Entrevista/ “Em 2018 temos prevista a abertura de dois LACS”
Tem data de lançamento oficial marcada para 8 de junho e promete ser o maior cluster criativo da capital. É assim que João Lopes Raimundo, um dos sócios do LACS, apresenta o projeto. Em entrevista, o empresário que esteve ligado ao Montepio fala-nos dos objetivos para este espaço que tem vista para o Tejo.
Enquanto membro do Conselho de Administração Executivo da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) esteve sempre ligado a projetos que visavam reforçar a importância do empreendedorismo e da Economia Social para a CEMG. O Montepio SocialTech, o Acredita Portugal e o Acorde Maior no Village Undergroung são alguns deles.
Atualmente, e depois de deixar a administração da CEMG no início do ano, João Lopes Raimundo quer continuar o seu caminho a pensar nos empreendedores. Com mais três sócios, criou o Lisbon Art Center & Studios (LACS), um cluster criativo ligado à arte, cultura e inovação num edifício antigo da cidade que conta com um parceiro de peso: o Rock in Rio.
Como é que surgiu o LACS?
Surgiu através de um amigo meu que já estava envolvido no projeto, numa fase ainda muito preliminar em que a negociação pretendia prever uma vertente cultural. Este meu amigo, sabendo do meu interesse enquanto colecionador de arte e pelos contactos que tenho, achou que era interessante eu poder estar envolvido. Por outro lado, ele é arquiteto e não tem grandes conhecimentos da área financeira e pretendia o meu apoio na área do planeamento mais financeiro, bussiness plan, etc.. Depois naturalmente as coisas desenvolveram-se.
Há quanto tempo este projeto começou a ser delineado?
Há cerca de dois anos e meio, três anos, mas era algo que eu fazia muito informalmente e só nos tempos livres. A partir do momento em que saí do Montepio comecei a dedicar-me com mais afinco a este projeto.
Quem esteve na sua origem?
Estou eu e mais duas pessoas, o Miguel Chito Rodrigues que é o engenheiro, o Gustavo Brito que é o arquiteto. Depois numa fase mais final, em que eu estava no Montepio e precisava de ajuda no contato com os bancos – e não o podia fazer -, pedi ao Filipe Botton se me queria ajudar neste projeto e foi assim que surgiu o quarto sócio que é o Filipe.
Isto não é cowork. Podemos ter aqui espaço de coworking, mas o que queremos ter aqui são estúdios.
O que distingue o LACS dos outros espaços de cowork em Lisboa?
Primeiro, isto não é cowork. Podemos ter aqui espaço de coworking, mas o que queremos ter aqui são estúdios. Queremos criar uma comunidade viva, por um lado, mais ligada às indústrias criativas e, por outro lado, toda a programação que existe quer ao nível da arte quer da programação interna desta comunidade. É isto o que nos distingue dos outros. Temos como assinatura “Comunitivity of creaters”, que é comunicação e é comunidade e é conectividade. Ao fim e ao cabo, há aqui uma dimensão muito importante: permitir que estas pessoas todas possam polinizar das ideias uns aos outros. É isso que se pretende com as Talks que existem permanentemente neste espaço. Não é de todo um cowork. O LACS contempla espaços de coworking, salas de reuniões, studios privados, ateliers, uma galeria de arte, um bar lounge, uma livraria, uma área de eventos e um rooftop.
De que forma a sua formação – curso de Arte Contemporânea no MoMa, em Nova Iorque – influenciou esta aposta?
Indiretamente. Sempre me interessei pelo tema de colecionar, por arte contemporânea. Todos os contatos que fui fazendo neste mundo ajudaram-me a perceber com as minhas novas funções a importância de ser criar uma certa programação. Eu não sou curador, sou meramente um entusiasta das artes e apoio-me em quem tenho de me apoiar, em curadores distintos, em projetos que já existem e noutros que possam ser criados. Aqui, no LACS, a grande vantagem é que há uma certa equidistância, ou seja, não estou associado a nenhum interesse particular no domínio das artes. Não sou galerista, embora tenha uma galeria, e não quero comercializar arte, quero sim difundir arte. Não vendemos, queremos dar a oportunidade a artistas de exporem aqui e de darem a conhecer o seu trabalho.
O que eu gostava mesmo era que as pessoas que cá estão recomendem, gostem e se sintam bem. Que possam dizer: “estou no melhor sítio do mundo para trabalhar” …
Quais as suas expetativas para este projeto?
O que eu gostava mesmo era que as pessoas que cá estão recomendem, gostem e se sintam bem. Que possam dizer: “estou no melhor sítio do mundo para trabalhar” em termos de ambiente de trabalho, de localização das facilities, de apoio, do que quer precisem. E que também se divirtam.
Quais as iniciativas que estão previstas para o LACS?
Temos previstas a realização de talks… Regularmente já organizamos talks que são uma espécie de partilha de experiências, uma oportunidade para as pessoas poderem não só apresentar os seus projetos, mas também para obterem fedback de quem está nesta comunidade. É sempre útil ver perspetivas novas e diferentes. As talks funcionam muito bem para quem apresenta e para quem ouve. E cria, ao fim e ao cabo, o cimento da relação que se pretende entre esta comunidade.
Quais são os custos para estar aqui?
Depende muito da solução. Há baratíssimos. Por 70 euros pode estar aqui, num espaço destes. Depois pode-se alugar uma sala de reuniões por cerca de 20 euros à hora.. O tema é mais o espírito do que o preço. Nesse aspeto somos muito competitivos. Neste momento temos 90% do espaço ocupado e recusamos em determinadas situações, ou porque são grandes de mais ou porque não estão diretamente ligadas a indústrias criativas. A nossa capacidade é de 600 pessoas.
Como carateriza as empresas que já estão aqui instaladas?
Pela sua diversidade. Acho que há um denominador comum que tem a ver com o tema da inovação e da criatividade, e com o querer fazer mais e melhor. Outro denominador comum tem a ver com a importância que atribuem à partilha de experiências e de conhecimento, e o de querer trabalhar em rede. Depois, como em tudo, na diversidade está a riqueza. Somos todos diferentes. São empresas todas diferentes, para além de traços ou padrões similares, de objetivos ou interesses mais ou menos comuns.
Podemos dizer que o Rock in Rio e a EDP são grandes empresas que estão aqui instaladas?
Não. O Rock in Rio assumiu-se mais como parceiro logo desde início. A EDP inovação surgiu naturalmente, também temos cá a EDP Tecnologia, a Mycujo e muitas outras .É um leque muito variado de empresas.
Isto é uma concessão da APL, é um edifício público, e creio que vão ficar bastante satisfeitos quando virem que este edifício, abandonado há mais de 20 anos, recebeu um investimento da nossa parte.
Apesar de algumas empresas estarem fisicamente instaladas, qual a previsão para ter o espaço completamente ocupado?
Fizemos um soft opening e agora a partir de junho é que contamos ter o espaço praticamente ocupado. No dia 8 de junho será a inauguração oficial, que contará com o Ministro da Economia. Provavelmente viram também vereadores da Câmara. Isto é uma concessão da APL, é um edifício público, e creio que vão ficar bastante satisfeitos quando virem que este edifício, abandonado há mais de 20 anos, recebeu um investimento da nossa parte. Havia muita gente que passava aqui a correr, de bicicleta e que de repente vê uma marca da cidade junto ao rio. É um edifício recriado, devolvido à cidade.
E o investimento?
Bem, o contrato prevê cerca de três milhões. É o que está previsto no contrato de concessão.
Falou há pouco de podemos ter vários LACS espalhadas pela cidade…
Pela cidade e não só. Noutras cidade inclusive. Mas dia 8 de junho vai haver novidades. Há um planeamento para começar pelo menos mais uma abertura por ano ou duas. Vamos ver. Em 2018 temos previstas duas e, em 2019, mais duas, eventualmente.
Como é que olha para o ecossistema empreendedor em Portugal?
Está cada vez mais vivo, mais diverso e cada vez mais internacional. Lisboa está na moda e sabemos que isso atrai empreendedores. Temos tido essa experiência de pequenas empresas que passam por aqui e dizem “estou sediado em Berlim, Madrid… mas se calhar vou deslocar parte da equipa para Lisboa para ver como é que as coisas funcionam”. É claro que obviamente tudo depende de ciclos económicos, mas creio que esta tendência está para ficar.
Continua ligado ao Montepio?
Não! Renunciei a todas as funções que desempenhava no Montepio.
No Montepio esteve envolvido em muitos projetos ligados ao ecossistema empreendedor. Acha que o banco vai continuar essa estratégia?
Isso vai depender da nova administração. O que eu tenho a certeza é que mesmo as iniciativas que aqui vamos ter, no LACS, vão estar ligadas a empreendedores e à economia social. Aquilo que eu sempre tentei, mesmo quando estava no Montepio, era criar uma nova abordagem da economia social, uma abordagem diferente daquela que era a mais habitual. Gosto da possibilidade de criar através da tecnologia, através de novas formas de apoiar a economia social, tendo em conta as possibilidades que existirem. Vou tentar que através do LACS e depois também através da minha vida pessoal continue esse caminho.
E vai continuar ligado aos projetos que criou dentro do Montepio?
Emocionalmente sim. Obviamente, o Montepio Acredita Portugal… , ainda recentemente falei com o Fernando Fraga sobre a matéria, vou continuar a acompanhar… No Village Underground fizemos uma coisa fabulosa com o Acorde Maior, com a Mariana Duarte Silva. Fui ao encerramento e gostei imenso de ver o que através do Montepio se conseguiu fazer com aquelas crianças.