Opinião
Resoluções ou ilusões?

“So this is Christmas. And what have you done? Another year over. And a new one just begun”. Assim começa uma das minhas músicas favoritas de Natal, “So this is Christmas”, de John Lennon.
Dezembro é um mês de balanços. Uma oportunidade para pensar no ano que passou, nos momentos bons e menos bons. É também a altura em que pensamos no que ficou por fazer e no que queremos pôr em prática no ano seguinte. Já faz parte da tradição fazer esta reflexão. Muitos de nós iniciam uma odisseia de análises, de planeamento. Vemos de tudo, os mais tradicionais que gostam de escrever num diário em papel, os que preferem as utilidades do excel e os mais digitais que até têm apps para fazer a monitorização dos objetivos definidos.
Analisamos ao detalhe o ano que passou, chicoteamo-nos pelos objetivos que não cumprimos, pelos desejos não realizados, aplaudimos pelos feitos conseguidos e prometemos a nós próprios que para o ano é que é…definimos a lista dos objetivos para o próximo ano e aí vamos nós cheios de sonhos e ilusões comer as 12 passas à meia-noite. Durante momentos o nosso nível de confiança é tão alto que nem um tsunami nos impediria de cumprir as nossas resoluções.
Entramos em janeiro cheios de vontade para cumprir o que tínhamos definido, mas depois acontece algo…e o que é que acontece? Acontece o dia a dia, a rotina, o comodismo e começamos a adiar… aquilo que nos pareciam ser questões fundamentais para a nossa felicidade começam a ser minimizadas e tudo o que era urgente deixa de ser.
São as visitas aos familiares e amigos que vão ficando para a semana seguinte.
É o ginásio que deixamos para quando estiver melhor tempo…porquê ir agora se está frio, se está chuva se nem tenho de mostrar o corpo debaixo deste edredão de roupa. Quando chegar ao verão trato do assunto!
É a dieta que deixamos para quando passarem as festividades…porque vem o Dia de Reis, depois já estamos a meio de janeiro e começar dietas a meio do mês não dá, deixamos para fevereiro, mas em fevereiro há o carnaval…o melhor mesmo é começar em março…ah, mas agora é a Páscoa…e assim de repente chegamos novamente ao Natal.
É a mudança de emprego que vai sendo adiada, porque agora estamos em crise, porque as taxas de juro subiram, porque as empresas estão a despedir e apesar de não gostar do que faço pagam-me no fim do mês e haverá uma melhor altura para a mudança.
E tantas outras que se perdem…as resoluções de Ano Novo são como os foguetes atirados à meia-noite…o momento da excitação e ansiedade quando estão a subir, o brilho da felicidade quando rebentam no céu, um momento de magia e êxtase. Logo depois apagam, caem no chão e por ali ficam esquecidos…
Uma vez assisti a uma conferência de um palestrante brasileiro que dizia em tom de brincadeira, mas a falar a sério, que temos muita iniciativa, mas pouca “acabativa”. Esta frase nunca mais me saiu da cabeça e quando chega a esta altura do ano lembro-me sempre dela. Somos excelentes a iniciar, mas péssimos a acabar!
Cada vez mais acredito que este balanço, esta lista de resoluções deve ser feita ao longo do ano. Só o facto de estarmos à espera do fim do ano para o fazer já é um adiar.
Charlie Chaplin disse: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”. E é isto, não devemos adiar.
Eu sei que não é fácil mudar hábitos, é muito mais fácil deixarmo-nos ficar e muitas vezes acabamos por ficar acomodados no desconfortável porque nos é familiar e sabemos com o que podemos contar. Mas a verdade é que o maior risco na vida é não correr riscos!
Segundo um estudo da Universidade de Scranton, na Pensilvânia (Estados Unidos), compilado pela consultoria Statistic Brain, apenas 8% das pessoas que fizeram uma resolução de Ano Novo conseguiram cumprir os seus objetivos.
Não vale de nada fazer uma lista de resoluções se não conseguirmos cumpri-las. Por isso seja em dezembro, ou qualquer outro mês, o importante é definir os objetivos e a seguir tirá-los do papel ou do computador. Quantidade não é qualidade: mais vale ter menos objetivos, mas realistas, do que uma lista demasiado ambiciosa que vai ficar esquecida.
Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um de nós pode a qualquer momento começar a fazer um novo fim!
Vejo muitos artigos com sugestões de listas de resoluções como se de uma receita culinária se tratasse e todos pudessem usar os mesmos ingredientes e a mesma forma de os cozinhar. As resoluções são muito pessoais e cada um de nós fará a sua lista de acordo com o que sente que necessita.
Uma das coisas que aprendi é que uma pessoa rica não é a que tem mais, mas a que precisa menos. Para mim a resolução mais importante é passar mais tempo com as pessoas de quem gosto. Andamos sempre a desculpar-nos com a falta de tempo, mas a verdade é que o tempo é uma questão de escolha. Vivemos na ilusão de que não temos tempo para nada, mas a verdade é que ficaríamos surpreendidos com a nossa capacidade de “inventar” tempo, basta querer!
Com uma lista maior ou menor, o importante é que sejam as suas resoluções e que as ponha em prática. Não espere pelo Ano Novo para começar seja o que for, comece no momento em que acaba a frase. O amanhã depende sempre do hoje!
O objetivo é definir resoluções e não escrever ilusões!
Susana Duro tem mais de 20 anos de experiência no desenvolvimento e implementação de estratégias de marketing para marcas líderes de mercado e um sólido percurso profissional construído em empresas nacionais e multinacionais de referência dentro do mercado de FMCG.
É licenciada em Marketing e Publicidade pelo IADE, pós-graduada em Retail Management e em Direção Comercial no Indeg/Iscte e mestre em Marketing pela mesma instituição. Iniciou a sua carreira de marketing na Henkel Ibérica como gestora de produto, passando depois para brand manager na Dan Cake. Em 2004 entrou para a Nestlé onde esteve durante 11 anos. Aqui desempenhou a função de brand manager da categoria de Culinários, de trade marketing manager na categoria de chocolates e de head of trade marketing na categoria de Cereais de pequeno-almoço. Em 2017 entrou para a Coca Cola Europacific Partners como responsável pela equipa de Customer Development do Canal Alimentar. Em 2022 foi convidada para assumir a função de National Account manager ficando com a responsabilidade de várias contas no canal Horeca Organizado.