Opinião

Será possível superar os desafios do modelo híbrido?

Tiago Santos, CEO da Enlitia

A discussão sobre o melhor modelo de trabalho voltou a ganhar força, com líderes a defenderem diferentes abordagens.

Empresas como a Amazon decidiram reverter o teletrabalho, impondo o regresso integral ao escritório, enquanto na Europa o modelo híbrido tem-se consolidado. Em 2024, cerca de 12,3% da força de trabalho da União Europeia já trabalha remotamente, com a previsão de que este número aumente para 15% até 2025.

Em Portugal, a tendência segue o mesmo caminho, com 75% das empresas a planearem adotar o trabalho híbrido como uma solução permanente. O modelo híbrido é cada vez mais visto como uma forma eficaz de atrair e reter talentos, principalmente entre as gerações mais jovens. No entanto, este modelo também traz desafios consideráveis, especialmente em organizações que valorizam a proximidade e o desenvolvimento contínuo dos seus colaboradores.

Na Enlitia, acreditamos que a formação e a mentoria são fundamentais para o sucesso a longo prazo, e a comunicação próxima é um pilar fundamental da nossa cultura organizacional. Com isso em mente, a pergunta que se coloca é: como garantir que, num ambiente híbrido, se mantêm os valores e as práticas que promovem o crescimento e a colaboração eficaz?

Este tipo de modelo oferece uma série de vantagens que vão além da flexibilidade. Por um lado, permite que os colaboradores adaptem melhor os seus horários e compromissos, promovendo um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Também pode aumentar a produtividade em tarefas que exigem concentração, uma vez que as distrações típicas do escritório são reduzidas. Para as empresas, o modelo híbrido pode eliminar grande parte dos custos estruturais, ao reduzir a necessidade de grandes escritórios e despesas associadas. Por outro lado, as desvantagens não devem ser ignoradas. O isolamento é um problema real que pode afetar a coesão das equipas e dificultar a integração de novos colaboradores. Tal como, a ausência de interações espontâneas no escritório pode enfraquecer a cultura organizacional e reduzir a fluidez na comunicação, tornando mais difícil a resolução rápida de problemas. A mentoria e o desenvolvimento contínuo, que dependem de interações próximas e regulares, também podem ser prejudicados, afetando o crescimento e a formação dos colaboradores. Além disso, a necessidade de processos organizacionais bem estruturados é também uma necessidade vital para garantir a eficiência das equipas e o alcance das metas empresariais.

Diante destes desafios, é essencial que as empresas adotem práticas e ferramentas que promovam a proximidade e a eficácia na comunicação, mesmo à distância. Aqui estão algumas estratégias que podem ser implementadas para melhorar a dinâmica do trabalho híbrido:

1)Sessões de mentoria estruturadas e frequentes: A mentoria não precisa de ser limitada ao espaço físico. Criar programas de mentoria à distância, onde colaboradores juniores e seniores se encontram regularmente, pode assegurar que o conhecimento e a experiência continuam a ser partilhados. Videoconferências regulares ajudam a manter o toque humano, essencial para o crescimento dos colaboradores.

2)Ferramentas de colaboração em tempo real: A utilização de ferramentas como Slack, Microsoft Teams ou Zoom deve ser maximizada para além da troca de mensagens. Estes espaços devem ser potenciados para promover discussões profundas e colaboração entre equipas. A criação de “canais de projeto” ou “espaços de discussão” pode ajudar a tornar as interações mais fluidas e espontâneas.

3)Feedback contínuo e estruturado: No ambiente híbrido, o feedback torna-se ainda mais essencial. Integrar o feedback nos fluxos de trabalho diários através de reuniões one-on-one e surveys anónimos permite que todos os colaboradores estejam alinhados com os objetivos da empresa e recebam o suporte necessário para o seu desenvolvimento.

4)Formação e desenvolvimento online: Para que o crescimento dos colaboradores não fique comprometido, é fundamental oferecer formações regulares e workshops virtuais. Estes podem abordar desde competências técnicas a competências interpessoais, como a comunicação em ambientes remotos. Adicionalmente, programas de formação contínua para líderes e gestores sobre como acompanhar e liderar equipas remotas ou híbridas são cruciais para manter a eficácia e o bem-estar das equipas.

5)Promover interações sociais e informais: Embora o trabalho remoto possa ser isolante, as empresas podem criar oportunidades para promover interações informais entre os colaboradores. “Cafés virtuais”, encontros sociais online e até mesmo eventos presenciais ocasionais ajudam a fortalecer os laços e a criar um sentido de pertença.

6)Garantir que a informação basilar da empresa está sempre disponível e atualizada:  a existência de um local que agrega toda a informação da empresa é indispensável, para assegurar que todos os colaboradores têm a mesma informação e a podem rever, assim como mecanismos de transferência de conhecimento para que quando existem saídas e/ou entradas de colaboradores a informação não é perdida.

O desafio do modelo híbrido não reside apenas na implementação de ferramentas tecnológicas, mas sim em como as organizações podem manter a proximidade, a coesão e o desenvolvimento contínuo dos seus colaboradores. A chave para o sucesso está em adotar uma abordagem holística, que reconheça a importância da comunicação aberta, do feedback estruturado e do investimento contínuo no desenvolvimento humano.

Na Enlitia, estamos a criar um futuro onde o trabalho híbrido não é visto como um obstáculo, mas como uma oportunidade para crescer, inovar e fortalecer os laços dentro da organização. Ao garantir que os processos de mentoria, feedback e formação permanecem intactos, estamos a preparar-nos para um ambiente de trabalho mais ágil e resiliente, capaz de enfrentar os desafios da era digital e, simultaneamente, promover o desenvolvimento do nosso talento.

 

Comentários

Artigos Relacionados