há alguma anomalia…

Com isto a grande vantagem é que vamos trabalhar numa manutenção preditiva e, de forma digital, conseguimos de facto ler o que se está a passar com a instalação, antecipar as necessidades e ver com o cliente o que é que se perspetiva no imediato e também num horizonte de médio longo prazo. A parte digital para nós é muito importante e o Max é muito um bocado exemplo disso.

“A estratégia definida pelo grupo a nível internacional tem como objetivo a salvaguarda dos interesses do mesmo e dos seus colaboradores”.

Como é que a Thyssenkrupp Portugal se posiciona face às movimentações internacionais do grupo, relativas à possível venda de algumas unidades de negócio?
A Thyssenkrupp Elevator é uma empresa com várias décadas de história e que sempre se distinguiu pela inovação no setor em que atua. A estratégia definida pelo grupo a nível internacional tem como objetivo a salvaguarda dos interesses do mesmo e dos seus colaboradores. Em Portugal estamos a acompanhar o processo com confiança e a continuar focados nos nossos clientes.

A concretizarem-se, que tipo de implicações podem ter no negócio local?
Ainda é prematuro abordar este tema, uma vez que entrávamos no campo da especulação. Estamos confiantes que tudo está a ser feito para salvaguardar os interesses da empresa e dos colaboradores, nos diferentes países onde está presente.

“O elevador é claramente um ponto nevrálgico de qualquer edifício”.

Na sua opinião como será o elevador do futuro?
Às vezes as pessoas subvalorizam o que é o elevador. Quando estamos a falar que as cidades cada vez estão a tornar-se mais centralizadoras em termos de população e quando estamos a dizer que as metrópoles são cada vez maiores e o espaço é o que é, a única forma é crescer verticalmente. E os elevadores são fundamentais para isso.

Ou seja, um elevador em termos de futuro tem de ser estar adequado ao uso e permitir grandes deslocações de pessoas, o mais rápido possível e diminuir os tempos de espera. A solução que perspetivamos é que sejam elevadores que sejam ajustados aos usos e também a outro tipo de utilizações, como o produto que temos, o MUTI, que permite que o elevador suba na horizontal e na vertical. E com isto conseguem-se adaptar completamente os nossos edifícios ao que os utilizadores precisam.

O elevador é claramente um ponto nevrálgico de qualquer edifício. Quando vemos a entrada de um edifico de trabalho, com picos de entrada, se não há uma solução que permita as pessoas deslocarem-se rapidamente é algo que não vai funcionar bem.

A perspetiva de futuro é que sejam soluções muito adaptadas aos usos de cada edifício. Obviamente que um hotel tem um determinado tipo de uso, completamente diferente de um edifício que seja residencial. Vai ter se dar uma solução muito adaptada para cada um dos usos e depois potenciar a mobilidade porque cada vez mais as cidades hão-de crescer, pela sua atratividade e pela necessidade das pessoas desenvolveram as suas atividades familiares e profissionais. E, portanto, o elevador vai ser um ponto nevrálgico, adaptado às necessidades, claramente.

Face aos outros equipamentos, o elevador acaba por ser mais impactante ao nível da mobilidade urbana?
Sim. Se pensarmos como funcionam em termos de produtos, as escadas rolantes e os tapetes, hão-de estar muito vocacionados para os centros comerciais. Por exemplo, nós somos parceiros estratégicos da Mercadona, que nos está a comprar elevadores, mas ali também é nevrálgico a questão dos tapetes porque é uma forma das pessoas acederem ao parque  de estacionamento com os carrinhos porque, caso contrário, se fosse através dos elevadores não funcionava.

Se pensarmos que a questão do uso das escadas e dos tapetes está muito circunscrito a centros comerciais, a supermercados e infraestruturas como aeroportos, acessos de comboio, estações de metro, a predominância é claramente os elevadores. Mas não deixam de ser uma solução também fundamental para os grandes centros urbanos.

“Hoje em dia as pessoas querem-se deslocar cada vez melhor e mais facilmente (…)”

A mobilidade urbana futura irá envolver estas várias soluções?
Esse há-de ser o futuro e em termos mundiais é óbvio que a questão da mobilidade é fundamental. E as pessoas muitas vezes não têm noção da importância de que a mobilidade está associada a elevadores e a escadas rolantes, e isso é fundamental, porque os ativos valem mais ou menos em função da solução de mobilidade.

Para a população mundial é muito importante. Hoje em dia as pessoas querem-se deslocar cada vez melhor e mais facilmente, à distância de um clique para assegurar que chegam onde pretendem. A mobilidade em termos de futuro é fundamental.

Quais os objetivos da Thyssenkrupp para este ano?
Crescer, ter uma presença ainda mais perto dos clientes, garantindo o nível de satisfação e uma forma sustentável de fazer negócio à base da confiança. E é isso que estamos a fazer em Portugal e também nos países que estão sobre a nossa responsabilidade.

E os mercados de aposta, quais vão ser?
Portugal, claramente. Existem muitas oportunidades e estamos agora a encará-las de uma forma mais proativa, com mais ambição. E também ao nível dos outros mercados que estão sob a minha responsabilidade.
A Europa é claramente uma oportunidade. Em termos de África é um negócio um pouco diferente porque a instabilidade social política, económica e financeira dos países africanos é uma realidade e isso é um grande obstáculo a um crescimento sustentável.

“(…) somos parte fundamental para o futuro das cidades na questão da mobilidade. Temos uma boa proximidade junto de quem define exatamente para onde vai este trend em termos de cidades (…)”

Qual espera que seja o papel a Thyssenkrupp no processo de ajudar a redesenhar aquelas que serão as cidades do futuro?
O nosso papel é sempre muito presente. A ligação que temos com os players, em termos de definição de projetos, é sempre muito próxima e, portanto, somos parte fundamental para o futuro das cidades na questão da mobilidade. Temos uma boa proximidade junto de quem define exatamente para onde vai este trend em termos de cidades e, obviamente, somos sempre parte interessada e proativa na definição de soluções. Seja na questão das infraestruturas, como, por exemplo, o aeroporto de Lisboa, seja na questão dos grandes projetos que estão em definição. Nós somos sempre um parceiro que contribui para essa mesma solução.

Globalmente, quais os principais desafios que antevê para o seu setor de atividade?
Em Portugal está-se a rever o decreto-lei que define esta atividade e a definir o que é obrigatório, quais são as obrigações de cada um dos players, em ternos técnicos, em termos de suporte aos clientes… Essa é uma questão que está em definição e que se espera que fique resolvida no curto prazo.

Em termos gerais, diria que é desenvolver o nosso negócio de uma forma correta e próxima do cliente contribuindo para a satisfação do mesmo. Acho que esse é desafio maior. E fazer a nossa parte no mesmo.

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