Opinião

Segurança e Saúde no Trabalho – o papel dos gestores de pessoas

Emília Roseiro, diretora de recursos humanos da Bel para a Europa do Sul e Turquia

Quando me desafiaram a escrever sobre o dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho, pensei que a existência deste dia mostra que há muito para fazer no mundo para prevenir acidentes e doenças no trabalho. E que a realidade em muitas empresas é hoje muito distinta dessa, com papel estruturante e valorizado na sociedade.

Gostaria de falar do papel dos gestores de pessoas, para além do cumprimento da lei. Cuidar da Segurança e Saúde dos colaboradores nas suas múltiplas dimensões contribui, adicionalmente, para o aumento do nível de compromisso e entrega das pessoas.

Segurança “física”

É dever das empresas criar condições seguras para os seus trabalhadores, dar formação e ser vigilantes em relação ao cumprimento das normas. Mas o mais importante é educar para ações seguras, evitando acidentes devido a falta de atenção. Contrariar a tendência para o facilitismo e mostrar as consequências que uma ação mal pensada pode ter. O que nos leva ao ponto seguinte.

Cultura de segurança

A cultura de segurança é um conjunto de valores, atitudes, e práticas partilhadas dentro de uma organização, que afetam a forma como se lida com a segurança no ambiente de trabalho. É o compromisso, tanto individual quanto coletivo, de promover e manter a segurança, protegendo as pessoas.

É necessário trabalhar em várias dimensões: compromisso da direção e de todos os líderes de equipa; formação contínua para todos; comunicação aberta e transparente, incentivando os colaboradores a reportar incidentes e riscos sem medo de represálias; avaliação e monitorização de riscos, com vista à sua mitigação; ter políticas claras e ser consequente quando não são cumpridas; empoderar os colaboradores, incentivando à responsabilização pessoal e coletiva; feedback e melhoria contínua.

Na Bel, promovemos formação contínua e comunicação aberta para fortalecer a cultura de segurança. Temos um objetivo de +10.000h de formação em segurança e planos alinhados com riscos da função, por exemplo, condução defensiva para delegados comerciais. Promovemos anualmente uma semana dedicada à segurança, newsletters mensais, publicação dos resultados (segurança, ergonomia, bem-estar), entre outros.

Segurança psicológica

A segurança psicológica refere-se à sensação de ser capaz de falar, correr riscos e cometer erros sem medo de consequências negativas. De acordo com Dr. Timothy Clark, a segurança psicológica tem 4 estágios:

  • Inclusão: os colaboradores sentem-se aceites e respeitados, independentemente das diferenças individuais. É seguro para manifestar opinião e participar.
  • Aprendizagem: os colaboradores sentem-se seguros para aprender, fazer perguntas e errar sem medo de consequências. Há um ambiente seguro para a aprendizagem e crescimento. Encoraja-se experimentar e assumir riscos.
  • Contribuição: os colaboradores sentem-se seguros para contribuir com ideias e sugestões. Incentiva-se a responsabilidade e autonomia.
  • Desafio: os colaboradores sentem-se seguros para desafiar o status quo e propor novas ideias e abordagens; é seguro desafiar e manifestar opinião diferente. Encoraja-se o pensamento crítico e desafiar o status quo.

Refletir sobre o estágio em que se encontra a nossa organização, e promover ações que aumentem a segurança psicológica é um dos papéis dos líderes.

 Bem-estar

Os programas de bem-estar são uma prática muito difundida atualmente, e uma mais-valia para os colaboradores e para as empresas, na medida em que beneficiam a ambos: bem-estar e nível de compromisso.

Na Bel, o programa de bem-estar está baseado em 4 pilares: nutrição – é parte da nossa missão, enquanto empresa alimentar; atividade física, incentivando e promovendo atividades coletivas; promoção da saúde, nomeadamente sobre o tema do sono e dependências; bem-estar psicológico, dando visibilidade e reduzindo os complexos associados a esta matéria, disponibilizando apoio individual e múltiplas sessões coletivas.

Gestão de crise

Mesmo investindo na prevenção, criação de condições e promovendo uma cultura de segurança, pode haver um momento em que algo corre mal. Nestas situações é preciso conseguir agir rapidamente no apoio às vítimas, mas também, dependendo da gravidade, o apoio à família (garantindo que não faltam recursos e disponibilizando apoio psicológico) e à equipa ou restantes colaboradores. As lideranças têm de ser treinadas para situações de crise. A preparação é chave.

Espero que esta reflexão tenha sido útil, e que em breve o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho sirva para celebrar as conquistas em vez de alertar para as lacunas – isso dirá que vivemos num mundo melhor, em que todas as empresas têm uma forte cultura de segurança, em que todos cuidam de si e dos outros.

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