Se quer ser especialista em gestão observe como se gere um cruzeiro

Transportam milhares de clientes, têm uma tripulação na ordem dos 2 mil colaboradores e são um bom exemplo de uma gestão bem sucedida e com uma margem de erro necessariamente baixa. Os navios de cruzeiro podem ser uma boa escola de gestão.
Gerir um navio de cruzeiro é um desafio para qualquer líder, pelos números de envolve (milhares de clientes e de funcionários), e pela diversidade de públicos que abrange, confinados num espaço geográfico limitado, durante um determinado período de tempo. Criar a melhor experiência aos passageiros é uma meta que querem atingir, porque as avaliações que recebem – o número de gostos nas redes sociais ou de partilhas no “stories” do Instagram – são decisivas para que os futuros clientes façam as suas escolhas.
Nestas “cidades flutuantes”, para além da indiscutível importância da equipa, no caso a tripulação, há uma peça fundamental que deve coordenar, com toda a precisão, cada movimento da embarcação, a carga e os passageiros de forma a levá-los a bom porto no final da viagem: o capitão. E aqui entram as ferramentas de gestão, que em alto mar são uma história à parte, porque requerem procedimentos que não admitem margem de erro e soluções imediatas para crises e imprevistos.
Esta é pelo menos a visão do capitão da marinha mercante espanhola Julio Louro, que partilhou com o El País, a sua experiência neste domínio. Liderar uma tripulação é como fazer um exame diário. Envolve criar harmonia na diversidade, organizar equipas de trabalho, controlar diários e registos de navegação. Estas são algumas das muitas tarefas de um capitão, a somar à mais importante de todas: supervisionar a segurança a bordo. “Somos mais que um alto executivo ou um presidente. No mar, um capitão de um barco é tudo isso e ainda mais”, acrescentou.
Durante a semana que, em média, dura um cruzeiro, cada movimento da tripulação está alinhado com a estratégia desenhada pelo responsável máximo a bordo, o capitão, a quem cabe sempre a última palavra.Tem o apoio do armador para implementar as suas decisões e para assegurar o êxito daquele empreendimento. Coordena uma tripulação que pode ir dos 600 aos 2.200 membros, dependendo do tamanho do navio, o que não uma tarefa simples. “Depende muito do estilo de comando do capitão. Na minha carreira, sempre optei pela equipa. Mas há quem exerça uma liderança autocrática. Daí vem a famosa solidão, tão comentada nesta profissão”, sublinhou Julio Louro.
Os barcos, vistos como empresas flutuantes, com uma força de trabalho sujeita diversificada e na maioria das vezes multicultural, estruturam-se em três departamentos: ponte ou convés (capitão, oficiais, contramestre e marinheiros), máquinas (chefe, oficiais de máquinas, mecânicos, entre outros) e pousada ou hotel (maîtres, cozinheiros, chefes de sala, serviço de quartos, animadores, etc…) e é função do capitão procurar manter um excelente ambiente laboral. “São empresas em que o companheirismo, a comunicação, a flexibilidade, a confiança e o trabalho em equipa têm de funcionar na perfeição porque temos uma responsabilidade enorme para com o passageiro”, explicou ao El País.
A navegação com tudo a funcionar é uma conquista permanente, se consideramos que a maioria dos oficiais, contramestres e marinheiros provêm de culturas distintas. O profissionalismo, a disciplina e o respeito são pilares fundamentais para estas funções, até porque a reputação de cada tripulante é decisiva dentro das companhias que integram este setor onde, tradicionalmente, existe uma oferta de emprego interessante e com salários elevados.
O setor dos cruzeiros cresce com uma previsão de mais de 30 milhões de passageiros no ano de 2019 a nível mundial, de acordo com a Cruise Lines International Association. Um número que será repartido, na sua maioria, entre as cinco companhias que cobrem 90% deste mercado que move 134.000 milhões de dólares em todo o mundo, gera 1,1 milhões de empregos e 45.000 milhões de dólares em salários.
A par disso, e a crer na experiência de quem já passou por este universo empresarial, a atividade dentro de um navio cruzeiro apresenta-se com uma boa “escola” de gestão, pelos ensinamentos que dali se podem retirar para a gestão empresarial.