Opinião

Risco? Não queremos: um dos lemas da União Europeia!!!

Franquelim Alves, Managing Partner da SIGISFIN

As regras que, regularmente, Bruxelas e a Comissão Europeia emitem, inventam e propalam são um dos factores mais perniciosos à competitividade da economia europeia e à promoção da capacidade criativa das nossas economias.

Não é por acaso que Mario Draghi, em declarações subsequentes à publicação do tão falado Relatório Draghi (falado que não aplicado nas suas conclusões) afirmava que as tarifas internas na UE, resultantes das regras e regulamentos impostos às empresas e cidadãos eram bem mais perniciosas que as tarifas de Trump. Referia ele que as barreiras internas na União Europeia estão estimadas num equivalente de tarifas de 45% nos bens da indústria transformadora e em 110% na área dos serviços [1]

É por isso que, por mais dinheiro que se despeje nas economias e nos países o resultado final é sempre materializado em míseras décimas percentuais de crescimento económico.

A União Europeia investe em II&D  em % do PIB tanto como os EUA ou o Japão mas não consegue apresentar produtos ou serviços inovadores que conquistem quota de mercado aos seus concorrentes.

Na génese desta situação de facto está, a meu ver, uma dominante aversão ao risco por parte das burocracias que, em Bruxelas, e na maioria dos países da UE (excluindo os países do centro e de Lesta da antiga URSS). A vertigem de ter tudo regulado e predeterminado não fica a dever nada às tentações de planificação dos regimes socialistas e soviéticos que resultaram num fracasso económico de proporções bíblicas.

Um exemplo gritante desta postura é o chamado princípio DNSH (do no significant harm). O site do IAPMEI descreve esta princípio da seguinte forma:

“O princípio de ‘não prejudicar significativamente’ o ambiente, vulgarmente conhecido por DNSH (a sigla inglesa para ‘Do No Significant Harm’), é um dos critérios que deve ser acautelado para que uma atividade económica seja considerada ambientalmente sustentável, à luz da Taxonomia Verde europeia, e simultaneamente uma condição para o acesso a fundos europeus.”

Eu diria que, se aquando da Revolução Industrial a Europa tivesse adoptada tamanha normativa ainda andaríamos todos em cima de um burro ou de um cavalo como meio de transporte inda que tal também ferisse em absoluta a “doutrina”. Em suma, e sem grande exagero, não passariamos da idade das cavernas…..

Infelizmente é por isto que, em minha opinião, a União Europeia pode queimar euros à tripa forra, ponto em causa o equilíbrio futuro das contas dos países europeus, sem que isso faça minimamente mexer o ponteiro do crescimento da nossa competitividade. Continuaremos reféns de políticas anti- risco enquanto os outros blocos incentivam, em todas as dimensões, a criatividade e a competitividade.

Assim, ficaremos cada vez mais para trás como o atesta já o gaap entre o PIB USA e o PIB UE [2].

[1]  “Europe is already sabotaging its own economy far more than U.S. tariffs could, former ECB president says”, by Jason Ma, Fortune on line 16 Fevereiro de 2025

[2] “According to the World Bank, in the period 2008-2023, EU GDP grew by 13.5% (from $16.37 trillion to $18.59 trillion) while U.S. GDP rose by 87% (from $14.77 to $27.72 trillion). The UK’s GDP increased by 15.4%. In 2023, EU GDP was 67% of U.S. GDP — down from 110% in 2008.” – in Econofact Gabriel deLuca Vinocur, April 4 2025

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Franquelim Alves

Franquelim Alves

Franquelim Alves é managing partner da SIGISFIN (ex-New Finance, Lda.). Anteriormente, foi diretor-geral da 3anglecapital, sociedade especializada em operações de M&A e serviços de “advisory” financeiro. Licenciado em economia, pelo ISEG, detém um MBA em Finanças pela Universidade Católica Portuguesa e o Advanced Management Program da Wharton School of Philadelphia. Desempenhou funções de administração financeira no Grupo Lusomundo e no Grupo Jerónimo Martins. Iniciou a sua carreira na Ernst & Young, onde desempenhou funções de Sócio responsável pela área de... Ler Mais..

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